Ronaldinho Gaúcho completa 40 anos neste sábado, preso há duas semanas no Paraguai por posse de identidade e passaporte paraguaios falsos. Com três recursos negados para sair da prisão preventiva, tem o irmão Assis ao seu lado na rotina atrás das grades. Primeiro técnico como profissional do ex-craque, Sebastião Lazaroni aponta as más companhias como culpadas pela biografia manchada do duas vezes melhor jogador do mundo.

Lazaroni foi quem viu o garoto se destacar no time de juniores do Grêmio e decidiu promovê-lo aos profissionais, no começo de 1998.

 

— Ele com a bola era como um gato brincando com um novelo de lã — lembra.

 

Ronaldinho impressionou desde o início, mas assim que apareceu no time de cima, não foi tão certeiro na hora de decidir com quem estreitaria laços.

 

— Dentro de campo, ele sempre foi muito confiante, percebemos a personalidade dele para assumir a responsabilidade no profissional. Fora, naquela época ele entrou no bolo de outros jogadores muito maduros. Isso pode ter influenciado negativamente — afirma o técnico da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1990.

 

Qualquer semelhança com as más escolhas atuais não é mera coincidência. A paraguaia Dalia López, responsável pela ONG que levou Ronaldinho para Assunção e pelos documentos falsos de posse do ex-jogador, segue foragida da polícia paraguaia, que pediu ajuda à Interpol. As últimas notícias indicam que ela poderia estar escondida no Brasil.

 

É do lado de cá da fronteira que Lazaroni acompanha o caso de um dos jogadores mais talentosos que promoveu. Para ele, Ronaldinho Gaúcho, na reta final de sua carreira e nos anos seguintes à aposentadoria, serve de exemplo para as novas gerações do que não deve ser feito:

 

— Isso pode ser um alerta para outros jogadores. Acho que muitas vezes o atleta é cercado por pessoas que querem tirar proveito. Porque o jogador tem a popularidade, tem o reconhecimento público, a boa condição financeira. E aí as pessoas se aproximam apresentando propostas mirabolantes. Eu quero crer, até que se prove o contrário, que ele talvez tenha sido envolvido em algo, que tenha acreditado que essa identidade paraguaia era algo honorário, o que mostraria uma dose de infantilidade fora de campo da parte dele.

 

Ainda que faça um esforço para separar o jogador de futebol do cidadão Ronaldinho, o gosto amargo na boca do treinador se repete. O craque foi multicampeão por seleção brasileira e Barcelona, encantou o mundo com as atuações entre 2003 e 2006, mas deixou a sensação de que poderia ter sido ainda mais:

 

— Às vezes são as más companhias e algumas decisões erradas em termos de profissionalismo. O talento era abundante. Mas as histórias contadas tornam tudo muito claro, histórias de o jogador chegar em mau estado para os treinamentos, por exemplo. Foi isso que encurtou sua carreira.