Os estudos arqueológicos mostraram que os corpos das vítimas foram empulhados no solo do santuário entre os anos de 1918 e 1920, quando a doença provocou a morte de 50 milhões de pessoas no mundo inteiro.

"Inúmeros ossos quebrados, esmagados e triturados mostrando corpos sobrepostos e a prática de compactuação do solo para novos enterramentos. No período da gripe espanhola havia falta de estrutura hospitalar, onde muitas pessoas dependiam de uma santa casa de misericórdia ou de favor de terceiros, ou muitas pessoas morriam em casa como acontece ainda hoje como com Covid-19", explicou o arqueólogo Ricardo Nogueira.

A maioria dos ossos estava a cerca de um metro abaixo do piso da igreja, mas também havia no pátio do santuário. A reforma acontece desde 2018 e passa pelo primeiro grande restauro do monumento desde a fundação, em 1579.

O projeto foi contratado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e é executado pelo Instituto Modus Vivendi. A restauração está na fase final, só falta o acabamento nas pinturas de arte, altares e montagem do museu.

Os esqueletos estão sendo examinados por estudiosos e depois devem voltar ao mesmo local.

Ossadas da época da gripe espanhola são encontradas em santuário de Anchieta, ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta

"As que foram necessárias retirar, remanejar, por causa da obra elas estão em urnas funerárias e terão um novo enterramento no mesmo local, tudo dentro do respeito desses corpos que viveram", pontua Érika Kunkel, presidente do Instituto Modus Vivendi.

Essa é a história dos mortos sendo desenterrada e se misturando com a própria história do santuário, um século depois. "No santuário a gente toca na história do Brasil, desde a parede, os pisos e a pia batismal", completou Nilson Marostica, reitor do Santuário Nacional São José de Anchieta.