Artigo foi publicado nesta quarta-feira (7) por pesquisadores brasileiros na revista científica Royal Society Open Science. Melhoria seria feita com técnicas já usadas por pecuaristas, gerando 17,7 milhões cabeças de gado a mais no país, 1,5 vezes o tamanho do rebanho do Uruguai.

A recuperação de pastagens degradadas com técnicas já existentes poderia aumentar em 9,7% o rebanho bovino brasileiro, mostra um estudo de pesquisadores brasileiros publicado nesta quarta-feira (7), na revista científica Royal Society Open Science.

Essa alta representaria 17,7 milhões cabeças de gado a mais no país, 1,5 vezes o tamanho do rebanho do Uruguai. O efetivo nacional é de 214,7 milhões de cabeças, segundo últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo considerou os 12 milhões de hectares de pastagens degradadas reconhecidas pelo Censo Agropecuário nacional, onde os próprios pecuaristas fazem a declaração, explica Rafael Barbieri, economista sênior do World Resource Institute (WRI) Brasil, um dos autores do estudo, ao lado de José Gustavo Feres, do Ipea.

Porém, ele afirma que esse número é bem maior, entre 80 milhões e 100 milhões hectares, de acordo com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG). O potencial de recuperação, portanto, pode ser bem maior também.

 

Outra estimativa

 

Os autores fizeram também um outro cálculo considerando o cumprimento das regras do Código Florestal. Nesse cenário, as pastagens nativas usadas na pecuária seriam destinadas à regeneração natural, para cobrir o déficit de Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reservas Legais.

Se, ainda assim, o déficit não fosse zerado, as pastagens degradadas poderiam ser usadas. "E sobraria ainda uma boa área de pastagem para recuperar, que seria, então, destinada à produção agropecuária", diz Barbieri.

Nesse caso, o rebanho bovino cresceria em 9 milhões de cabeças (ou 4,9% do rebanho atual) e ainda garantiria 12,7 milhões de hectares para restauração, mais do que suficiente para cobrir as metas brasileiras de restauração assumidas no Acordo de Paris.

 

Técnicas simples

 

O diferencial deste estudo, segundo Barbieri, é que ele considera que a regeneração de pastagens pode ser feita com técnicas simples, levando em conta as restrições orçamentárias dos produtores, as boas práticas regionais de taxa de lotação de pastagens e investimentos já existentes.

 

"Não são sistemas sofisticados, mas coisas simples, que a Embrapa já fala há 40 anos, como terraceamento, curva de nível, ressemeadura de pastagem para cobrir as áreas que ficam com solo exposto", reforça.

 

Para chegar a esses resultados, os estudo também propõe:

 

  • Fortalecer o Plano ABC, realocando recursos hoje destinados a pastagens, mas que não condicionam a aplicação em manejo adequado;
  • Priorizar a aplicação desses recursos em regiões com alto potencial produtivo, mas alta concentração de pastagens degradadas e desmatamento;
  • Fomentar Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), pois a sua presença no campo está relacionada com o aumento de eficiência pecuária;
  • Adequar as práticas produtivas às exigências crescentes dos mercados doméstico e internacional de zerar o desmatamento, cumprir as leis ambientais, fiscais e trabalhistas, e não tolerar relaxamento nos cuidados com bem estar animal.