Assim que o árbitro encerrou o primeiro Fla-Flu do ano, vencido pelos tricolores há duas semanas, a parte vitoriosa da arquibancada provocou Pedro. Embora não estivesse nem regularizado naquele momento, o jogador virou um personagem à parte na rivalidade entre as torcidas a partir do momento em que aceitou jogar no Flamengo. Nesta quarta, às 20h30, na semifinal da Taça Guanabara (o Fluminense tem a vantagem do empate), não há como ser diferente: o atacante precisará acertar contas com o clube que o projetou.

Não será a primeira vez — e nem a última — que um ex-tricolor jogará o clássico pelo lado rubro-negro. Ou vice-versa. Foi assim quando Conca e Henrique Dourado foram para o Flamengo. E também quando Thiago Neves trocou a Gávea pela volta às Laranjeiras. Pedro é apenas o caso mais recente. O que apimenta este reencontro é que o jogador tratou de provocar a antiga torcida. Em sua apresentação, prometeu: se marcar, vai comemorar.

Esta declaração sucedeu uma série de postagens nas redes sociais do próprio Pedro, nas quais fez questão de tornar pública sua torcida pelo Flamengo desde a infância, a ponto de sua contratação ter sido anunciada pelo clube com a mensagem “De volta para casa”. Detalhe: o atacante fora dispensado da base rubro-negra quando criança.

— A gente não tem que se preocupar muito com o Pedro. Mais com a equipe do Flamengo. Acho que essa expectativa é mais da parte dele do que da gente — disse o lateral Gilberto, companheiro de equipe do atacante durante um ano e oito meses. — Ele é só mais um bom jogador do outro lado

A primeira vez de Pedro do outro lado do Fla-Flu poderia ter sido no ano passado, quando o Fluminense recusou uma proposta rubro-negra de R$ 55 milhões pelo camisa 9. Seu histórico no clássico é modesto. Nos profissionais, participou seis vezes, duas como titular: marcou um gol na goleada por 4 a 0, pelo Carioca de 2018.

Na base, o momento de maior brilho foi nos 5 a 0 impostos pelos tricolores ao rival em plena Gávea. O centroavante marcou duas vezes no retorno à casa que o dispensara.

— Fiquei triste no momento, mas são coisas normais do futebol. Tem o exemplo do Cafu — minimizou o atacante, durante sua apresentação, referindo-se ao ex-lateral, dispensado de nove peneiras antes de iniciar a carreira.

Ainda é cedo para cravar que o centroavante será um sucesso no rubro-negro, mas o início da trajetória é positivo. Mesmo iniciando entre os reservas nas duas partidas em que foi relacionado — algo que deve se repetir hoje —, o atacante precisou de apenas 40 minutos somados para marcar duas vezes. Isso já o faz ser uma das substituições “certas” de Jorge Jesus para o segundo tempo das partidas.

o Fluminense, por maior que seja a mágoa da torcida, Pedro ainda não é uma página virada. Primeiro porque o clube segue detentor de 20% dos direitos econômicos do atleta, que pertence à Fiorentina e está emprestado até o fim do ano ao Flamengo. Além disso, desde sua saída, os tricolores ainda não conseguiram emplacar um substituto para ele. João Pedro, titular em boa parte do ano passado, até ensaiou ocupar seu posto. Mas caiu de rendimento no segundo semestre e se transferiu para o Watford, sem deixar saudade.

O candidato da vez é Evanilson. Dois anos mais novo que Pedro, o atacante tricolor nunca jogou ao lado do ex-companheiro de clube. Mas guarda semelhanças com ele. Além de jogarem na mesma função, os dois foram artilheiros da base no país. O mais velho, em 2016, com 32 gols. O segundo, no ano passado, com 28.

O 2019 de Evanilson foi tão positivo que ele não sentiu sequer o peso de jogar pelos profissionais. Na primeira partida como titular (a terceira no time principal), marcou duas vezes contra o Corinthians, em São Paulo, e assegurou a vaga do Fluminense na Sul-americana. Este ano, já pela competição internacional, voltou a marcar — o suficiente para a expectativa em torno dele já ser alta.