Em entrevista exibida pela Crónica TV na noite de sexta-feira (17), Dalma Maradona, filha mais velha de Diego Maradona (1960-2020), fez um relato emocionante sobre o drama vivido pelo craque, que enfrentou a dependência química da cocaína. O depoimento integrou a abertura da terceira temporada do “Seres Libres” (seres livres, em português), programa que retrata histórias de sofrimento causado pelo vício.

Dalma, hoje com 35 anos, disse que não carrega mágoas pelo que viveu na infância, principalmente pelo esforço que o pai fazia para poupá-la de cenas pesadas. “Quando era criança e ouvia a palavra cocaína, ficava nervosa. Não sabia o que fazer, e agora o que mais quero é tê-la longe, na minha vida e na vida das pessoas que se relacionam comigo. Não me dá curiosidade prová-la. É a história da minha vida, eu o vi [Diego] sofrer e lutar contra isso, com todas as suas armas”, disse.

Ela disse que lembra mais de ouvir o pai falando sobre as drogas do que de vê-lo realmente alterado, e contou um momento emocionante: “Um caso que ele conta é que uma vez ele estava no banheiro, consumindo, e eu tinha três ou quatro anos, e fiquei batendo na porta até que ele deixasse tudo para sair e falar comigo. Ele me dizia: ‘você me salvava desta maneira'”.

 

“Sem saber o que ele estava fazendo, até que ele não falasse comigo ou não saía dali. Outra que lembro foi uma campanha contra as drogas, em que ele falava de quando começou a consumir e como era a sua vida com a droga. Eu era muito pequena, tinha seis ou sete anos, perguntei aos meus pais se eu podia ver a entrevista, minha mãe disse que não, que não era para mim, e meu pai disse que sim, que iria sair em todos os lugares, que ela poderia ler, e se era assim, eu poderia perfeitamente estar com ele ali”, relatou.

Dalma ainda disse mais: “Nunca estive em uma situação de dizer ‘putz, que feio’. Eu não tinha momentos feios com ele. Ele se cuidava demais para não prejudicar nem a mim e nem a minha irmã. Minha mãe também me cuidava. O que sim lembro era ver algum vídeo ou outro e perceber que ele não estava bem”.

“Eu o critiquei mais que o necessário, me dei conta fazendo a minha peça de teatro [“A Filha de Deus”]. Não me lembro de nenhuma vez que ele não foi a um aniversário meu, por exemplo. Ele me dizia: ‘Dalma é a que me acomoda, a que me xinga, ela me olha e sei que preciso estar bem’. Sinto muitas vezes que foi este meu papel com ele”, seguiu.

 

Dalma Maradona disse que sentiu que defendeu muito seu pai, mas que não vê isso como uma carga e o admira cada dia mais, sem aceitar que cheguem para criticá-lo. “Quando ele esteve internado e disseram que ele estava morto, eu tinha 15 anos e disse que era mentira. Aí assumi um papel e disse a ele que Gianinna [irmã mais nova] precisava dele”, continuou.

O apresentador da atração, Gastón Pauls, disse que o craque argentino o ajudou durante uma recaída e eles lembraram de quando Diego foi ao psicólogo e seus diálogos foram todos publicados. “A partir daí, muitas vezes lhe custava pedir ajuda, a ajuda que ele precisava. Às vezes minha mãe conseguia ajudá-lo, às vezes não. Ele não tinha um lugar seguro onde pudesse falar sem que ninguém soubesse”, lamentou ela.

“Quando decidi fazer terapia, ele me explicou o que tinha acontecido com ele, dizendo que, mesmo assim, ele me acompanharia. Via meu pai como uma criança. Já grande, quando aparecia uma bola, a cara dele se iluminava. Nem em um garoto vi nada igual. Uma criança eterna. Ele sempre quis proteger essa criança.”

 

Por fim, Dalma disse que não trocaria de pai caso tivesse a chance e finalizou com uma declaração emocionante: “Nunca trocaria de pai, mesmo com tudo o que me implicou ser sua filha. Não acho que ele mudaria alguma coisa em ser quem foi, as coisas que aconteceram, inclusive a droga, sabendo que pode se sair, com muito amor e esforço, de verdade, eu o vi lutar com tudo o que tinha”.

“Se há uma criança de seis, sete, oito anos, batendo na porta de um banheiro, com seu pai aí dentro, eu diria a ela: ‘Fique aí e bata na porta porque isso que você está fazendo serve para ajudá-lo, para melhorá-lo. Se você pode ajudar a outra pessoa, faça isso, como tentei fazer”, concluiu.

Diego Maradona começou sua luta contra as drogas em 1982, em um ciclo que foi finalizado em 2004, segundo seu relato. O ídolo do futebol argentino morreu em novembro de 2020, após sofrer uma parada cardiorrespiratória, menos de um mês após completar 60 anos.