Um mês depois da tragédia do Ninho do Urubu com a morte de dez jovens no incêndio no alojamento das categorias de base do Flamengo, a vida das famílias das vítimas mistura expectativa com angústia.

 

Às vésperas de uma nova rodada de negociação com o clube por indenizações, os parentes se comunicam para trocar informações, compartilhar o sofrimento da perda e dividir a difícil tarefa de retomar a vida de onde parou.

 

Com os telefones celulares nas mãos, os familiares estão reunidos em alguns grupos no WhatsApp. Um deles é o Mães do Ninho. Os integrantes conversam entre si principalmente sobre o acerto a ser realizado com o clube. A primeira proposta apresentada pelo Flamengo foi recusada. Os valores eram de R$ 400 mil para cada família e de um salário mínimo por mês, hoje no valor de R$ 998,00.

 

Após enterrar o filho no dia em que ele faria 15 anos, a dona de casa Marília Barros decidiu tatuar o rosto do menino no braço esquerdo, com a camisa do Flamengo. "Eu nunca pensei em fazer tatuagem. Fiz no lado esquerdo porque é o lado do coração e meu filho era canhoto. Eu olho para a imagem dele todos os dias e converso com ela."

 

Para a dona de casa Simone Delfino da Silva, restou a missão de representar os parentes de Jorge Eduardo, de 15 anos. Como os familiares moram em Além Paraíba (MG), a prima do garoto morto é quem participa das reuniões e relembra o papel de segunda mãe que fazia no Rio. O menino ia sempre para a casa dela aos fins de semana.

 

"Ele sempre me dizia que ia ser famoso e me dar uma casa de presente. Minhas filhas eram muito amigas dele e até hoje uma delas me diz que sente falta de conversar com ele antes de dormir", conta.