Na noite da última terça-feira (22), houve uma invasão no Centro Cultural da Diversidade, localizado na zona sul de São Paulo, e foram danificadas sete obras de artistas, participantes da coletiva Minh’alma Cativa, que abre neste sábado (26).

Algumas telas foram perfuradas por uma gilete dupla, apreendida pela perícia, que esteve no local na quarta-feira (23) para investigações. São 13 artistas que doaram obras para o acervo da Instituição, dentre eles seis da galeria Vandlart, que representa, entre outros, Antonio Kuschnir, o mais jovem artista a realizar uma individual no grande salão do Museu de Arte Contemporânea do Rio.

"As pessoas rabiscaram as obras, furaram, é cada vez mais difícil de acreditar que isso é uma mera coincidência, por conta do lugar ser voltado à diversidade."contou o marchand Victor Valéry, da Vandlart em entrevista por telefone com o Estadão.

"Eu demorei algumas semanas para fazer [o trabalho da mostra], mas na arte não tem só o tempo de produção em si, são anos de bagagem que estão embutidos em uma pintura. Uma pesquisa que demora muito tempo para ser construída; isso não é só uma violência contra as obras, é uma violência simbólica contra a causa LGBT+, que pesa muito", conta Antônio Kuschnir, o jovem pintor carioca que teve um trabalho perfurado.

É a primeira vez que ocorre um ato desta natureza na Instituição, que completou, em junho deste ano, três anos de funcionamento. Para o diretor do Centro Cultural da Diversidade, André Fischer (criador do Festival MixBrasil), o que aconteceu foi motivado por ódio. "A própria Secretária de Cultura reconheceu, por ofício, que este ataque está inteiramente ligado com a intolerância".

 

Foram sete obras de arte vandalizadas, paredes rabiscadas (mas sem mensagens por escrito) e cortinas perfuradas, além da danificação dos painéis de som do teatro. As telas que têm proteção de vidro não foram afetadas.

Os artistas, em decisão conjunta com a curadora Ana Carla Soler, decidiram manter a abertura da exposição neste sábado com as obras danificadas em forma de protesto.

"Obras de arte sendo destruídas não é um bom sinal em nenhum lugar do mundo. A partir desse ato de violência, abre-se uma janela para várias discussões, principalmente no CCD. Manter essas obras ali é resistir.", ressalta Kuschnir, que lembra a série de ofensas e ataques à exposição do Queermuseu, que também trazia artistas LGBT+, em Porto Alegre, no ano de 2017.

Localizado no Itaim Bibi, zona sul da capital, o Centro Cultural da Diversidade (CCD) abriu as portas há três anos, como uma iniciativa da Secretaria de Cultura Municipal para contemplar as artes e o grupo LGBT+. A perícia está em andamento e, em nota, a Secretaria de Cultura do Município de São Paulo informou que "Condena qualquer ato criminoso de LGBTfobia e vandalismo e aguarda a investigação da polícia para identificar os autores e a motivação deste atentado.".

Leia a nota íntegra:

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), informa que, na terça-feira (22), o Centro Cultural da Diversidade (CCD) foi atacado por vândalos e teve parte de sua estrutura danificada e obras destruídas. Foram vandalizadas seis peças da exposição inédita "Minh’alma Cativa", com curadoria de Ana Carla Soler, e trabalhos de 12 artistas LGBTQIA+, além de cortinas, paredes e painéis sonoros. A SMC registrou boletim de ocorrência no 14º DP de Pinheiros.

O Centro Cultural da Diversidade é um local de livre expressão, de acolhimento e de celebração das nossas diferenças, ideias e identidades. A Secretaria condena qualquer ato criminoso de LGBTfobia e vandalismo e aguarda a investigação da polícia para identificar os autores e a motivação deste atentado.