Em meio às dezenas de meninas desconhecidas, em busca de uma oportunidade no futebol, uma jogadora de 1,70m chama a atenção. Uniformizada como as demais e calçando chuteira branca, a estrela em questão tem milhões de fãs em sua "torcida", ganhou vários prêmios por suas atuações e é reconhecida nas ruas. O currículo poderia ser de uma atleta, porém, a descrição pertence à cantora Ludmilla, que há três meses treina com o time Zico 10, no CFZ, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Ludmilla está entrosada com as companheiras de equipe — Foto: Caroline Palheiro

Ludmilla está entrosada com as companheiras de equipe — Foto: Caroline Palheiro

Se para você, caro internauta, foi uma grata surpresa ver que a cantora faz parte da equipe, imagine para a coordenadora do projeto, Simone Lourenço, ao ver perceber que a "Ludmilla" citada em uma ligação telefônica era a "Lud".

 

- Perguntaram se a Ludmilla poderia treinar conosco. Na hora não sabia que era a Ludmilla cantora, e falei: "Claro, estamos abertas à chegada de meninas novas". Quando cheguei aqui, tive a felicidade e a surpresa de saber que era a Ludmilla cantora. Ela já chegou com o uniforme no primeiro dia, super motivada. As meninas ficaram em estado de choque, um pouco assustadas. A participação dela é um exemplo, porque é uma pessoa que tem a sua profissão, é uma personalidade, mas está engajada, se inserindo no futebol feminino e dando um exemplo excelente para as meninas - contou Simone, que trabalha com meninas de categorias de base, em entrevista ao ge.

Aos 25 anos, Ludmilla conta que notou um certo ar de espanto das companheiras na primeira vez que compareceu às atividades no CFZ. E se diverte ao relembrar o momento com as jogadoras, muitas delas ainda adolescentes e admiradoras da cantora.

Ludmilla concilia a agenda musical com os treinos no Centro de Futebol Zico (CFZ) — Foto: Amanda Martins

Ludmilla concilia a agenda musical com os treinos no Centro de Futebol Zico (CFZ) — Foto: Amanda Martins

 

- Cheguei aqui e a cara delas foi assim.... uma cutucando a outra. "É a Ludmilla? Meu Deus, é a Ludmilla? Não acredito!". Eu as via cochichando assim, foi a reação delas. Ah, depois elas disseram: "Você falou meu nome? Não estou acreditando. Gente, estou do lado da Ludmilla". Essas eram as pérolas que elas soltavam - relatou a intérprete de sucessos como "Hoje", "Sou Eu", "Favela Chegou" e "Onda Diferente".

 

Longe da maratona de shows devido à pandemia do novo coronavírus, "Lud" decidiu reacender a paixão pela bola e dar projeção ao futebol feminino. Ela concilia os outros compromissos da agenda com os treinamentos às quartas e sextas no CFZ.

- Sabia que poderia trazer visibilidade para as meninas. Elas jogam muito, tanto quanto os meninos, até hoje não entendo por que elas não têm o mesmo valor. O futebol feminino não é valorizado, espero que com a minha ajuda, a minha voz, consiga levar essas meninas para onde nunca chegaram, pois merecem. As mulheres têm que se unir cada vez mais para poder alavancar com tudo o que a gente faz na vida. Sou cantora, gosto de jogar futebol e me unindo a elas acho que podemos chegar em lugares maravilhosos.

Ludmilla, que só havia feito show no Maraca, realizou um sonho de infância — Foto: Alexandre Loureiro/BP Filmes

Ludmilla, que só havia feito show no Maraca, realizou um sonho de infância — Foto: Alexandre Loureiro/BP Filmes

A relação de Ludmilla com o futebol não provoca surpresa nos fãs, afinal, ela ficou perto de escolher o esporte como profissão quando passou num teste para jogar no Fluminense, aos 13 anos. Seria o primeiro passo da carreira, mas a distância para o centro de treinamento tornou a modalidade apenas o seu hobby.

- O futebol está na minha vida desde que eu era pequenininha. Quando morava em Duque de Caxias, meio que treinava, mas nunca fui regradinha, então, ia às vezes. Gostava muito de "pelada" na rua e, numa dessas, um olheiro do Fluminense me chamou para um teste no clube. Eu assei, mas na hora do vamos ver, morava muito longe do CT e precisaria ficar lá durante a semana. Falei: "Não, não é isso que eu quero". Desisti de ser jogadora, mas foi por pouco, viu, gente? Foi por pouco.

 

Ludmilla comemora um dos gols marcados no Maracanã — Foto: Alexandre Durão

Ludmilla comemora um dos gols marcados no Maracanã — Foto: Alexandre Durão

Embora o futebol tenha ficado em segundo plano, Ludmilla tem no currículo uma participação no tradicional "Jogo das Estrelas", sediado no Maracanã, em 2018. Ela, inclusive, balançou as redes no estádio, o ponto alto de sua carreira - nos gramados. E ela garante que o faro de gol segue apurado no CFZ.

- Foi uma emoção gigantesca fazer gol no Maracanã, porque foi a primeira vez que pisei no gramado. Já tinha pisado em um palco lá, dessa vez foi aquela coisa de sonho de criança realizado. Fazer dois gols no "futebol do Zico" foi icônico, um dos momentos históricos da minha vida.

 

- Em relação ao meu estilo de jogo... vou contar! Gosto de dar uns dribles, de fazer gol, confesso que não gosto de correr muito, então ficava mais na banheira. Mas, agora, treinando com essas meninas que jogam demais da conta, comecei a me movimentar melhor, a correr mais. Estou correndo, mas meu estilo é assim: "Driblou, fatiou, passou e pimba... é gol!".

 

Camisa 10 dos palcos - responsável por emplacar dezenas de sucessos dentre as músicas mais tocadas do Brasil -, Ludmilla demonstra que também sabe atuar dando assistência e distribuindo seu sucesso para ajudar no crescimento do futebol feminino. Uma atuação que merece a nota dez até mesmo dos mais exigentes comentaristas.