Além do APOD, a foto também foi vencedora do Concurso Capture the Dark, da International Dark-Sky.

Egon Filter é um engenheiro aposentado que resolveu dedicar seu tempo à fotografia de natureza. Na verdade, ele já tinha a fotografia como hobby desde os anos 80. Em suas primeiras expedições fotográficas, ainda utilizava câmeras de filme (SLR). E foram muitas expedições. 

Entre os incontáveis destinos visitados por Egon, estão Etiópia, Mali, Zanzibar, Tibet, Ladahk, Mongólia, Irã, Síria, Antártica, Chile e Bolívia. E  a partir de 2013 teve a oportunidade de explorar profundamente o fenômeno das auroras boreais no extremo norte da Escandinávia, em 6 expedições com este propósito.

Em 2015 criou o trabalho fotográfico autoral “Projeto Caminho das Estrelas”, um projeto com foco local e divulgação global, tornando-se uma referência neste tipo de astrofotografia. O Projeto Caminho das Estrelas visa o registro da Via-Láctea em alguns locais do Rio Grande do Sul ainda não afetados pela poluição luminosa das cidades. À medida que nossas cidades se desenvolvem, suas luzes ofuscam a luz das estrelas e privam grande parte das pessoas da visão de um céu estrelado. Dessa forma, o Projeto Caminho das Estrelas, também alerta a sociedade e as autoridades sobre a importância de preservar nossos céus livre desse tipo de poluição.

 

Egon, através do Projeto Caminho das Estrelas, registra o céu noturno em locais escuros do Rio Grande do Sul

Egon, através do Projeto Caminho das Estrelas, registra o céu noturno em locais escuros do Rio Grande do Sul. Foto: Egon Filter

A Foto

Dá para imaginar que dentro do Projeto Caminho das Estrelas, Egon precisa viajar bastante, visitando paisagens paradisíacas e locais inóspitos. Só vai se enganar quem imaginar que tudo isso é só alegria e diversão. Claro que fazer aquilo que gosta é bem prazeroso, mas no geral, o trabalho é bem sério, exige bastante planejamento e muito esforço. Principalmente porque a melhor época do ano para se fotografar a Via Láctea é durante o inverno, período em que as temperaturas no Rio Grande do Sul costumam ser bem baixas.

E foi em uma dessas noites frias do inverno de 2019, que Egon fez essa foto. Ele estava em Mostardas, uma cidade do litoral gaúcho com pouca poluição luminosa e algumas belas dunas. Até alguns após as chuvas, se formam pequenas lagoas rasas que, na ausência de ventos, se tornam verdadeiros espelhos d’água. Aquele era o momento ideal para pôr em prática uma ideia antiga. 

“A ideia de usar um espelho dentro de um corpo de água sem vento, formando outro espelho gigante, já estava dentro do mundo das ideias fazia tempo”, disse Egon ao Olhar Digital

Aquela, entretanto, não era a primeira tentativa de fazer algo assim. Egon conta também que, nem se lembra quantas vezes dirigiu os 200 km até Mostardas com o espelho em cima do carro. Certa vez, como se estivesse cansado de tanto viajar, o espelho se soltou a 100 km/h e “fugiu” voando, se despedaçando completamente na rodovia que, por sorte, não era movimentada. Não parecia nada simples reunir as condições ideais para uma boa fotografia. 

“Lagoa rasa e vento zero era pré-requisito. Nenhuma nuvem, sem Lua, Via-láctea subindo no Leste, baixa umidade do ar… Eram tantos requisitos para que fosse possível a foto. Mas a insistência e aprimoramento renderam uma bela imagem”, conta Egon.

Night Sky Reflected - Fotografia brasileira escolhida como Foto Astronômica do Dia pela NASA

Night Sky Reflected – Fotografia brasileira escolhida como Foto Astronômica do Dia pela NASA. Créditos: Egon Filter

E de fato, quando todos os requisitos foram reunidos, o resultado foi uma foto que beira a perfeição. A Pequena e a Grande Nuvem de Magalhães (à esquerda e no centro), a faixa da Via Láctea (à direita) e a Nebulosa de Eta Carina (acima e à direita), são alguns dos principais objetos astronômicos do hemisfério sul celeste presentes na imagem. A paisagem de dunas de Mostardas dá até a impressão que a foto foi feita em outro planeta. E por fim, os reflexos que tornam essa imagem tão única. A água, perfeitamente parada, refletindo o céu de fundo, e o espelho segurado por Egon refletindo a região central da nossa galáxia e também o Planeta Júpiter. Uma composição magnífica e um registro único de um momento perfeito.

Concurso Capture the Dark

Uma foto tão bonita assim precisa ser exibida e merece ser premiada! Assim parecem ter pensado os jurados do Concurso Capture the Dark, que escolheram a foto de Egon Filter como vencedora na categoria “Connecting to the Dark”, para fotos que mostram a conexão entre o ser humano e o Universo. O concurso foi promovido pela International Dark-Sky Association, um grupo que tem por objetivo divulgar a importância dos céus escuros para a natureza, para a economia e para termos sempre uma bela visão do Cosmos. 

Segundo Egon, a sensação de ver sua foto premiada é de satisfação pelo reconhecimento. “Seja pelo APOD, por concurso relevante ou pelos amigos, sempre é um estímulo a tentar fazer o “algo a mais”. Uma coisa é fazer um registro fotográfico, outra é conseguir uma composição de significância. Este é o grande desafio da astrofotografia de grande-angulares”, completa o astrofotógrafo, se referindo ao tipo de astrofotografia feita com lentes capazes de registrar um grande campo de visão, ideal para fotografar o céu estrelado em composição com as paisagens naturais.

APOD

E nesta segunda-feira, 13 de setembro, a mesma imagem foi escolhida pela NASA como Foto Astronômica do Dia e divulgada em sua página na internet. O APOD é uma sessão no site da NASA em que, todos os dias, é divulgada uma foto (e algumas vezes vídeos) escolhida pelos astrônomos da agência espacial americana. Junto à foto, também é exibida uma explanação da imagem escrita pelos astrônomos. A foto do Egon Filter foi divulgada com a seguinte explanação: 

Céu Noturno Refletido

O que é isso no espelho? Na imagem do céu escuro do hemisfério sul, as três galáxias mais brilhantes da noite são todas relativamente fáceis de identificar. Começando da esquerda, são a Pequena Nuvem de Magalhães (SMC), a Grande Nuvem de Magalhães (LMC) e parte da faixa central de nossa Via Láctea. Todos os três também são vistos refletidos em uma poça d’água rasa. Mas o que é visto no espelho sendo posicionado pelo astrofotógrafo brincalhão?

Nuvens de poeira perto do centro de nossa Via Láctea – e do planeta Júpiter. A composição foi cuidadosamente planejada e composta a partir de imagens capturadas pela mesma câmera no mesmo local e durante a mesma noite em meados de 2019 em Mostardas, sul do Brasil. A imagem ganhou o primeiro lugar na categoria Connecting to the Dark do concurso Capture the Dark da International Dark-Sky Association para 2021.

Créditos: Nasa

Para quem gosta de desafios e está mais familiarizado com o céu, os astrônomos da NASA ainda convidam a tentar identificar que parte do céu aparece no espelho refletido na água, na parte de baixo da imagem. Boa sorte para quem quiser tentar!