Quem nunca sentiu o coração acelerar e pensou no pior? A dor no peito é campeã de atendimentos na emergência, mas nem sempre tem origem no coração. Um estudo publicado na revista Academic Emergency Medicine encontrou algo que muda a conversa: em casos considerados de baixo risco, a ansiedade aparece como protagonista e, muitas vezes, anda de mãos dadas com outros transtornos que podem e devem ser tratados.
O que o estudo mostrou
Os pesquisadores acompanharam 375 pacientes que procuraram a emergência por dor torácica de baixo risco. O achado que chama atenção é direto: 42 por cento tinham ansiedade grave. Além disso, uma parcela importante apresentava comorbidades psicológicas tratáveis, como depressão, somatização e transtorno do pânico, além de quadros ligados a baixa autoeficácia e estresse pós-traumático. Ou seja, não era só uma dor isolada. Era um conjunto de fatores pesando na vida dessas pessoas.
Identificar a ansiedade ali, na porta da emergência, muda o rumo do cuidado. Em vez de o paciente voltar para casa apenas com o alívio de que não é infarto, ele pode sair com encaminhamento ativo e plano de acompanhamento.
Quando o corpo grita o que a mente sente
Crises de ansiedade e pânico ativam a resposta de luta ou fuga do organismo. Isso despeja adrenalina e outros hormônios no sangue. Resultado prático: taquicardia, respiração rápida, tensão na parede do tórax, sensação de falta de ar e, claro, dor no peito. E sim, pode imitar com perfeição um quadro cardiológico, o que explica a corrida imediata ao pronto-atendimento.
Mas e o coração, onde entra?
Primeiro passo continua sendo o de sempre: descartar risco cardíaco com avaliação clínica, exames laboratoriais e eletrocardiograma. Segurança em primeiro lugar. Só depois de excluir causas graves é que a equipe considera a ansiedade como origem principal da dor. E aqui vem o pulo do gato: ferramentas padronizadas de triagem psicológica ainda são pouco usadas na sala de emergência. Incorporá-las ajuda a não perder diagnósticos e a direcionar o cuidado certo para quem precisa.
Sinais que ajudam a diferenciar
Ninguém está dizendo para se autodiagnosticar, combinado? Mas existem pistas clínicas que os profissionais observam:
- Formato da dor: dor em aperto ou pressão levanta a suspeita cardíaca. Dor em pontada, mais difusa e de localização vaga, aparece com mais frequência na ansiedade.
- Localização: dor cardíaca costuma ser retrosternal, atrás do osso do peito. A relacionada à ansiedade aparece mais no meio do tórax e pode migrar.
- Desencadeantes: esforço físico e estresse podem acionar dor cardíaca. Na ansiedade, o padrão é menos definido e pode surgir mesmo em repouso.
Episódios que se repetem
Outro dado que acende luz amarela: não é raro que a dor volte. Dois terços dos pacientes com dor de baixo risco e ansiedade relatam episódios semanais ou diários. Ou seja, garantir que não é o coração resolve o susto da hora, mas não encerra o problema. É preciso seguimento ambulatorial, psicoterapia e, quando indicado, medicação para tratar ansiedade e comorbidades associadas.
Tratamento certo, na hora certa
Direcionar o cuidado faz diferença. Abordagens como terapia cognitivo-comportamental, educação em saúde, técnicas de respiração e, se necessário, ansiolíticos e antidepressivos ajudam a quebrar o ciclo dor-medo-dor. E tem um detalhe importante a ser reforçado: ansiedade tem tratamento. Ela não precisa comandar a rotina nem roubar a qualidade de vida.
Na prática, o melhor cenário é o atendimento de emergência abrir a porta para um cuidado mais contínuo. Encaminhar para avaliação psicológica ou psiquiátrica, orientar sobre sinais de alerta e combinar o retorno com o clínico fecha o ciclo com segurança. A dor no peito pode ser o alarme. Tratar a ansiedade pode ser o antídoto.
FONTE: FATOS DESCONHECIDOS