Uma empresa com mais de 100 anos de Brasil se despede da manufatura no país. Deixam de ser produzidos o Ka, um dos mais vendidos no ranking da Fenabrave em 2020 (67.283 unidades), Ecosport (24.034), jipinho que lançou a onda SUV, e Troller T4. Os consumidores estarão amparados, lógico.

Primeiro o complexo de caminhões em fevereiro de 2019, no ABC, e agora Taubaté (SP), Camaçari (BA) e Horizonte (CE). A Ford assina um novo capítulo que certamente poderá ser, em um futuro próximo, acompanhada por outras montadoras. Infelizmente.

 

A situação pandêmica é desgastante e a dor humana incalculável. São cerca de cinco mil pessoas no processo de desligamentos, parte dos 187 mil colaboradores da montadora no mundo.

Difícil imaginar que a locomotiva de Henry Ford iria parar em pleno começo de 2021 no mercado brasileiro. Ninguém arriscaria dizer isso agora, muito menos eu, porque quantos planos e tantas viagens com promessas de produtos e soluções de mobilidade para o futuro. Também vi de perto tudo isso a partir em feiras e congressos como a CES, em Las Vegas e outras tantas visitas à sede em Dearborn, Michigan, EUA.

Em abril de 1967, a marca produziria por aqui seu primeiro carro, um elegante Galaxy, para época. A montadora criada no Brasil em 1919, hoje e nos próximos meses, vai enfrentar o maior baque da sua história na América do Sul. A centenária irá manter o escritório em São Paulo, sede na América do Sul, o centro de desenvolvimento de produto da Bahia e o campo de provas no Tatuí, São Paulo.

O presidente Lyle Watters, no texto de informação à imprensa, tenta amenizar a notícia tratando da confirmação da produção da nova geração da Ranger, da chegada do Bronco, do Mustang Mach 1 e da Transit. A Ford também planeja anunciar outros modelos totalmente novos, incluindo um veículo híbrido plug-in.

Mas a barra será primeiro o enfrentamento das pessoas, a conversa com os sindicatos e por último a recuperação da confiança que virá depois, bem depois, porque assim funciona o protocolo da dita "renovação" da empresa. Leia-se nas palavras de Jim Farley, presidente e CEO da Ford: "...ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável".

A Ford abriu a fila (a Mercedes também fechou sua fábrica de carros, mas ainda produz caminhões no Brasil), mas podem esperar mais adiante. Outras marcas estão vivendo momento difíceis no Brasil, que vive uma turbulência política e econômica. O mesmo país de cargas tributárias e leis trabalhistas pré-históricas que transformam o terreno em uma pista de off road severa com grau 10 de dificuldade para quem pretende vencer, multiplicar empregos e lucrar.

Relatamos aqui no UOL Carros sobre a difícil relação de concessionários com Peugeot e Citroën, esse é um exemplo. E sabemos dos planos de investimentos dos franceses. Vamos aguardar por isso.

Lembro que a montadora prevê um impacto de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, incluindo cerca de US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021. Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado a parte contábil, atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos.

Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos. Escreveram o último parágrafo desse jeito tratando os números que fazem parte do negócio.