A pandemia do coronavírus tem desestabilizado muita gente, que busca pela primeira vez ajuda profissional para suas novas demandas de ordem emocional. Quem já fazia terapia com psicólogos e psicanalistas antes da recomendação de afastamento social, por sua vez, vê a necessidade de seguir com o tratamento, com novos desafios impostos. Para os dois públicos, carentes do atendimento de especialistas em saúde mental, a dúvida: como fazer as sessões sem ser os consultórios de seus terapeutas?

 

- É claro que preferimos o encontro presencial. No atendimento on-line, perdem-se muitos estímulos, como o olhar, o cheiro, a visão tridimensional... Mas entre suspender o tratamento por causa da necessidade de afastamento social e adaptar as sessões para que se tornem virtuais, é melhor a segunda opção. Até porque as pessoas estão precisando mais do que nunca deste acompanhamento. É muito difícil ficar isolado - diz o psicanalista Wagner Vidille, presidente da Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi).

 

Tanto a Febrapsi quando o Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhecem o atendimento on-line como modalidade possível e recomendada neste momento. Fazer dar certo o novo tipo de atendimento, no entanto, exige a adaptação de analista e analisando. As duas associações listam, abaixo, algumas dicas que podem ser importantes para o período:

 

- O Conselho Federal de Psicologia e a Federação Brasileira de Psicanálise admitem e recomendam que psicólogos de diferentes áreas de atuação façam sessões online com seus pacientes durante a pandemia. As consultas podem ser realizadas em tempo real ou de forma assíncrona. O psicólogo que migrar seu atendimento presencial para a modalidade remota deve fazer um cadastro no site "Cadastro e-Psi" (https://e-psi.cfp.org.br), mas, nestes meses de isolamento social, não precisa aguardar a confirmação da plataforma para iniciar o tratamento on-line. Caso o profissional opte por continuar realizando atendimentos presenciais, a orientação é para que se busquem locais abertos e ventilados para a realização do serviço e que se mantenha o distanciamento de um a dois metros entre profissional e paciente.

 

- O isolamento social é um processo mentalmente complicado e as incertezas e ansiedade geradas com a pandemia podem ocasionar uma necessidade de acompanhamento por um psicólogo ou psicanalista. Mesmo quem nunca fez terapia tem acesso a serviços oferecidos por profissionais da saúde mental remotamente neste momento, com sessões pontuais e gratuitas. Busque o que mais se adequa à sua necessidade.

 

- Se você já estava em tratamento, avalie com seu analista se é possível transferir as sessões para a modalidade remota, em vez de simplesmente suspender as sessões até o fim da quarentena. Um atendimento presencial é mais rico em estímulos que o online, mas uma sessão virtual é melhor que nenhuma e pode ser funcional. Cada dupla de analista-analisando terá suas particularidades em relação à disposição e capacidade de adaptação à nova linguagem. Caberá à dupla decidir o caminho a ser seguido e a melhor ferramenta tecnológica a usar, de acordo com sua realidade.

 

- Manter uma rotina de atendimento - com dias, horários e duração fixos para a sessão acontecer - é importante e, de preferência e se possível, ela deve seguir as mesmas regras praticadas antes do isolamento, nos encontros presenciais. Há profissionais que mantiveram mesmo a cadeira de onde atendiam no consultório, para garantir a familiaridade, o sentimento de segurança e conforto na relação com o paciente.

 

- Escolha um lugar para que as sessões aconteçam. Ele deve ser tranquilo, confortável e reservado. O atendimento terapêutico deve ser um processo sigiloso e não é para ninguém ficar ouvindo a sua conversa.


- Não ter interrupções de outras pessoas durante a sessão com o analista é fundamental. Converse com sua família e outras pessoas que coabitam sua casa para acordar um momento em que você não poderá ter estímulos externos e precisará ficar sozinho.

 

- Pense que o fluxo de uma sessão é importante e que ela também não deve sofrer interrupções de ordem tecnológica. Antes de escolher a ferramenta a ser utilizada, verifique a que você mais domina e confia (se telefone, skype, zoometings ou outra), teste-a e verifique a estabilidade de sua internet está boa.


- Há pessoas que preferem manter o contato visual mesmo que remotamente; outras preferem sessão apenas de áudio; há os que se sentem mais à vontade sentados; outros preferem ficar deitados durante seu processo mental e verbal. Combine com seu analista a melhor forma para que este atendimento aconteça.

 

- Atendimentos com crianças podem ser mais complexos e exigem o consentimento expresso de ao menos um dos responsáveis legais. Se elas forem pequenas e sem muita autonomia, ter o apoio dos pais em sua condução pode ser importante e demandado. Mas respeite a orientação do profissional: se o momento é para deixar a criança sozinha com o analista, faça-o. Não adianta ficar escondido fora do ângulo de visão do analista, nem invadir e atrapalhar o campo de atuação do terapeuta.

 

- Alguns casos especiais - como pessoas em situação de violação ou de violência - necessitam de intervenções imediatas por profissionais e equipes de forma presencial. Para estes, o atendimento on-line pode ser inadequado e caberá ao profissional decidir o que fazer.