Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pesquisadores convidados apontou que o Espírito Santo está entre os estados brasileiros com maiores taxas de infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) no país. A informação é de Fabiana Oliveira, do g1.

O levantamento apontou que a prevalência da hepatite B crônica é cerca de três vezes maior do que a média nacional, que está em torno de 0,5% da população com predomínio do componente familiar na transmissão do HBV.

Durante a pesquisa chamada de “Hepatitis B vírus genotypes and subgenotypes and the natural history and epidemiology of hepatites B [Genótipos e subgênitos do vírus da hepatite B e a história natural e epidemiologia da hepatite B]”, foram ouvidos 587 pacientes crônicos acompanhados no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam).

“Até o momento, o estudo é o mais longo e com maior amostragem de pacientes com fatores de hepatite B realizado no Brasil. Foram 12 anos de seguimento no ambulatório de hepatites virais do Serviço de Infectologia do Hucam, entre julho de 2005 e julho de 2017” , informou a Ufes.

Durante todo o período, dados demográficos (como, idade, sexo e cidade de nascimento), além de epidemiológicos, laboratoriais e clínicos foram extraídos de consultas médicas descritas nos prontuários pelos pesquisadores.

Dos 587 participantes do estudo, 270 tiveram amostra sanguínea coletada disponível e com DNA do VHB detectável.

Considerando apenas os pacientes do Espírito Santo, o estudo indicou que 61,9% são da Região Metropolitana; 8,4%, do Norte, 17,4% da Região Central e 12,2% do Sul do estado.

O genótipo A foi o mais prevalente com 65,3% dos casos, seguido pelos genótipos D (32,7%) e F (2%).

De acordo com a coordenadora do estudo e professora do Departamento de Clínica Médica do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e chefe do Serviço de Doenças Infecciosas do Hucam, Tania Reuter, esses genótipos foram introduzidos há vários séculos.

“Essa predominância, pode se correlacionar com imigração de negros africanos trazidos durante o período colonial da escravidão (século XVI-XIX) e imigrantes europeus, principalmente italianos (no século XIX e início do século XX)”, informou a Ufes.

Hepatite B pode ser transmitida por meio do compartilhamento de seringas, agulhas, material de manicure e pedicure não esterilizados corretamente — Foto: Ivanete Damasceno/G1

O estudo também apontou que a transmissão vertical (de mãe para filho) que ocorre durante a gravidez ou no parto foi o mecanismo mais frequente na transmissão da Hepatite B e essa “é uma das principais razões para o Espírito Santo apresentar mais casos de hepatite B do que outros estados”.

“Por isso, o pré-natal seguro é importante como medida de prevenção da transmissão do vírus da hepatite B. Antes dos anos 90 ainda não era obrigatório testar a grávida para HIV, hepatite B e C, e sífilis. Atualmente, o teste é realizado no primeiro e no último trimestre da gestação para evitar essa transmissão vertical”, informou a professora Tania Reuter, coordenadora do estudo.

Seguida da transmissão de mãe para filho está a transmissão entre pessoas residentes no mesmo domicílio por meio do compartilhamento de agulhas a partir do uso de drogas injetáveis ou inalatórias, transfusão sanguínea e relações sexuais.

“Mesmo após mais de duas décadas de implementação da vacina, estudos epidemiológicos como o nosso ainda evidenciam um forte componente familiar na transmissão. A transmissão vertical e intrafamiliar é a principal responsável pelos casos registrados no Espírito Santo”, informaram os pesquisadores.

A hepatite B afeta mais de 270 milhões de pessoas em todo o mundo, com cerca de 78 mil mortes a cada ano por complicações da doença como cirrose e câncer no fígado. Segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), entre os anos de 1999 e 2021, foram confirmados 16.333 casos de hepatites virais no Espírito Santo.

Apesar de ainda não ter cura, a hepatite B pode ser prevenida, principalmente por meio da vacinação, do uso de preservativo nas relações sexuais e do não compartilhamento de seringas, agulhas, material de manicure e pedicure, além de outros instrumentos perfurocortantes ou objetos de higiene pessoal que possam ser meios de disseminação da doença.

Há também as pessoas que têm o vírus, mas a doença ainda não evoluiu e são consideradas portadores do HBV com a doença inativa. Nessa situação, o indivíduo necessita de acompanhamento médico e controle laboratorial regularmente.

O estudo foi publicado nos Annals of Hepatology Science Direct Elsevier e contou com a colaboração dos médicos sub investigadores José Américo Carvalho e Waltesia Perini do Hospital Universitário Ulisses Duque; Marcello Queiroz da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam) e João Renato Rebello Pinho da Universidade de São Paulo (USP).