A China alertou, neste domingo (24), que suas relações com os Estados Unidos estão "à beira de uma nova Guerra Fria", prejudicadas ainda mais pela pandemia de COVID-19, que avança rapidamente na América Latina.

A crise da saúde exacerbou as relações já tensas entre a China e os Estados Unidos, e as duas potências continuam a lançar ataques verbais.

Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, disse que Washington se infectou com um "vírus político" que aproveita "todas as oportunidades para atacar e difamar a China". 

"Algumas forças políticas nos Estados Unidos estão fazendo as relações entre China e Estados Unidos como reféns e levando nossos dois países à beira de uma nova Guerra Fria", disse o chanceler a repórteres.

Wang também acusou os políticos americanos de "espalhar boatos" para "estigmatizar a China", onde o novo coronavírus surgiu no final do ano passado.  No entanto, o ministro garantiu que o sue país está "aberto" à cooperação internacional para identificar a origem do vírus mortal. Essa cooperação deve ser "profissional, justa e construtiva" e sem "interferência política", enfatizou.

Nas últimas semanas, o presidente americano, Donald Trump, acusou repetidamente as autoridades chinesas de terem demorado para comunicar dados cruciais sobre a gravidade da doença. 

Os Estados Unidos são de longe o país mais atingido pela COVID-19, com 1,6 milhão de casos e 97.048 mortes (+1.127 nas últimas 24 horas). 

Trump, que quer flexibilizar o confinamento e reativar a economia, fez um gesto no sábado para marcar um retorno à normalidade e foi jogar golfe em seu clube na Virgínia, perto de Washington, pela primeira vez desde 8 de março.

- "O momento mais doloroso" -

Enquanto a Europa se recupera, os tremores desse terremoto sanitário continuam a abalar os países da América Latina. A região, que se tornou o "novo epicentro" da COVID-19, segundo a OMS, está no auge da pandemia.

O Brasil, com mais de 347.000 casos e 22.000 mortes, é de longe o mais punido da região e já ultrapassou a Rússia como o segundo país com o maior número de infecções, atrás apenas dos Estados Unidos.

O presidente Jair Bolsonaro protagonizou uma nova polêmica quando um vídeo de seu gabinete foi revelado e no qual a pandemia mal é mencionada. Cheio de obscenidades, insultos, reclamações e declarações potencialmente incriminatórias, o vídeo causou indignação no gigante sul-americano, onde muitos questionam a gestão do governo da crise.

O México, o segundo país da região com maior número de mortes, registrou até este sábado 65.856 casos confirmados e 7.179 óbitos. O país enfrenta seu "momento mais doloroso devido à pandemia", nas palavras do presidente Andrés Manuel López Obrador.

Na Argentina, a aceleração das infecções, que em Buenos Aires aumentou cinco vezes nas últimas duas semanas, levou o presidente Alberto Fernández a estender o isolamento social obrigatório até 7 de junho. 

Na Bolívia, o departamento amazônico de Beni, na fronteira com o Brasil, foi declarado em "desastre de saúde" após um aumento exponencial das infecções e mortes.

No Peru, o segundo país da região em infecções (115.754) e o terceiro em mortes (3.300), o governo estendeu o confinamento obrigatório até 30 de junho, embora tenha autorizado a retomada de alguns serviços em domicílio.

No Chile, que contabiliza 65.393 casos e 673 mortos, multiplicam-se os protestos em comunidades pobres de Santiago contra a pouca ou nenhuma ajuda do governo, a falta de comida e o desemprego.

A Costa Rica, que não adotou confinamento obrigatório, luta para manter sua "frágil conquista" de poucos contágios com "disciplina", disse o presidente Carlos Alvarado à AFP.

Na América Latina, mais de 39.000 pessoas morreram e cerca de 715.500 infecções foram registradas, segundo contagem da AFP.