Logo após dar à luz a pequena Laura, o som que Catiane Pereira ouviu foi o de tiros. A moradora de Japeri, de 34 anos, teve que percorrer cerca de 46 quilômetros devido à falta de uma maternidade em seu município. A criança nasceu no Hospital da Mulher, em Mesquita, na última sexta-feira. O parto foi seguido de um confronto numa comunidade próxima à unidade.

 

— Tenho pavor do coronavírus. Não saio de casa de jeito nenhum. A coisa que posso fazer agora é torcer para não ficarmos doentes. Em Japeri não tem lugar para tratar disso. Sei das dificuldades que passei para ter minha filha longe de casa. Foi horrível ter que ir para outra cidade — relata Catiane, falando ainda sobre a sensação de ter recebido a filha em meio à violência:

 

— Ainda lembro que depois do parto houve um tiroteio numa comunidade perto do hospital, e a gente ficou ouvindo tiros — contou a mãe.

 

Catiane não é a única moradora a ter que sair da cidade para dar à luz. Dados da Maternidade municipal Mariana Bulhões, em Nova Iguaçu, uma das referências para gestantes na Baixada Fluminense, revelam que Japeri é o quarto município com maior número de atendimentos na unidade.