O filme sul-coreano Hope, de 2013, chocou o mundo ao retratar uma história real, conhecida na Coreia do Sul como "O Infame Caso Nayoung". A história aconteceu em 2008, quando uma menina de oito anos foi estuprada e espancada em um banheiro público por Cho Doosoon, um homem bêbado de 57 anos.

Para manter sua identidade em segredo, a imprensa coreana apelidou a garotinha de "Nayoung", transformada no longa em Sowon, palavra coreana para Desejo, em um sentido esperançoso de sua luta pela sobrevivência, retratada no vencedor do prêmio de Melhor Filme no 34th Blue Dragon Film Awards.

"Nayoung" foi estuprada pela vagina, ânus e ouvidos, além da tentativa de estrangulamento e de ter sua cabeça segurada debaixo d'água, de forma que ficasse inconsciente. É relatado pela imprensa que um de seus intestinos chegou a sair do corpo e foi novamente introduzido pelo estuprador, empurrando-o pelo ânus da garota. Em seguida, ele a fez sentar para que os órgãos não voltassem a cair enquanto voltava a estuprá-la. O ato feriu severamente os órgãos internos da menina, que passou por uma colostomia.

Após meia hora, Cho Doosoon deixou a garota abandonada e inconsciente no banheiro. Ele foi encontrado e preso dois dias mais tarde, após a polícia encontrar suas digitais na cena do crime. Durante o processo de julgamento de Cho Doosoon, investigadores incompetentes forçaram "Nayoung" a reviver seu trama durante horas de interrogatório, além de fazê-la sentar em uma cadeira, o que lhe causava muita dor devido aos seus ferimentos. Posteriormente foram processados pela família da vítima por seu péssimo desempenho durante a investigação, e a família venceu o caso.

Entretanto, tal como no filme, o estuprador foi sentenciado a somente doze anos de prisão, julgado como mentalmente instável por estar sob o efeito de álcool, o que causou grande comoção não só entre a família da vítima, mas em toda a nação coreana que acompanhou o caso pela mídia. Relatos da época informam que a indignação levou cidadães coreanos à rua para protestos contra Cho Doosoon e pedindo por uma pena mais severa.

A pena de Cho Dooson acabou em 13 de dezembro de 2020, quando o criminoso saiu da prisão. A petição "Oposição a Cho Doo-soon", lançada em 2017, ultrapassou o mínimo de 200 mil assinaturas exigidas para ser levada ao gabinete presidencial, afirmando que "12 anos não compensam a experiência traumática da vítima".

Nayoung" hoje tem 19 ou 20 anos e sua identidade segue em segredo, evitando exposição desnecessária à vítima. Em 2010, "Nayoung" teve uma cirurgia bem-sucedida para reparar seu cólon e seu sistema reprodutivo, mas a mídia informou, na época, que seu trauma mental teve uma piora, e que ela teme encontrar Cho novamente quando se tornar uma médica, sua profissão dos sonhos.

No ano passado, a esposa do estuprador foi a público para defendê-lo, afirmando que ele era uma boa pessoa: "Cozinhar arroz e acompanhamentos, limpar a casa e todo o trabalho doméstico... Meu marido faz isso há 20 anos. Ele nunca desabafou sua raiva e foi aclamado como uma pessoa educada". Em outra entrevista, afirma: "Não pretendo me divorciar do meu marido".
Sabendo que a mulher ainda mora na mesma casa, que fica a três minutos da casa da família da vítima, o pai de "Nayoung" revela em entrevista ao True Story que teme a possibilidade de uma aproximação. "Eu não sei expressar em palavras como nos sentimos. Devemos nos mudar? Por que a vítima deve ter que fazer as malas e correr? Não é nossa realidade que o agressor esteja protegido em nome dos direitos humanos e que a vítima tenha que se esconder?", questiona.

Lee Soojung, professor de psicologia criminal da Kyonggi University, minimiza as preocupações dos familiares da vítima: "Ele estará usando uma tornozeleira eletrônica e estará sob forte supervisão. Seus dados pessoais já foram divulgados". Cho já tinha 18 condenações anteriores ao "Caso Nayoung" e deve ficar na lista de criminosos sexuais por mais cinco anos após sua liberação.