Amadores com alma e aplicação de profissionais, os jogadores da seleção de Alegre, que honraram a história do futebol da cidade ao golearem São Mateus por 4 a 0 e conquistar o título da Copa Sesport 2022, dedicaram o título ao jovem Nem (   ), que também era jogador de futebol e protagonizou uma tragédia que abalou a cidade na semana da decisão, atentando contra a própria vida. 


Conforme a regra da competição, os jogadores precisam, comprovadamente, morar no município cujas cores defendem. E Alegre conseguiu formar uma seleção de guerreiros, com oito dos 11 titulares vindo dos distritos e apenas três sendo da sede. O grande destaque da final foi o meia Teldas, que marcou um golaço da intermediária e foi o autor de um chute de longa distância que resultou no segundo gol. 
A partida foi no sábado (dia 2 de julho), no Estádio Kleber Andrade, em Cariacica, palco dos grandes espetáculos esportivos do Espírito Santo – uma espécie de Maracanã capixaba -, e as duas equipes amadoras, representando dois municípios de extremos do Estado, proporcionaram um jogo digno do local onde era realizado, especialmente os alegrenses, com sua entrega e aplicação tática. 
OS GOLS


Os gols foram marcados um em cada tempo. Depois de um início estudando o adversário, aos poucos Alegre foi dominando o jogo e abriu o placar aos 17 minutos, num golaço da intermediária em chute de Teldas, surpreendendo o goleiro Denizinho. O São Mateus tentou reagir, mas encontrou uma barreira segura no goleiro Jean, que aos 19 minutos fez grande defesa em cabeceio de Boneco.
Alegre não se intimidou pela tentativa de reação adversária e aos 21 minutos, novamente, Teldas ganhou uma jogada pela esquerda e chutou de longe. A bola bateu no pé da trave direita e sobrou limpinha para Vitinho apenas empurrar para a rede. O gol desnorteou o São Mateus e aos 27 minutos Vitinho teve a chance de ampliar, mas se enroscou com a bola quando estava sozinho diante do goleiro, na entrada da área, e deu tempo de a defesa se recompor e aliviar o perigo.


Sem conseguir entrar na bem posicionada defesa alegrense, o time mateense passou a tentar chutes de fora da área, mas, além da má pontaria de seus jogadores, ainda contava com a firmeza de Jean quando a bola tinha direção certa. Enquanto isso, a seleção de Alegre, bem armada, saía em contra-ataques rápidos e Vitinho dava muito trabalho pela direita. Aos 43 minutos, mais uma chance de ampliar, com Vitinho servindo a Teldas, para chutar rente ao ângulo.


Veio o segundo tempo e o São Mateus começou pressionando, mas usando basicamente bolas cruzadas sobre a área. A partir dos 10 minutos, os alegrenses retomaram o controle da partida e chegaram ao terceiro gol, aos 14 minutos. Num descuido da defesa, Vitinho deu um leve toque para Cleiton fazer 3 x 0 para delírio dos torcedores que foram ao estádio e os que acompanhavam, em absoluta maioria, a transmissão pelo streaming.


Numa busca de mudar o panorama do jogo, a seleção de São Mateus passou a fazer várias mudanças no segundo tempo, trocando mais da metade do time, o que não resolveu o problema. A seleção de Alegre fechou-se e passou a jogar em contra-ataques. Aos 29 minutos, após uma falta contra Alegre, os jogadores se desentenderam e o árbitro Luciano Andrade expulsou um jogador de cada lado. 
Dandinho foi o "escolhido" pelo lado alegrense para ser expulso. Ele é um dos mais experientes do time. Quando adolescente, tinha futuro brilhante no futebol, foi levado para as divisões de base do Vasco, mas, com saudades de casa, abandonou o clube e voltou para Alegre, repetindo a história de Paulo César Casotti, o Bolão, que era o goleiro titular do time juvenil do Flamengo de Zico e Cia, mas desistiu de continuar jogando e voltou para casa. Nelson Teixeira, que na época era o maior caçador de talentos para São Januário, fez várias viagens para tentar convencer Dandinho a voltar, mas nada disso resolveu.


Nos cinco minutos finais, Alegre foi para cima do São Mateus e não demorou  para chegar ao quarto gol, que já havia pintado aos 41 minutos após o carnaval de Vitinho pela esquerda. O gol saiu aos 45 minutos, numa falta muito bem cobrada por Alan, em chute forte da intermediária. E um minuto depois o goleiro Denizinho ainda evitou o quinto gol com grande defesa.


COMEMORAÇÃO


Ao apito final do árbitro, os jogadores fizeram uma bonita festa junto com a torcida no Kleber Andrade, fazendo lembrar as grandes conquistas profissionais do Alegrense, bicampeão capixaba em 2001 e 2002, representando o Espírito Santo em duas Copas Brasil seguidas, em ambas caindo na primeira fase. Na primeira, com dois empates com o Botafogo (RJ) (2 a 2 no Kleber Andrade e 0 x 0 no Caio Martins, em Niteroi). Na segunda com duas derrotas para o Criciúma ( 3 x 2 no Sumaré e 5 x 1  no Heriberto Hulse, em Santa Catarina).
A coordenação da seleção é do secretário municipal de esportes, Luca Moço, auxiliado por Marinho Machado, presidente do Comercial Atlético Clube, em cujo estádio Arsílio Caiado Ferreira a seleção de Alegre mandou seus jogos.


Para chegar à final, a seleção de Alegre começou sua jornada vencendo a seleção de Guaçuí nos dois jogos (2x0 em Alegre e 1x0 em Guaçuí). Depois, empatou o primeiro jogo com a seleção de São José do Calçado por 1x1 e venceu a segunda por 3x2.
Na terceira fase da competição, venceu o primeiro jogo com a seleção de Dores do Rio Preto por 4x1 e perdeu o jogo de volta por 2x1, mas Alegre avançou pelo saldo de gols. Foi a mesma situação na quarta fase, quando venceu a seleção de Iconha por 3x0 e depois perdeu de 2x1, classificando-se para a semifinal, contra a forte seleção de Serra. O primeiro jogo na Serra terminou de 1x1, mas, no jogo de volta, com o estádio lotado, Alegre venceu em casa por 2x1 e garantiu sua vaga na grande final contra São Mateus.


Vitinho é o artilheiro do time com quatro gols, mas, na avaliação de Marinho Machado, “o grande destaque da equipe é o coletivo e a união entre os jogadores”. A seleção é treinada por Elder, auxiliado por Mocotó, que brilhou no time do Comercial de Alegre, que ficou em 3º lugar no Campeonato Capixaba nos anos 90.


O Serra, eliminado por Alegre nas semifinais, ficou com o terceiro lugar ao derrotar o Itaguaçu na cobrança de pênaltis.
Na final, o quarteto de arbitragem da final foi formado por Luciano Andrade (juiz principal), Jucinei Máximo, William Moura e Helena Alves. As equipes formaram assim: Alegre - Jean, Ramon (Cleiton), Ian, Raikar e Kessin; Dandinho, Dedê (Hugo), Teldas e Alan; Vitinho e Vitor Mendes (Bruninho). Técnicos: Helder e Mocotó (auxiliar). São Mateus - Denizinho, Nem (Deri), Dárcio (Silvinho), André (Gereréu) e Leléu; Faguinho (Rodolfo), Juarez (Tiago), Pelé e Leleu; Boneco (Gabriel) e Gerê (Kadu). Técnico: Benedito. (José Caldas - TNL Notícias)