A empresa americana Packers Sanitation Services, que presta serviço de limpeza terceirizado para as fábricas da brasileira JBS nos Estados Unidos, foi multada em US$ 1,5 milhão pelo uso de mão de obra infantil imigrante.

A descoberta é do jornal The New York Times, que investigou a chamada "nova economia de exploração", que desrespeita a legislação americana de quase um século sobre trabalho infantil, usando a força de trabalho de crianças migrantes da América Latina e, principalmente, da Guatemala -- dados federais analisados pelo NYT mostraram que cerca de metade dos explorados são crianças guatemaltecas. 

"Esses trabalhadores fazem parte de uma nova economia de exploração: crianças migrantes, que vêm para os Estados Unidos sem seus pais em números recordes, estão acabando em alguns dos empregos mais punitivos do país, descobriu uma investigação do New York Times. Essa força de trabalho paralela se estende por setores em todos os estados, desrespeitando as leis de trabalho infantil que estão em vigor há quase um século", afirma o jornal.

A lei federal nos EUA proíbe os menores de uma longa lista de trabalhos perigosos, incluindo processamento de carne. Exceto nas fazendas, menores de 16 anos não devem trabalhar por mais de 3 horas ou depois das 19h em dias de aula.

A cidade de Worthington, no estado do Minnesota, onde está localizado um matadouro administrado pela JBS -- chamada pelo jornal de "a maior processadora de carne do mundo", recebeu mais crianças migrantes desacompanhadas per capita do que quase qualquer outro lugar dos EUA.

Inspetores do trabalho encontraram 22 crianças trabalhando para a Packers Sanitation Services, contratada para limpar a fábrica da JBS em Worthington. Todas elas falavam espanhol. O Departamento do Trabalho, que só pode emitir multas, penalizou a empresa em US$ 1,5 milhão.

A JBS afirmou, para o New York Times, que "não sabia que crianças trabalhavam na limpeza da fábrica de Worthington todas as noites".

Procurada pelo SBT News, a JBS informou que, ao ser informada do que estava acontecendo em suas fábricas, cancelou o contrato com a empresa terceirizada -- a Packers Sanitation Services -- e "contratou uma auditoria independente em todas as suas instalações para avaliar minuciosamente essa situação".

 

Crianças desacompanhadas: o alvo do trabalho infantil

Em 2022, o número de menores que entraram sozinhos nos Estados Unidos subiu para 130 mil, número três vezes maior do que o registrado em 2017.

O governo dos Estados Unidos sabe da entrada dessas crianças no país, e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS em inglês) é responsável por garantir que "patrocinadores" apoiem e protejam esses menores de exploração ou tráfico.

Segundo o periódico, a Casa Branca tem exigido que os funcionários de abrigos acelerem a retirada das crianças dos locais, liberando-as para os adultos. 

"Os assistentes sociais dizem que se apressam em verificar os patrocinadores. Enquanto o HHS verifica todos os menores ligando para eles um mês depois de começarem a morar com seus patrocinadores, dados obtidos pelo The Times mostraram que, nos últimos dois anos, a agência não conseguiu atingir mais de 85.000 crianças. No geral, a agência perdeu contato imediato com um terço das crianças migrantes", informa o NYT.

Além da JBS, empresas como PepsiCo, Ford, General Motors e Walmart também estão envolvidas com trabalho infantil em suas cadeias de produção.