A luta contra o preconceito é diária na vida de Max Souza. Casado com Edgar Souza (PSDB), prefeito de Lins (SP) e primeiro político com esse cargo a se assumir homossexual, ele se tornou recentemente o primeiro negro a vencer uma etapa do Mister Brasil na mesma cidade. A exposição e o sucesso incomodaram os mais retrógrados nas redes sociais.

 

"Geralmente, não sou muito de ler os comentários nas redes sociais", diz Max. "Mas acabei me deparando com um deles, que era muito ofensivo, falando que eu era "viadinho" e dizendo "volta para a senzala"", completou, referindo-se as ofensas recebidas enquanto comemorava a sua vitória na internet. Ele irá processar o autor das ofensas.

 

Para se tornar o "homem mais bonito do Brasil", Max ainda precisa vencer as etapas estaduais e nacionais do concurso. E ele sonha alto. Para o modelo, que gosta de se descrever como ativista, a conquista seria simbólica: "Seria uma grande vitória não só pessoal, mas para a comunidade negra". Confira o nosso papo com ele:

 

GQ: Max, quais foram as ofensas que você recebeu nas redes sociais? Você acha que o seu sucesso incomoda?

 

Geralmente, não sou muito de ler os comentários nas redes sociais. Mas acabei me deparando com um deles, que era muito ofensivo, falando que eu era "viadinho" e dizendo "volta para a senzala". Decidi processar. Isso é inadmissível. Mas, como fala o meu companheiro, melhor guardar apenas o que de bom falam.

 

GQ: Você acha que o seu sucesso incomoda?

 

Não sei se incomodo as pessoas, mas com certeza chamo atenção. A partir do momento em que você aparece na mídia, está sujeito a julgamentos. Você só precisa lidar com tudo isso. Costumo apagar comentários ofensivos.

 

GQ: Seu marido, Edgar Souza, é prefeito da cidade de Lins (SP). Ele já sofreu preconceito parecido? A posição política impede que vocês tenham uma vida pública normal de um casal?

 

Já sofreu, sim. Quando se liga os dois assuntos, política e paixões, a questão da orientação sexual vira material farto para ataques homofóbicos nas redes sociais. Ele faz um governo que cuida dos mais pobres e aqueles que não gostam disso sempre apelam para o preconceito para atacá-lo. Mas o Edgar tem clareza do seu papel e não se intimida.

 

GQ: A posição política impede que vocês tenham uma vida pública normal de um casal?

 

Há, sim, alguma restrição. No ambiente que vivemos. algumas pessoas se esquecem que políticos são pessoas normais, que também têm suas necessidades de descanso, de estar com a família, etc. Por isso acabamos publicando poucas coisas de nossa vida. Porém, sempre que posso estou com eles em eventos e somos muito bem tratados por todos.

 

GQ: Você chegou a desabafar, dizendo "existem gays racistas". Como você percebeu isso?

 

Existem. Em todos os grupos, existem. Quando você ouve dessas pessoas que a sua luta (contra o racismo) é mimimi, percebe que isso é perigoso.

 

GQ: Como o ativismo é presente na sua vida? Qual é a forma que você escolheu para lutar contra o racismo e a homofobia?

 

É uma luta diária! Sempre falo que não podemos nos calar! Quando acontece o preconceito, é chato, você tem que parar, pensar e não rebater com o mesmo tom agressivo. Estamos passando por um momento delicado em relação a esses assuntos. Temos que ser moderados e tentar o diálogo sempre.

 

GQ: Max, ser negro e gay num país preconceituoso como o Brasil é certamente difícil. Para você, que sofre discriminação dupla, qual seria o significado da vitória no Mister Brasil?

 

Seria uma grande vitória! Não só pessoal, mas para a comunidade negra. Sempre falo que as vezes é até “engraçado” isso ser uma grande notícia. Mas essa é a ainda a nossa realidade. A luta não deve parar. Temos que usar as ferramentas que temos a favor das coisas boas que acreditamos. Isso muda uma sociedade e torna o mundo mais justo.