O supermercado Atakadão Atakarejo anunciou nesta quinta-feira (6) que afastou os seguranças suspeitos de envolvimento nas mortes de Bruno Barros da Silva, 29, e seu sobrinho, Yan Barros da Silva, 19, no dia 26 de abril, em Salvador.

Bruno e Yan foram flagrados por seguranças furtando pacotes de carne no supermercado Atakadão Atakarejo, no bairro de Amaralina. No mesmo dia, ambos foram encontrados mortos no porta-malas de um carro com tiros e sinais de tortura, no bairro da Brotas.

O supermercado Atakarejo não registrou boletim de ocorrência do furto, segundo informou a Polícia Civil. Familiares das vítimas dizem acreditar que tio e sobrinho foram entregues pelos seguranças do supermercado a traficantes.

Em nota, divulgada dez dias após o assassinato de Bruno e Yan, a Rede Atakarejo informou que "repudia o fato ocorrido e manifesta total solidariedade às famílias das vítimas".

Também informou que que está colaborando com as autoridades policiais e que uma sindicância interna decidiu pelo afastamento dos seguranças "até que os fatos sejam devidamente esclarecidos".

"A empresa reafirma o compromisso com o seu código de ética e conduta e que jamais irá tolerar qualquer ato de violência", informou.

A Polícia Civil da Bahia afirrmou que já tem indicativo de autoria do crime, mas não deu detalhes para não prejudicar as investigações. Os investigadores colheram depoimentos de ao menos dez pessoas e coletaram imagens das câmeras de vigilância do Atakadão Atakarejo, que estão passando por perícia.

A delegada-geral Heloísa Campos de Brito, que acompanha as investigações, prometeu rigor na apuração do caso: "Todos os envolvidos com este crime serão responsabilizados, sejam eles quem forem, no rigor da lei".

Na terça-feira (4), o secretário da Segurança da Bahia, Ricardo Mandarino, reconheceu que há componentes de racismo e de ódio nas mortes de Bruno e Yan.

"Trata-se de um delito resultado desse conceito vil, tosco, desumano, deturpado de que 'bandido bom é bandido morto'. Há, nessa ação abjeta, um componente forte de racismo estrutural e ódio aos pobres. Na cabeça dessa gente torpe, todo pobre e preto é bandido", afirmou o secretário.

O advogado Andrey Sudsilowsky, que acompanha o caso, informou que ainda não teve acesso ao inquérito policial. Mas adiantou que a família buscará reparação caso seja constatada a participação de funcionários do supermercado no desfecho do crime.

O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público do Estado da Bahia, pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa da Bahia e pela seccional local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Entidades do movimento negro de Salvador têm realizado protestos cobrando apuração do crime e punição para os culpados.