Uma denúncia feita pelo empresário Marcos Valério de Souza, em setembro do ano passado, pode fazer com que o ex-presidente Lula seja intimado a depor no processo do chamado "mensalão".

Em seu depoimento, tornado público em abril deste ano pelo Estado de S. Paulo, Valério teria revelado contas no exterior usadas para movimentar R$ 7 milhões transferidos pela Portugal Telecom, nova dona da Oi, para campanhas do PT. Tais contas pertenceriam aos publicitários Duda Mendonça e Nizan Guanaes, que fez a campanha de Jorge Bittar, no Rio de Janeiro. Entre as despesas pagas, haveria shows da dupla Zezé di Camargo & Luciano.

O caso voltou a ser abordado na revista Veja deste fim semana. Segundo reportagem de Rodrigo Rangel e Hugo Marques, o ex-ministro Antonio Palocci, que teria se envolvido nessa operação, segundo Valério, já teria até sido intimado a prestar depoimento. De acordo com Valério, Palocci cuidou para que os recursos fossem transferidos por fornecedores da Portugal Telecom, em Macau. Ele teria ainda citado uma doação da Usiminas.

Ainda de acordo com a reportagem, Lula também poderá ser intimado a depor. "Em breve, o próprio Lula deverá receber uma intimação para prestar esclarecimentos ao Ministério Público Eleitoral em Brasília, mas sobre outro episódio derivado das revelações de Marcos Valério: uma doação não declarada de 1 milhão de reais feita pela Usiminas também à campanha presidencial de 2002".

A reportagem de Veja não cita o publicitário Nizan Guanaes, apontado por Valério como beneficiário de parte das transferências da Portugal Telecom.

Leia, abaixo, reportagem de abril deste ano do 247, quando o caso eclodiu:

PROCURADORIA INVESTIGA LULA POR MENSALÃO

Procuradoria da República no Distrito Federal pediu, nesta sexta-feira, instauração de inquérito para apurar suposto envolvimento do ex-presidente Lula no esquema; investigação foi aberta a partir da acusação de que Lula negociou com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, o repasse de recursos de contas no exterior, em Macau, para o PT, que serviram para pagar, entre outros, o publicitário Nizan Guanaes e a dupla Zezé di Camargo & Luciano; acusações foram feitas em depoimento do empresário Marcos Valério ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel

6 de abril de 2013

247 - A Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF) pediu, nesta sexta-feira 5, instauração um inquérito para apurar suposto envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema do mensalão. O inquérito foi aberto para investigar a acusação de que Lula negociou com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, o repasse de recursos para o PT.

Os procuradores pediram à Policia Federal a abertura de inquérito para investigar acusações feitas ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pelo empresário Marcos Valério, operador do esquema, contra Lula e contra o ex-ministro Antonio Palocci. Essa é a primeira vez que será aberto inquérito para investigar se Lula atuou no mensalão.

Até então, a Procuradoria havia apenas instaurado seis procedimentos preliminares para analisar as acusações feitas por Valério. Ao analisar as acusações que envolveram a Portugal Telecom, os procuradores decidiram abrir inquérito para aprofundar as investigações. No depoimento de Valério, Lula e o então ministro da Fazenda Antonio Palocci se reuniram com Miguel Horta no Palácio do Planalto para combinar que uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, transferiria R$ 7 milhões para o PT.

Denúncia

Segundo Valério, esse dinheiro chegou ao Brasil por meio de contas bancárias de publicitários que prestaram serviços para campanhas eleitorais petistas. As negociações com a empresa portuguesa estariam por trás da viagem a Portugal feita em 2005 por Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino e o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri.

Valério diz ainda que o dinheiro foi usado para pagar a dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, além do publicitário Nizan Guanaes, em 2005. A dupla sertaneja atuou na campanha presidencial de Lula em 2002 e em campanhas petistas em 2004. Nesse mesmo ano, Nizan comandou a campanha derrotada de Jorge Bittar (PT) à prefeitura do Rio. Procurado pelo 247, Nizan afirmou que não se pronunciaria e que repassaria o caso para sua área jurídica.

Leia a nota em que a investigação foi anunciada:

O Ministério Público Federal no DF (MPF/DF) requereu à Polícia Federal a instauração de inquérito para apurar um dos fatos descritos pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza em depoimento prestado à Procuradoria Geral da República (PGR) em setembro de 2012. O teor específico desse relato já foi divulgado na imprensa. Nele, o empresário afirma que teria sido feito um repasse de US$ 7 milhões por parte de fornecedora da Portugal Telecom em Macau (China), ao Partido dos Trabalhadores (PT), por meio de contas bancárias no exterior.