No anúncio da empresa que vai gerenciar o serviço de esgotamento sanitário dos municípios de Cariacica e Viana, o Governador Renato Casagrande disse que o estado alcançará a despoluição da baía de Vitória, com a previsão de cobertura máxima do tratamento em Cariacica até 2031. Para especialistas, no entanto, a meta depende de uma série de medidas que envolvem ações ambientais e sociais. E está longe de acontecer.

A reportagem procurou pelo Governo para entender de que forma isso seria feito. A Companhia Espírito-santense de Saneamento (Cesan) informou que a despoluição será feita por meio da universalização do sistema de esgotamento sanitário na Região Metropolitana de Vitória. 

Segundo a Cesan, na capital, o serviço de coleta e tratamento de esgoto já está universalizado, enquanto os municípios de Serra e Vila Velha, que têm Parcerias Público-Privada (PPP) em andamento, estariam à beira de ter cobertura completa de redes de esgoto.  “Com os serviços da nova parceira da Cesan, Cariacica também alcançará a cobertura máxima de redes de esgoto”, afirma um trecho da nota. 

Apesar da meta otimista, especialistas afirmam que essa despoluição da baía de Vitória passa por um longo percurso. O integrante do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), Eraylton Moreschi, explicou que a universalização do sistema de esgoto é um processo complexo. “Universalizar é disponibilizar o atendimento a todas as residências do município, coletando os esgotos gerados em cada unidade residencial, comercial e pública”, explica. 

De acordo com o especialista, essa universalização ainda não aconteceu em Vitória. Eraylton pontua que há pontos de lançamento de esgoto in natura na Praia do Canto, na Ilha do Boi e no canal de Camburi por exemplo.  “Essa informação não procede. Na Praia do Canto mesmo tem prédios que não têm interligação com a rede de esgoto”, destacou.

Em 2016, a bióloga e tecnóloga em saneamento ambiental Márcia Soares fez o monitoramento dos pontos de entrada e saída de esgoto na baía de Vitória. Na ocasião, o poder público também dizia que Vitória tinha 100% do esgoto tratado, mas o estudo constatou diversos pontos em que o esgoto era despejado sem tratamento.  

De acordo com o documento, apesar de ser a cidade da Grande Vitória com maior cobertura de rede coletora de esgoto (88,70%), a capital capixaba despejava mais de 16 milhões de litros de esgoto não tratado todos os dias. Para a especialista, pouca coisa mudou de lá pra cá, já que ainda existem pontos da cidade com vazão irregular. “Se mudou, foi muito pouco. Em torno de 5%”, informa.

É possível despoluir a baía de Vitória até 2031?

Os especialistas defendem que, para que a meta de despoluição da baía de Vitória seja alcançada, é necessário um trabalho extenso. Isso, porque, mesmo nos locais alcançados pela rede de esgoto, existem problemas não observados. “Ter cobertura de esgoto para tratamento é diferente de ter população atendida. Nem sempre o sistema implantado é funcional”, explica. 

Márcia destaca casos de moradores que desconectam a própria casa da rede de esgoto por causa de uma diferença de nível entre a rede e a residência. Isso faz com que muitos moradores deixem de usar a rede municipal, porque os resíduos acabam voltando para o local. 

De acordo com a especialista, a falta de tratamento em comunidades instaladas em unidades de conservação também impedem que a universalização do sistema de esgoto seja alcançada. De acordo com ela, nesses locais, não é permitido fazer obras de infraestrutura. “Seria necessária uma ação social e econômica para remover todas essas residências, colocar essas famílias em outros locais ou fazer tratamento unitário nessas ocupações”, destaca.

Soluções

O estudo identificou diversos pontos de Vitória onde a rede de esgoto vaza para o sistema de drenagem, que é responsável pelo escoamento da água da chuva para os corpos hídricos, como rios e praias. “Hoje, nenhuma cidade da Grande Vitória tem esse sistema sem essa fuga. Você pode observar isso pelo sistema elevatório de drenagem que tem ali na Beira Mar, onde se vê a contribuição do esgoto”, destaca.

De acordo com o relatório, esse vazamento provoca uma série de impactos negativos. Dentre eles está a contaminação por patógenos causadores de doenças, a desoxigenação das águas devido à decomposição de matéria orgânica e a contaminação das águas pela adição de substâncias tóxicas.

Márcia ressalta que a despoluição da baía de Vitória vai depender da contenção de todo esgoto que entra no sistema de drenagem, por meio de um diagnóstico completo. “Vai além de só colocar a rede de esgoto. Cada município tem uma particularidade. Por isso, é preciso ter conhecimento, inclusive, do relevo da cidade. Se não fizerem esse levantamento, a gente vai continuar tendo esgoto na praia”, conclu