Apesar da tentativa do então diretor do Parque Nacional do Caparaó de impedir o trabalho dos técnicos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) divulgou nesta segunda-feira (11 de novembro) um comunicado informando que foi declarado patrimônio arqueológico o local onde agricultores encontraram uma toca feita pelos participantes da Guerrilha do Caparaó, na localidade de São João do Príncipe, no município de Iúna.
O comunicado diz:


"Informamos que o sítio arqueológico Casa dos Guerrilheiros foi registrado como patrimônio arqueológico no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA) protegidos pela Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961.


A confirmação de que realmente se trata de um sítio arqueológico foi possível após pesquisa e análise bibliográfica, realizadas pelos técnicos do Iphan, sobre os materiais coletados na região no dia 18 de setembro de 2019.


Ressaltamos que o patrimônio arqueológico, localizado dentro do Parque Nacional da Serra do Caparaó, é bem da União e deverá ser mantido inalterado. Exceto, no caso de autorização do Centro Nacional de Arqueologia (CNA) por meio de portaria publicada no Diário Oficial da União, poderá receber pesquisas arqueológicas por profissionais devidamente qualificados."


Os técnicos do IPHAN foram ao local depois que a TV Gazeta (ES) veiculou uma reportagem no local, com a participação do autor do livro "Caparaó - a primeira guerrilha contra a ditadura" e com entrevistas com antigos participantes do movimento guerrilheiro de 1966-67. A reportagem foi feita no dia 3 de setembro e veiculada no dia seguinte 
A equipe da emissora enviou para o Departamento de Química da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) uma amostra do líquido encontrado no local pelos escavadores amadores - provavelmente óleo lubrificante utilizado em armamentos usados pelos guerrilheiros. O resultado da análise ainda não saiu.


A Guerrilha do Caparaó foi um movimento armado organizado por militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, agrupados no Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), liderado por Leonel Brizola, a partir do exílio no Uruguai. Esses militares foram expulsos pelos primeiros Atos Institucionais do governo  militar instituído pelo golpe civil-militar de 1964.


Os guerrilheiros se instalaram na Serra do Caparaó, na divisa de Minas e Espírito Santo, em meados de 1966, e foram presos no início de abril de 1967.

O jornalista e escritor, especialista na história sobre o movimento de 64 e guerrilhas do Caparaó, José Caldas, acompanhou a equipe de TV, como consultor, desse momento histórico.

Jornalista e escritor José Caldas