A vacinação contra a Covid-19 na delegação do Atlético-GO após a vitória do time goiano sobre o Libertad, no Paraguai, pela Copa Sul-Americana, levantou um debate no mundo do futebol. Até que ponto é correto imunizar dirigentes, jogadores e funcionários de clubes enquanto outros grupos prioritários ainda não foram vacinados?

As doses do laboratório chinês Sinovac foram doadas à Conmebol e disponibilizadas ao elenco do Dragão em solo paraguaio. Outras equipes também foram vacinadas, mas clubes como o Fluminense se recusaram a receber o imunizante.

Nas redes sociais, o presidente do Atlético-GO, Adson Batista, agradeceu à Conmebol pela atitude. No Brasil, a CBF precisa de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para receber e distribuir as doses da vacina.

 

Comentarista do Grupo Globo, Walter Casagrande criticou a atitude do Atlético-GO e afirmou que desde o começo da pandemia os dirigentes de futebol no Brasil pensaram apenas no jogo e em dinheiro.

- Desde o começo da pandemia, os dirigentes do futebol brasileiro só pensaram neles, no jogo e no dinheiro. Num país como o nosso já morreram mais de 400 mil pessoas porque o Governo Federal não comprou vacinas e pessoas continuam morrendo por falta de vacinas. Eu acho um absurdo, uma falta de respeito e de empatia um clube brasileiro aceitar ser vacinado pela Conmebol para continuar o campeonato – pontuou Casagrande.

De acordo com o mais recente levantamento feito pelo consórcio dos veículos de imprensa, o Brasil já ultrapassou a marca de 15 milhões de casos de contaminação e registou 2.531 vítimas da Covid-19 nas últimas 24 horas.

O levantamento aponta que 16,16% dos brasileiros foram vacinados com a primeira dose da vacina e apenas 8,19% receberam a segunda dose.

Natanael, do Atlético-GO, é vacinado contra a Covid-19 — Foto: Conmebol

Natanael, do Atlético-GO, é vacinado contra a Covid-19 — Foto: Conmebol

- O problema é muito menos sobre quem pagou, deixou de pagar a vacina, a quantidade de vacinas ou onde ela estava. É uma discussão muito mais ética e simbólica vacinar um clube de futebol enquanto grupos prioritários têm muita dificuldade de ter acesso à vacina no Brasil e nos demais países da América Latina – comentou Paula Parreira, comentarista da TV Anhanguera e do Jornal O Popular.

Nas redes sociais, torcedores se dividiram sobre a vacinação de clubes de futebol. Para o infectologista Marcelo Daher, a vacinação antes de grupos prioritários pode ser um problema no Brasil, mas não é o caso do Atlético-GO, que foi imunizado no Paraguai. O médico, no entanto, ressalta a importância da manutenção das medidas de isolamento e de combate à doença.

- Eles (Atlético-GO) terem sido vacinados antes do grupo das comorbidades pode ser visto como um problema no Brasil, mas eles foram vacinados por uma entidade internacional, então valem as regras internacionais. Diminui muito o risco de doença e de transmissão e também de infecção, mas não garante a total isenção de infecção, então é importante que a segunda dose seja aplicada e que as medidas de distanciamento sejam mantidas – explicou Marcelo Daher.

A delegação do Atlético-GO já retornou em voo fretado para o Brasil. O clube ainda não sabe onde receberá a segunda dose da vacina e discutirá a questão com a Conmebol.