Lateral-direito do Resende, Anderson Mello é um dos diversos atletas cujo contrato se encerra em abril, e não sabe se voltará ao clube, ou mesmo à disputa do Campeonato Carioca. No momento, sua maior preocupação é usar a pouca reserva financeira que tem do futebol para o pagamento da pensão da filha, que vive em Salvador (BA).

Natural de Maceió, o jogador de 26 anos voltou à cidade Natal, onde mantém a forma física, e lá também solicitou o auxílio emergencial do Governo Federal, no valor de R$ 600. Outras medidas foram necessárias para ajudar nas despesas.

"O auxílio do governo ainda não saiu. Solicitei a pausa do contrato da minha casa, do meu carro. Aí fico dois meses sem precisar pagar. Mas pensão não tem como dar pausa. E se não pagar a Justiça não quer saber, é cadeia. Minha preocupação é essa", contou Anderson.

A quarentena de um jogador de clube pequeno é mais próxima da dificuldade da maioria dos brasileiros do que a dos grandes atletas das equipes da Série A do país. Ainda sem resposta sobre o auxílio, o jogador do Resende recebeu essa semana R$ 1500 do clube, após um dos patrocinadores pagarem o combinado. O salário integral ainda está atrasado.

A realidade é semelhante a de jogadores dos demais clubes pequenos do Rio. Carlos Alberto, zagueiro do América de 26 anos, é dependente do clube, com o qual tem carteira assinada. Já que o salário está atrasado, o jeito foi arrumar um bico trabalhando em uma barbearia em Parada Angélia, onde vive no Rio.

"De lá que tenho trazido o alimento da minha família. Não consegui pegar o auxílio do governo, porque tenho carteira assinada. Tem que se virar de alguma forma.", relata o jovem defensor, que tem contrato até o dia 26.

Na briga para se salvar do rebaixamento, o América é um dos clubes mais afetados. Teve suspensos os pagamentos de seus patrocinadores e do investidor do clube. As equipes de menor investimento estimam mais de 300 desempregados entre atletas e comissão.

Em um campo gramado em Piabetá, Carlos Alberto treina com dois amigos todos os dias, sem a estrutura adequada do clube, que não pôde ceder material para os atletas do América.

"Não temos material ideal como no clube, mas a gente se vira como pode. Eu treino com dois amigos, evito muito contato. Dependemos do nosso corpo e não podemos parar " relata o zagueiro, que espera seguir no clube quando tudo voltar ao normal.

Enquanto isso, Anderson já acionou amigos que cuidam de sua carreira para colocar seu nome no mercado, e ouviu que o momento é de retração.