Casamento infanto-juvenil, violência doméstica, agressão física, desvalorização da mulher, evasão escolar e falta de auxílio do governo. Esses são alguns dos termos que definem o documentário Apenas Meninas, que será lançado com exclusividade na HBO Max, nesta terça-feira (26/10). O filme, que tem direção de Bianca Lenti, trata sobre a realidade do casamento infanto-juvenil no país e parte de um dado chocante: o Brasil é o quarto no ranking mundial de casamentos infantis.

 

Através da experiência de sete jovens brasileiras, entre elas mulheres do Distrito Federal, é revelado como essas meninas tiveram sua infância interrompida para embarcar precocemente no mundo adulto da vida conjugal, maternidade e, na maioria das vezes, da violência doméstica.

A nossa pesquisa parte do dado de que o Brasil é o quarto país com maior número de casamento infanto-juvenil no mundo. O que chamou nossa atenção foi o dado do casamento, e todos esses outros focos são desdobramentos da vulnerabilidade, da invisibilidade dessas meninas.  

 

Em conversa com o Metrópoles, a diretora do documentário, Bianca Lenti, frisou que todas as sete jovens mostradas no filme – Agnes, Ruama, Renata, Maria (nome fictício), Adriana, Roberta e Ana – estão a, no máximo, 60 km de suas capitais. Ruama e Adriana, por sua vez, estão ainda mais próximas do centro do poder brasileiro: as jovens moram na cidade Estrutural, localizada a cerca de 15 km do Congresso Nacional. Mesmo com a proximidade geográfica, os crimes acontecem e se repetem com uma frequência maior do que se pode imaginar.

 

“A gente entrou em contato com umas palestra da Promundo, que estava investigando o casamento infantil aqui no Brasil. E eles tinham uma abordagem muito interessante, onde falavam que, ao contrário do que a gente pensa, isso só acontecia no Brasil ‘profundo’, no Brasil rural, e isso não é verdade. Todos os nossos cases acontecem há no máximo 60 km das capitais. A cidade Estrutural fica a 15 km de Brasília. A 15 km do centro do poder do país, montada em cima de um lixão, em que as mulheres vivem de catar lixo”, afirma a diretora.

Bianca revelou que o documentário levou cerca de três anos para ficar pronto, já que foi necessário um cuidado extenso para tratar de histórias tão complexas: “A gente começou a pesquisar no final de 2016, foi o que mais demorou. Algumas das meninas não quiseram aparecer. Filmamos em 2018, finalizamos em 2019. Ficou pronto no começo de 2020 e com a pandemia [da Covid-19] o lançamento acabou acontecendo só agora”.

Dados que chocam

Além dos depoimentos das jovens, o documentário ainda frisa dados que elevam ainda mais a garantia de que um crime acontece aos olhos de todos. Apenas no Brasil, foram contabilizados 554 mil casamentos entre crianças de 10 e 17 anos por ano. Ainda mais curioso, 56% das vítimas de violência se identificam como pretas ou pardas.