Quase 300 aventureiros já morreram no local desde a primeira tentativa de subida ao Everest, e dois terços dos corpos ainda estão sob neve e gele. A maior parte dos óbitos acontece por avalanches, quedas, mas também problemas fisiológicos agudos, como tontura e dor de cabeça.

Corpos começam a ser removidos no lado chinês da montanha, conforme se aproxima a temporada de escalada da primavera.

Mais de 4,8 mil alpinistas já escalaram o pico mais alto da Terra.

"Por causa do aquecimento global, o manto de gelo e os glaciares estão derretendo rapidamente. Os cadáveres que permaneceram enterrados durante todos esses anos estão agora sendo expostos", explica Ang Tshering Sherpa, ex-presidente da Associação de Montanhismo do Nepal.

"Já descemos cadáveres de alguns montanhistas que morreram nos anos recentes, mas os mais antigos estão aparecendo agora".


Corpos expostos

Em 2017, a mão de um alpinista morto apareceu acima do solo no acampamento 1.

Operadores de expedições contam que precisaram reunir escaladores profissionais da comunidade sherpa para mover o corpo.

No mesmo ano, outro corpo apareceu na superfície do glaciar de Khumbu - onde a maioria dos cadáveres vem surgindo nos últimos anos, dizem os montanhistas.

Outro local que tem revelado corpos é o acampamento 4, um lugar relativamente plano.

"Mãos e pernas de cadáveres também apareceram no acampamento-base nos últimos anos", disse um funcionário de uma ONG da região.

"Percebemos que o nível de gelo em torno do acampamento-base está diminuindo, e é por isso que os corpos estão ficando expostos".

Derretimento comprovado

Vários estudos já mostraram que as geleiras da região do Everest, como na maior parte dos Himalaias, estão derretendo e ficando mais estreitas.

Um trabalho de 2015, por exemplo, revelou que as lagoas na área do glaciar de Khumbu - que os alpinistas precisam atravessar para chegar ao pico - estavam se expandindo e se juntando por causa do derretimento acelerado.

Em 2016, o exército do Nepal drenou o lago Imja, perto do Monte Everest, depois que a água resultante do derretimento glacial atingiu níveis perigosos.

Outra equipe de pesquisadores, incluindo membros das universidades de Leeds e Aberystwyth, do Reino Unido, perfuraram no ano passado o Khumbu e encontraram gelo mais quente do que o esperado.

Nem todos os cadáveres que emergem do gelo, no entanto, aparecem por conta do derretimento glacial.

Alguns deles são expostos também por causa do movimento do glaciar de Khumbu, dizem montanhistas.

"Por causa do movimento do Khumbu, conseguimos ver cadáveres de tempos em tempos", explica Tshering Pandey Bhote, vice-presidente da Associação Nacional de Guias de Montanhas do Nepal.

"Mas a maioria dos escaladores está mentalmente preparada para se deparar com essa visão".