Quando um time ganha a identidade do seu comandante costuma-se dizer que virou a cara do treinador. O Vasco está longe de ser o espelho de Ricardo Sá Pinto em termos técnicos e táticos, mas contra o Caracas deu pequenas mostras de que pode pulsar como o "coração de leão" do português.
A vitória por 1 a 0 no confronto de ida entre os times pela segunda fase da Sul-Americana, disputado na quarta-feira, em São Januário, não foi acompanhada por boa de atuação. O Vasco oscilou negativamente, na comparação com a derrota para o Corinthians, há uma semana pelo Brasileiro, especialmente na produção ofensiva.
Foi um time pobre que sucumbiu à proposta defensiva do rival venezuelano, enfraquecido por cinco desfalques. Além do gol, criou apenas outras duas chances: pênalti perdido por Carlinhos e cabeçada para fora de Ribamar. Só que ganhou alternativas até então esquecidas, como Guilherme Parede e Tiago Reis, dada a irregularidade de Ribamar e Vinícius.
Ricardo Sá Pinto orienta jogadores do Vasco — Foto: Staff Images / CONMEBOL
Mesmo assim, conseguiu se recuperar do péssimo momento. Do jogo e da temporada. O gol de Tiago Reis, após boa jogada de Guilherme Parede pela direita, encerrou uma sequência de nove jogos sem vitória, contando Brasileirão e Copa do Brasil. E trocou a história do pênalti desperdiçado e da infantil expulsão de Ygor Catatau pela volta da confiança.
- Nesta altura, era importante ganhar para eles perceberem que estamos no caminho certo. Agora, temos muito trabalho pela frente. E temos muita margem de evolução individual e coletivo. É muito importante ganhar para acreditar no processo e no trabalho. Não é fácil fazer o que fizemos: um gol após um pênalti perdido e uma expulsão em um cenário de nove jogos sem vencer. Fizemos um jogo muito inteligente, com muita organização e estratégia. Tivemos ambição e superação e só por isso ganhamos o jogo - analisou Sá Pinto.
Carlinhos lamenta perda de pênalti contra o Caracas — Foto: Staff Images / CONMEBOL
Posse de bola (66% a 34%), finalizações (12 a 4) e chance de gol (3 a 0)... Se as estatísticas mostraram um amplo domínio do Vasco, o confronto com o Caracas se revelou equilibrado. Faltou transformar a superioridade em produção ofensiva. Sem Benítez, coube a Carlinhos fazer a articulação. Talles, especialmente no segundo tempo, atuou mais centralizado e ajudou. Mas foi pouco.
Os atletas ainda tomam muitas decisões erradas. Algo normal em um momento turbulento e em começo de trabalho: Sá Pinto comandou apenas dois jogos. Há, porém, pontos interessantes:
- Saída de bola com linha de três: Andrey entre os zagueiros.
- Zagueiros adiantados, quando o time ataca, para pressionar o rival e recuperar a bola rapidamente.
- Laterais espetados, mas pouco produtivos.
- Talles com mais liberdade e mais participativo.
O Vasco corrigiu ainda um problema comum nas últimas partidas: o espaço ao time rival na entre as linhas do meio e da zaga. Por estar mais compacta e mais agressiva na tentativa de retomar a bola, a equipe foi pouco ameaçada.
- Sá Pinto tem passado confiança para gente, pede time compacto e agressivo. Acho que nesses últimos jogos mostramos isso, compactos e brigando pela segunda bola. É começo de trabalho e temos muito a melhorar. Ele nos cobra muita entrega - comentou o capitão Leandro Castan.