Imagem do hipocampo de um camundongo do estudo, que demostra a proteína (em verde) causando degeneração no tecido cerebral (em azul)

John Mamo, da Universidade de Curtin, em Bentley (Austrália), liderou o estudo publicado em 14 de setembro no jornal científico de acesso aberto PLOS Biology. Segundo os resultados, a proteína amiloide (A-beta) produzida no fígado pode causar neurodegeneração no cérebro e ter um papel importante tanto na instalação quanto na progressão da DA.

Pesquisas anteriores já descobriram que a ocorrência de Alzheimer – doença que causa demência, perda de memória e dificuldades cognitivas, geralmente em idades mais avançadas –, possui ligação com a proteína beta-amiloide. Ela se aglomera no cérebro, formando placas que auxiliam na degeneração de suas funções.

O novo estudo indica que a proteína beta-amiloide presente naturalmente em órgãos periféricos (A-beta), tem níveis sanguíneos correlacionados com a carga dela no cérebro. Quando em excesso, ela causa declínio cognitivo — o que aumenta a possibilidade de que a A-beta produzida perifericamente contribua para a doença.

O problema é que o cérebro também produz A-beta, o que dificulta saber de onde está vindo a proteína: se do principal órgão do sistema nervoso ou de outros órgãos periféricos. Segundo os pesquisadores relataram no estudo, é um desafio distinguir cada uma das fontes.

Para realizar a diferenciação, eles criaram um camundongo capaz de produzir a proteína A-beta humana apenas em células do fígado. A proteína foi carregada no sangue do animal por lipoproteínas ricas em triglicerídeos – da mesma forma que ocorre em humanos –, até chegar no cérebro.

Os achados foram surpreendentes: os cientistas descobriram que a proteína fez com que os ratos desenvolvessem neurodegeneração e atrofia cerebral, acompanhada de inflamação neurovascular e disfunção dos capilares cerebrais — ambas comumente observadas na doença de Alzheimer. Os ratos afetados também tiveram desempenho ruim em um teste de aprendizado que depende da função do hipocampo, uma estrutura do cérebro que é essencial para a formação de novas memórias.

Os resultados do estudo indicam que a A-beta gerada fora do cérebro tem mesmo capacidade de causar neurodegeneração — o que sugere que a A-beta produzida no fígado é uma potencial contribuinte para o desenvolvimento de DA em humanos. Falta saber quanto.

Caso a contribuição da proteína do fígado para a instalação ou progressão seja significativa, a descoberta pode ajudar na compreensão da doença de Alzheimer, busca que tem concentrado esforços na superprodução de A-beta no cérebro, sendo que na grande maioria dos casos de AD, a produção não é considerada central para o desenvolvimento da doença.

A abordagem da doença pode mudar, já que o novo estudo indica que fatores como estilo de vida podem desempenhar um papel mais importante do que a produção de proteína no cérebro. Caso a teoria se confirme, medicamentos redutores da lipoproteína também podem ser desenvolvidos no futuro. Em breve, mais estudos devem ser realizados para confirmar o papel que a proteína do fígado representa no desenvolvimento e progressão da doença.