Não basta ameaçar, humilhar, espancar, torturar e até matar. A barbárie tem que ser filmada e lançada nas redes sociais por traficantes que atuam em todo o estado. 

Os vídeos são as armas do mundo virtual usadas para aumentar a reputação da facção sobre os rivais e promover o terror nas comunidades dominadas. Facções usam redes sociais para divulgar torturas


O CORREIO teve acesso a alguns vídeos. Dois deles tratam da mesma situação, com alguns trechos distintos. São cenas fortes do chamado “tribunal do tráfico”, onde a “sala de audiência” é a via pública e que acontece a qualquer momento, sem que ao menos os “réus” sejam previamente avisados. 

Foi o que aconteceu com duas mulheres no bairro de Tancredo Neves, em Salvador, no último mês de abril.

As mulheres apanham porque teriam levado ao local pessoas que não pertenciam à comunidade do Buracão, localizada atrás do Conjunto Habitacional Arvoredo, região onde as imagens foram gravadas.

Em um outro vídeo, um rapaz apanha de pelo menos quatro homens, que se revezam ou atacam ao mesmo tempo com pauladas, chutes e murros. A imagem começou a circular em janeiro deste ano, na cidade de Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Em um terceiro vídeo, duas mulheres são espancadas porque anteriormente brigavam entre si em dezembro do ano passado, na cidade de Maragojipe, no Recôncavo. Ao final, atordoadas, ensanguentadas e com os cabelos abruptamente cortados, elas sinalizam que aprenderam a lei do tráfico local, que pune severamente a briga entre moradores.

 

Justiça informal

 

Para o professor titular de Sociologia e docente permanente do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Eduardo Paes Machado, os criminosos estão preocupados com a reputação moral. 

“Quanto mais violência, maior é a reputação moral. Você acaba tendo um triunfo em relação aos seus adversários [ao exibir as imagens]. Os grupos delituosos também utilizam os vídeos para dissuadir seus adversários, tipo ‘não vamos mexer com eles’, ‘não vamos pegar no calo dele’”, explica Machado.