O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a fazer críticas no último fim de semana a Jair Bolsonaro, chamando o presidente da República de "covarde" e responsabilizando-o pelas mais de 200 mil mortes causadas pela Covid-19.

Maia também citou o compromisso com a democracia ao falar sobre as eleições para a presidência da Câmara: "Só compreendem o nosso gesto aqueles que defendem a democracia antes de tudo. Aqueles que respeitam diferenças e valorizam o diálogo".

A apoiadores reunidos no Palácio da Alvorada Bolsonaro havia ironizado, no dia anterior, a afirmação de Maia sobre a aliança do grupo do presidente da Câmara com o PT no apoio à candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP).

"Hoje, está junto com o PT nas eleições da presidência da Câmara. Pelo poder, água e óleo se misturam. Se bem que ali acho que não é água e óleo, não, são duas coisas muito parecidas", disse Bolsonaro.

A troca de farpas entre os dois não é recente: desde o início do governo, houve divergências públicas.

Confira abaixo algumas delas.
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COBRANÇA NO INÍCIO

Em 2019, o PSL, partido de Bolsonaro à época, apoiou a reeleição de Maia ao comando da Câmara. Com a vitória, em fevereiro daquele ano, o deputado defendeu mais clareza no relacionamento entre Executivo e Legislativo.

"Qual é a aliança que ele [Bolsonaro] vai construir? O que é velha e nova política? Tem a polÍtica de hoje. E a política é o Parlamento, o ambiente mais importante do diálogo. E a política precisa entender como o presidente vai se relacionar com o Parlamento. Nós todos fomos eleitos e somos cobrados pelos nossos eleitores."

CRISE COM A REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Em março de 2019, a negociação pela reforma da Previdência gerou mal-estar entre Maia, que exigiu articulação entre a Câmara e o governo para votação, e Bolsonaro, quem questionou o próprio papel diante da situação.

Em entrevista à TV Globo, Maia disse: "Ele [Bolsonaro] precisa ter um engajamento maior. Ele precisa ter mais tempo pra cuidar da Previdência e menos tempo cuidando do Twitter, porque, senão, a reforma não vai andar."

Ao chegar para reunião em Brasília, acrescentou: "É importante que o governo acerte na articulação. E ele não pode terceirizar a articulação como ele estava fazendo. Quer dizer, transfere para o presidente da Câmara e para o presidente do Senado uma responsabilidade que é dele e fica transferindo e criticando: 'Ah, a velha política está me pressionando'."

Em viagem ao Chile, Bolsonaro retrucou com diversas falas: "Alguns, não são todos, não querem largar a velha política, que infelizmente nos colocou nesta situação bastante crítica em que nos encontramos."

"A bola está com ele [Rodrigo Maia]. Eu já fiz a minha parte. Entreguei. E o compromisso dele, regimental, é despachar e o projeto andar dentro da Câmara. Nada falei contra Rodrigo Maia, muito pelo contrário. Estou achando que está havendo um tremendo mal entendido."

Maia, em São Paulo, disse: "Dentro daquilo que vocês me perguntam, e que a sociedade me demanda, eu falo o que acredito. Sem nenhum tipo de agressão a ninguém, né? Até porque eu não uso as redes sociais para agredir ninguém. Eu uso as redes sociais para dar informação aos meus eleitores, à sociedade."

Quatro dias depois, Rodrigo Maia, em resposta à afirmação, feita por Bolsonaro em entrevista à TV Bandeirantes, de que ele estaria "abalado" pela prisão de Moreira Franco, padrasto de sua mulher, disse: "Abalados estão os brasileiros, que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza, capacidade de investimento do Estado brasileiro diminuindo, 60 mil homicídios e o presidente brincando de presidir o Brasil."

"Eu acho que está na hora de a gente parar com esse tipo de brincadeira, está na hora de ele sentar na cadeira dele, do Parlamento sentar aqui, e a gente em conjunto resolver os problemas do Brasil."

Bolsonaro respondeu, em São Paulo, mencionando governos antes dele: "Se foi isso mesmo que ele falou, eu lamento. Não é palavra de uma pessoa que conduz uma Casa. Muita responsabilidade. Brincar? Se alguém quiser que eu faça o que os presidentes anteriores fizeram, eu não vou fazer."

FALTA DE AGENDA E PROTESTOS

Também em 2019, em entrevista à GloboNews, o presidente da Câmara dos Deputados fez novas críticas ao governo: "Qual é a agenda do governo? Qual é a agenda do governo para a Educação? Eu não conheço. Qual é a agenda do governo nas relações internacionais? É um desastre."

No final de maio de 2019, após manifestações pró-governo e contra o Congresso e o STF, Bolsonaro se reuniu com os chefes do Legislativo e do Judiciário e afirmou: "Hoje pela manhã tomando café com Dias Toffoli, Alcolumbre e Maia eu disse para Maia: com a caneta eu tenho muito mais poder do que você. Apesar de você, na verdade, fazer as leis, eu tenho o poder de fazer decreto."

ASSUMIR PAPEL DO EXECUTIVO

Já em abril de 2020, Luiz Henrique Mandetta, então ministro da Saúde, foi demitido –o que Maia criticou– e a Câmara aprovou projeto de socorro aos estados, fazendo com que Bolsonaro e o deputado trocassem farpas novamente.
Bolsonaro disse: "Parece que a intenção é me tirar do governo. Quero crer que eu esteja equivocado. Qual o objetivo do senhor Rodrigo Maia? Ele quer atacar o governo federal, enfiar a faca. Está conduzindo o país para o caos."

"Isso não se faz com o Brasil. Eu lamento. Isso é falta de patriotismo, de coração verde e amarelo, de humanismo. Isso é quase que conspirar contra o governo federal. Eu lamento, mas esta não é a forma de se fazer política no Brasil."
"Lamento muito a posição do Rodrigo Maia, que resolveu assumir o papel do Executivo."

BOLSA FAMÍLIA

Em dezembro, o presidente da República, em transmissão ao vivo nas redes sociais, disse: "O 13º do salário do Bolsa Família: não teve este ano porque o presidente da Câmara deixou caducar. Cobra do presidente da Câmara."

Maia rebateu em discurso na Câmara: "O episódio, mais um episódio ocorrido no dia de ontem [17 de dezembro], quando infelizmente o presidente da República mentiu em relação a minha pessoa. Aliás, muita coincidência, a narrativa que ele usou ontem, com a narrativa que os 'bolsominions' usam há um ano comigo em relação às MPs que perdem validade nessa casa. É a mesma narrativa."