Somente a solidariedade da comunidade de Alegre, na região do Caparaó, é que ameniza a dor da família do pintor Jailson da Silva Tavares, 42 anos, que em maio descobriu um câncer agressivo no cérebro, foi transferido às pressas e operado no Hospital Evangélico de Cachoeiro, mas há 60 dias aguarda a transferência para o Hospital Santa Rita, em Vitória, que acaba de negar-lhe vaga nesta terça-feira (13).


Diante disso, a mulher de Jailson, Luziana Souza Alvarenga Tavares, decidiu recorrer à Justiça para tentar assegurar tratamento digno ao marido, que ainda precisa dar continuidade ao tratamento e está em casa há dois meses, depois de 40 dias internado no HE, sem assistência específica. “Não sabemos se ele tem que fazer nova cirurgia ou se vai fazer quimio ou radioterapia. Estou muito chateada com isso”, disse Luziana.


Jailson sempre “tratou” como alergia a irritação que tinha no nariz, como se fosse rinite e sinusite. Mas em maio deste ano, em plena pandemia da Covid-19, a história mudou. Ele começou a ficar triste, a mulher o levou ao médico, ele começou a tratar como depressão até que entrou em coma dentro de casa. Levado às pressas à Santa Casa de Guaçuí, onde fez tomografia e foi transferido com urgência para ser operado no Evangélico.

 

SOLDADO DA PM DEVOLVE À FAMÍLIA CARRO QUE GANHOU NA RIFA

 

A família, que mora de aluguel no bairro Vila do Sul, passou a viver da solidariedade da população, pois Jailson trabalhava como autônomo como pintor “alpinista”, sendo reconhecido pela qualidade de seus serviços, enquanto Luziana teve que largar o emprego numa clínica de raio-X e também como cuidadora para se dedicar a cuidar do marido. “O básico não nos falta, mas o INSS suspendeu o auxílio-doença depois de dois meses e quer um novo laudo”, disse Luziana. 


O drama só é amenizado por causa da solidariedade. Esta semana, as redes sociais da cidade repercutiram uma postagem do esportista Joelson Lima mostrando o soldado Silva, da Força Tática do 3º Batalhão da Polícia Militar, recebendo o bilhete contemplado na rifa do carro da família e, ato contínuo, devolvendo o carro para Jaílson. A notícia foi destaque até na coluna Leonel Ximenes, do site Gazeta Online, da Capital.


 “Foi muito emocionante. Meu marido não consegue falar e está enxergando mal, como consequência do efeito severo da doença, mas que ouviu e sentiu a presença do Jonatas. Apesar das visitas restritas, os dois se deram um abraço e meu marido chorou muito. São gestos como esse que amenizam a nossa dor”, contou Luziana Souza Alvarenga Tavares, a mulher de Jailson.


O gesto de Jonatas causou grande repercussão nas redes sociais e ele conta que é reconhecido e cumprimentado nas ruas pelas pessoas. “Sinceramente, acho que não fiz nada demais. Fico até constrangido quando me elogiam por fazer apenas o que acho que qualquer um deveria fazer”, revelou o tímido policial, preocupado em cumprir o regulamento da corporação em relação a falar com a imprensa. “Ele me emocionou e estou muito feliz em poder ajudar”, arrematou.


Mas o gesto de Jonatas não foi isolado. Ele contou que comprou dois bilhetes da rifa a R$ 100 cada um, mas que outros quatro colegas seus da Força Tática lhe deram também o dinheiro para que comprasse os bilhetes da rifa com uma recomendação: qualquer um que ganhasse doaria de volta o carro para a família. A família conseguiu arrecadar R$ 18 mil com a rifa, mas o dinheiro já está todo comprometido. Mesmo assim, não vai rifar de novo o veículo.


Luziana disse que, desde que Jailson passou mal em casa, em meados de maio deste ano, foram muitos gastos, que agora estão sendo quitados. “Foi tudo muito rápido. Ele começou a ficar triste e começamos a tratar como depressão. Estava tomando medicação e de repente entrou em coma dentro de casa. Ficou dois dias dormindo direto e um médico amigo da família veio vê-lo e mandou levar urgente para Guaçuí. De lá, o médico mandou para Cachoeiro dizendo que era caso cirúrgico. Depois dias depois, ele estava sendo operado na cabeça. O câncer começou no nariz e se espalhou rapidamente. O tumor no cérebro estava já muito grande”, cotou Luziana.


Segundo a mulher, Jailson tinha rinite e sinusite e qualquer sintoma ele tratava como se fosse alergia. Foi assim que o câncer se desenvolveu, segundo ela: “Ele ficou 40 dias no Hospital Evangélico e está há mais de dois meses em casa. Nós dois trabalhávamos. Eu tive que sair do eu emprego para cuidar dele”. 


Jailson é de Brasília. Eles estão casados há 18 anos. Luziana foi morar em Brasília, para trabalhar. “Eram tempos difíceis, quando não havia emprego em Alegre”, ela justifica. Lá, conheceu Jailson. Eles se casaram e voltaram para Alegre. Nesses dias em que o marido está acamado, um irmão dele veio de Brasília ajudá-la, mas vai ter que voltar para Brasília.

AMIZADE FEITA NA IGREJA EVANGÉLICA QUE FREQUENTAVAM

Foi através da igreja que participavam juntos, a Batista Renovada, que Jailson e o soldado Silva se conheceram e ficaram amigos, há oito anos. Silva é de Alegre tem sete anos de Polícia Militar e está esperando a promoção a cabo aguardada pelos militares capixabas para o final deste mês de outubro. Antes, ele trabalhou quatro anos na PM do Rio de Janeiro, na Unidade de Polícia Pacificadora da Maré, na capital. 


A cidade se mobiliza em torno do drama de Jaílson e Luziana, que são pais de uma menina de 14 anos. A mulher conta que tem recebido todo apoio do município, através da Secretaria de Saúde, mas reconhece que “os recursos na cidade são poucos e muita coisa extrapola a competência do município”. 


A mulher de Jailson, agora, luta para transferir o marido para o Hospital Santa Rita em Vitória. O encaminhamento foi feito, mas nesta terça-feira (13), depois de 60 dias, o hospital respondeu negativamente alegando que somente está recebendo pacientes novos. Luziana, aconselhada por pessoas da comunidade, está tentando a transferência através da Justiça.


“A gente precisa que ele vá para o Santa Rita para continuar o tratamento. Não sabemos se ele vai ter que fazer outra cirurgia no nariz e nem se vai fazer quimio ou radioterapia. Cada dia é uma angústia”, revelou a mulher. Para piorar, o INSS pagou dois meses de auxílio-saúde e suspendeu o benefício, exigindo novo laudo para retornar com o pagamento. Enquanto isso, a família vive de doações da comunidade. 


“Comida e coisas de primeira necessidade não faltam. Sempre chega alguém com doações, mas há outras coisas que a gente precisa de dinheiro e isso é mais difícil. Fizemos dívidas e estamos pagando com o dinheiro da rifa do carro. Não vamos rifar de novo, porque ele pode precisar do carro durante o período de tratamento”, disse.


A família mora de aluguel no bairro Vila do Sul, bem próximo ao 3º Batalhão da PM, paga R$ 450,00 por mês e conseguiu da Prefeitura o benefício do aluguel social. Joílson é pintor alpinista, aqueles especialistas que trabalham em prédios altos, mas também de casas, trabalhando por conta própria. Luziana trabalhava como cuidadora e num laboratório de Raio-X até ter que parar para cuidar do marido. 


Para quem quiser ajudar a família de Jailson, a mulher dele liberou o número da conta para depósitos: Luziana Souza Alvarenga Tavares – Banco do Brasil – Ag. 0281 – cc 16586-7.