Alunas da Unesp (Universidade Estadual Paulista), de Bauru, no interior de São Paulo, fizeram uma denúncia de assédio contra o professor adjunto Marcelo Magalhães Bulhões, do departamento de Ciências Humanas. Um banner que exibe prints de supostas conversas de conotação sexual entre Bulhões e as estudantes foi colocado à mostra na universidade nesta sexta-feira (1º). Ao iG , o professor negou as acusações.

Na suposta conversa, Bulhões teria comentado o desejo de manter relações sexuais com alunas. "A verdade é que nosso desejo não passa", mostra o print de uma conversa. 

Em entrevista ao iG , o professor afirma que não há indícios de assédio e que se sente vítima de calúnia e difamação.

"Não há nenhum indício de que houve assédio", diz Bulhões. "O que é assédio? Assédio é usar a sua situação profissional para obter algum favor sexual. Eu me senti vítima de difamação e de calúnia. Hoje vim dar aula, vi esse cartaz e fiquei estarrecido."

Uma estudante de jornalismo da Unesp, que teve aula com Bulhões e prefere não ser identificada, afirma que o professor já teve atitudes inadequadas com ela em sala de aula. Em uma das vezes, conta, ele quase encostou nos seios da jovem enquanto explicava um trabalho para o grupo dela. "Mesmo me afastando, ele continuava esticando o braço. Minha sorte foi ter uma mesa entre a gente e alguns amigos em volta."

No Twitter, diversos usuários se manifestaram contra o Bulhões, inclusive a deputada Isa Penna (PSOL).

Um usuário identificado como Leandro Biazzi disse que o professor "é conhecido há anos por assediar múltiplas alunas". "Até quando a universidade vai manter o emprego dele e varrer a sujeira pra debaixo do tapete?", indagou. Bulhões já havia sido denunciado por assédio anteriormente, mas foi absolvido.

"Provavelmente essas pessoas que naquela época quiseram transformar aquilo [denúncia de assédio] numa narrativa que não havia substância, agora tentam me difamar", afirmou o professor. "Eu não fui transferido, pelo contrário, eu fui inocentado. Não existiu nada."

Estudantes estão organizando uma manifestação em frente à sala de Bulhões, que deve ocorrer às 19h desta sexta. "Acusado de assédio há anos, por dezenas de mulheres, a UNESP nada faz", escreveu uma usuária. "Ele continua a dar aulas sem nenhuma consequência. Chega!"

Também circula nas redes sociais uma petição para exonerar o professor do cargo. Até às 17h20 desta sexta, o pedido já somava quase 2 mil assinaturas. "Finalmente, parece que esse caso vai ter repercussão na imprensa", escreveu uma usuária. "Bora assinar a petição".

Procurada pelo iG , a Unesp disse, em nota, que está "acompanhando, desde a manhã desta sexta-feira, as manifestações que circulam nas redes sociais e cartazes dentro do campus referentes à conduta inadequada" de Bulhões e que repudia "toda e qualquer prática de assédio". A FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design) reiterou que "toda e qualquer prática de assédio não é tolerada" e ressaltou "a importância da formalização de denúncias".

Segundo a universidade, em 2017, foi instaurada uma "apuração preliminar de natureza investigativa a partir de denúncias de assédio do docente mencionado nos cartazes". Tal processo culminou em uma sindicância administrativa, finalizada em 2018. À época, a comissão sindicante indicou o arquivamente dos autos com recomendações, tais como "a instauração de mecanismos para fomentar medidas educativas e elucidativas sobre assédio." Desde então, a Unesp afirma que vem desenvolvendo ações efetivas de combate à violência, sobretudo ao assédio.

Leia a nota na íntegra:

A Unesp, câmpus de Bauru, vem a público informar que está atenta e acompanhando, desde a manhã desta sexta-feira, as manifestações que circulam nas redes sociais e em cartazes dentro do câmpus referentes à conduta inadequada por parte de um dos seus docentes.

Cabe esclarecer que em 2017 foi instaurada uma apuração preliminar de natureza investigativa a partir de denúncias de assédio do docente mencionado nos cartazes. Tal processo culminou em uma sindicância administrativa contra este servidor, finalizada em 2018. A comissão sindicante, à época, indicou o arquivamento dos autos com recomendações, tais como instauração de mecanismos para fomentar medidas educativas e elucidativas sobre assédio.

A Unesp vem desenvolvendo, desde então, ações efetivas de combate à violência, sobretudo ao assédio:  Guia contra o Assédio , Aplicativo UNESP Mulheres ,  Protocolo Institucional de Acolhimento às Vítimas de Violência Sexual , entre outras.

A Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) repudia toda e qualquer prática de assédio. A FAAC defende a dignidade humana e é pautada por princípios que visam garantir o respeito e convívio harmônico em quaisquer circunstâncias e locais, especialmente em sua ambiência acadêmico-laboral. Nesse sentido, afirma que não medirá esforços para colaborar com as soluções de qualquer fato oficialmente demandado, tomando as medidas cabíveis, seguindo os protocolos administrativos com ética, responsabilidade e transparência.

A FAAC reitera que toda e qualquer prática de assédio não é tolerada e ressalta a importância da formalização de denúncias, nos vários canais, inclusive na Ouvidoria da Unesp, que inclusive pode garantir o anonimato, evitando a exposição de vítimas e cobrando da comunidade unespiana atitudes que correspondam aos valores sociais e humanos condizentes com a excelência dos serviços públicos prestados pela instituição. A FAAC reitera que toda e qualquer prática de assédio não é tolerada e ressalta a importância da formalização de denúncias, nos vários canais, como a Ouvidoria da Unesp, que inclusive pode garantir o anonimato, evitando a exposição de vítimas e cobrando da comunidade unespiana atitudes que correspondam aos valores sociais e humanos condizentes com a excelência dos serviços públicos prestados pela instituição.