Exames de DNA se tornaram tão populares que já estão sendo oferecidos como presentes de Natal nos Estados Unidos. Se antes o preço era o principal entrave, hoje não é mais: o teste pode ser feito por menos de US$ 100 (R$ 384).

 

Mas o que acontece quando você descobre muito mais do que você esperava?

 

Três anos atrás, Jenny decidiu fazer um teste de DNA "por diversão". Ela é a mais jovem de cinco irmãos e sempre ficou intrigada com as histórias de seus ancestrais. Quando era adolescente, adorava olhar fotografias antigas com seu avô e, ao longo das décadas, montou cuidadosamente sua árvore genealógica.

 

Depois que seus filhos cresceram e ela teve mais tempo livre, Jenny, que é escritora freelancer e mora no Estado de Connecticut, nos Estados Unidos, começou a frequentar conferências e workshops de genealogia para melhorar sua metodologia.

 

"Todo mundo estava falando sobre fazer esses testes de DNA, mas não tinha interesse. Tudo soava muito científico, e eu não tenho cabeça para isso."

 

No entanto, Jenny acabou ficando curiosa para ver o que o teste poderia revelar sobre sua origem étnica. Encomendou, então, um kit. Quando os resultados chegaram, não houve surpresas. Ela soube que sua ascendência era em grande parte britânica, incluindo escocesa, e também escandinava. "Nada de exótico", brinca.

 

Mas, um ano depois, ela fez o mesmo teste com outra empresa e convenceu seu irmão a fazê-lo também.

 

Foi quando sua vida mudou.

 

'Nunca me senti tão sozinha'

 

O e-mail com os resultados de ambos incluía um gráfico que ela se esforçou para entender, mas algo escrito no fim chamou sua atenção: "Relacionamento estimado: meio-irmão".

 

Jenny pensou que seu irmão tinha feito algo errado. Ela imaginou que ele deveria ter deixado o kit de coleta sob o sol ou esquecido que não deveria comer ou beber uma hora antes de fornecer a amostra de saliva.

"Fiquei com raiva dele", diz Jenny. "Pensei: 'Típico! Pedi a ele que fizesse algo simples e ele deu de ombros'. Tentei racionalizar, mas, ao mesmo tempo, fiquei incomodada."

 

Jenny buscou respostas na internet e aprendeu sobre o morganídeo - uma unidade de ligação genética. Os irmãos geralmente têm 2,5 mil ou mais em comum, mas Jenny só compartilhava 1,7 mil com seu irmão.

 

Atormentada pela dúvida, ela pediu à prima de seu pai, de 90 anos, que fizesse o teste também. "Ela me ajudou muito com a genealogia, trocamos fotos, e ela era uma pessoa muito gentil", diz Jenny.

 

"Eu me senti horrível por não ter dito a verdadeira razão. Falei que seria algo divertido e que enviaria o relatório a ela."

 

Seis semanas depois, Jenny estava sentada na cama com seu tablet quando os resultados apareceram em sua caixa de e-mail. Ao contrário de seu irmão, ela não compartilhava DNA com a prima de seu pai.

 

"Pude sentir meu coração se despedaçando", diz Jenny, com os olhos cheios de lágrimas. "Pensei: 'Oh, meu Deus, é verdade!' Meu marido dormindo ao meu lado não tinha ideia do que estava acontecendo. Nunca me senti tão sozinha."

 

Jenny não contou a ninguém sobre sua descoberta por vários meses. Em vez disso, enviou kits de DNA para seu irmão e suas duas irmãs e os persuadiu a coletar amostras de saliva. Ela sempre achou que não se parecia com eles - é mais baixa e de pele mais clara -, e os resultados confirmaram que ela era de fato diferente.

 

Jenny também convenceu sua mãe de 86 anos a fazer o teste. "Ela era minha mãe, é claro, mas eu queria provas irrefutáveis, porque descobrir que o homem que me criou não era meu pai me abalou profundamente", diz Jenny. "Apenas senti que tudo que sabia há 50 anos não era verdade."

 

Um ano depois, ela teve coragem de tocar no assunto com sua mãe, que estava com a saúde frágil por causa de um câncer. Enquanto tomavam um chá, Jenny explicou que o teste de DNA tinha dado alguns resultados estranhos.

 

"Minha mãe segurava a xícara e estava prestes a beber. Ela apenas parou e olhou para mim. Suas mãos começaram a tremer", lembra Jenny.

 

"Ela era uma mulher forte e orgulhosa. Acho que nunca a vi chorar, então, vê-la tremendo daquele jeito foi estranho. Eu realmente sofri para perguntar a ela, não queria aborrecê-la, mas também pensei que não poderia deixá-la morrer e não ter algumas respostas, porque sabia que sempre me arrependeria disso."

 

Havia um empresário que morava na mesma cidade que a família de Jenny. Ela lembra que ele sempre foi muito amigável com sua mãe. Jenny perguntou se aquele homem era seu pai. "Quando disse o nome dele", diz Jenny, "seus olhos se arregalaram."

 

A mãe de Jenny admitiu que esperava levar o segredo para o túmulo. Ela nunca contou ao marido que o havia traído, então, o homem que criou Jenny não sabia que não era seu pai biológico - algo que Jenny agora acha "incrivelmente reconfortante".

 

Ela descreve seu pai, um engenheiro que morreu há quase uma década, como "um homem inocente e introvertido" e acha que ele ficaria arrasado em saber a verdade.

 

"Foi como um novo luto. Passei por todos os estágios de pesar", diz ela. "Era algo que estava fora do meu controle, não havia como voltar atrás nem como consertar isso."

 

Reviravolta

 

Jenny encontrou algum consolo no livro The Stranger in My Genes (O Estranho em Meus Genes, em inglês), de Bill Griffeth, um jornalista de finanças que teve uma experiência semelhante. "Ele odeia quando digo isso, mas ele realmente me salvou", diz Jenny.

 

"Sem o livro dele, acho que teria enlouquecido ou feito algo destrutivo em minha vida. Entrei em contato com o autor, e ele me incentivou a escrever um diário sobre meus sentimentos e até leu as coisas que lhe enviei, o que foi muito gentil."

 

Bill, âncora do programa Nightly Business Report, da CNBC, diz que sua vida virou do avesso em 2012 após um teste de DNA. Ele soube que seu cromossomo Y não combinava com o do seu irmão e que seu pai biológico havia morrido 13 anos antes.

 

"Nunca conheci meu pai", ele diz durante o almoço em sua casa em Nova Jersey. "Nunca apertei sua mão, nunca o abracei, nunca ouvi o som de sua voz. Nunca o vi andando, nunca o ouvi rir."

Assim como Jenny, Bill era fascinado por sua árvore genealógica e havia descoberto que um de seus ancestrais havia sido executado durante os julgamentos de bruxas de Salem em 1692.

 

Pesquisar suas raízes era "uma espécie de obsessão" e, por anos, ele visitou cemitérios, catedrais, bibliotecas e tribunais de todo o país para obter mais informações.

 

Quando Bill soube que não era parente do homem que conhecia como pai - de que não era de fato parte do clã Griffeth -, sentiu uma enorme sensação de perda.

 

"Foi tudo uma grande mentira, e eu fiquei com muita raiva e muito triste ao mesmo tempo", diz Bill.

 

"Que irônico que eu seja o historiador não oficial de nossa família. Passei anos aprendendo sobre todas as pessoas. E isso foi tirado de mim desta forma."

 

Bill também enfrentou como Jenny a tarefa inglória de confrontar uma mãe idosa sobre sua infidelidade décadas antes. "A última coisa em que acreditaríamos sobre minha mãe era que ela havia sido infiel", diz ele. "Ela era uma cristã devota, abstêmia. Uma clássica senhora de igreja."

 

A mãe de Bill tinha 95 anos quando tiveram esta conversa difícil, e ela admitiu relutantemente que "cometeu um erro" ao ter um breve caso com um ex-chefe. "Não queria que isso definisse nosso relacionamento em seus últimos anos. Infelizmente, acho que acabou sendo assim", diz ele.

 

"Nosso relacionamento meio que esfriou depois. Acho que ela esperava morrer sem que isso nunca viesse à tona."