Filha de um médico paulistano e neta do Barão de Bocaina, um importante fazendeiro, banqueiro e comerciante, Margarida Bonetti, de 63 anos, era uma socialite brasileira que, em 1970, se casou com Renê Bonetti, um engenheiro, e se mudou para os Estados Unidos.

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Como “presente” pelo casamento e mudança, o casal levou consigo uma empregada doméstica que trabalhava para a família desde criança. No país estrangeiro, a funcionária trabalhou por 20 anos em condições análogas a escravidão.

Margarida, seu marido e a empregada moraram em Gaithersburg, nos EUA, de 1980 a 1990, quando a casa pegou fogo e eles se mudaram. A funcionária, que perdeu todos os seus itens, ficou dependente de doações dos vizinhos para que pudesse se vestir.

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Ela cozinhava, fazia faxina, limpava a neve em frente a casa e, ainda assim, não recebia nenhum salário. Quando a empregada contou aos vizinhos a situação em que vivia e que possuía um câncer no estômago não tratado, foi encorajada a denunciar o crime.

‘’Ela falou: ‘Seu Arthur, eu estou sozinha, tenho uma bola no estômago e estou com medo’.'', relembra o vizinho, que a questionou se ela estava sendo paga e, quando ela afirmou que não e que trabalha ali há 20 anos, ele entendeu o que estava acontecendo.

‘’A senhora é escrava! Aqui nos Estados Unidos a senhora é escrava!’’, ele afirmou. De acordo com o vizinho, a empregada morava no porão, sem condições sanitárias e, quando entraram na casa para confirmar a história, notaram que haviam duas geladeiras lado a lado:

Uma estava trancada com correntes e cadeados, e a outra, que era da empregada, possuía apenas arroz e feijão. Além das privações e da falta de salário, a mulher também sofria agressões. Em uma ocasião, Margarida arrancou tufos de cabelo da empregada, que chegou a sangrar.

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Ela também já chegou a jogar sopa quente no peito e no rosto da mulher por não ter gostado da forma que a refeição foi preparada. Em 2000, o casal foi denunciado por uma vizinha, e Renê foi condenado a quase 7 anos de prisão, que cumpriu, mas Margarida fugiu para o Brasil.

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A mansão na qual Margarida se refugiou era de seu pai, Geraldo Vicente, que faleceu em 1998 aos 91 anos, e de sua mãe, Maria de Lourdes, que viveu sozinha até a filha retornar ao país e passar a morar com ela. Em 2011, Maria faleceu, e a briga pela herança da família começou.

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No processo pela disputa dos bens de Geraldo é relatado que Margarida voltou ao Brasil apenas para cuidar da mãe. ‘’Margarida veio por uma semana e encontrou sua mãe completamente abandonada pela filha mais velha, a única que mora em São Paulo’’, consta no processo.

‘’Diante dessa situação, Margarida mudou-se dos EUA para dar apoio, cuidar e auxiliar a mãe em tudo, inclusive na administração de bens’’, continua o documento, sem fazer nenhuma menção ao real motivo da mudança de Margarida: a denúncia de escravidão.

‘’Como é que ela viria pro Brasil se ela tivesse algum problema? Ela jamais passaria na imigração. Então não tinha nada contra ela quando ela veio. Ela nega todas essas acusações’’, afirmou a advogada de Bonetti. Atualmente, a escravagista não pode mais ser penalizada pelo crime.

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De acordo com a legislação brasileira, um crime prescreve em 20 anos, não podendo mais ser julgado. Recentemente, a Polícia Civil cumpriu um mandado de busca na mansão avaliada em 10 milhões para averiguar as condições em que Margarida vive.

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A investigação teve início após moradores do bairro nobre denunciarem que uma pessoa com indícios de problemas mentais vivia no casarão, em condições insalubres. Nesse caso, Margarida é tratada como uma possível vítima de abandono de incapaz.

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A mulher afirma que, apesar das condições sanitárias precárias, não sairá da mansão. Após a visita das autoridades, a família afirmou que tomará providências: uma das irmãs de Margarida passará a morar com ela temporariamente e contratará uma empresa de limpeza para o local.

De acordo com o podcast ‘’A mulher da casa abandonada’’, a vítima de Margarida e Renêainda vive nos Estados Unidos, está bem de saúde aos 85 anos e se mantém com a indenização paga por Renê após o fim do processo.