Sob pressão de parte do partido, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) será lançado candidato à Presidência da República em convenção nesta sexta-feira (21) de olho no público jovem e de centro.

De acordo com dirigentes do partido, o pedetista deve reforçar durante seu discurso o novo mote da sua campanha, traduzido em slogan publicado nas redes sociais: "Ciro: A rebeldia da esperança".

A estratégia, definida pelo marqueteiro João Santana, tem o objetivo de justificar o temperamento forte de Ciro e apresentá-lo como questionador, capaz de enfrentar a fome, a miséria e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Esta frase é mais que um slogan, é o lema da minha vida! Há mais surpresas na sexta. Vamo que vamos!", escreveu Ciro no seu perfil do Twitter, nesta quarta-feira (19).

A avaliação é que a rebeldia traduz a cara do ex-ministro e busca reforçar a ideia de que ele é antissistema.

Em vídeo publicado nesta quinta (20) nas redes sociais, Ciro aparece caminhando, ao som do jingle que carrega seu slogan.

"Sou rebelde porque quero ver mudança; sou rebelde porque sinto a esperança; um rebelde nunca cede, nunca perde, enche o peito de coragem e sempre alcança", diz a música. "Sou rebelde contra a fome e a injustiça, sou rebelde para acabar com tanta pobreza, sou rebelde e chega de mutreta. Sou rebelde para acabar com tanta tristeza", continua o jingle.

Esta é a quarta vez que Ciro se lança candidato à Presidência da República.

A primeira vez foi em 1998. Em 2002, também foi derrotado no primeiro turno e decidiu apoiar na rodada seguinte o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou eleito. Ciro então se tornou ministro da Integração Nacional. Em 2018, disputou mais uma vez e terminou em terceiro lugar.

Agora, contra a polarização Bolsonaro-Lula, Ciro quer fidelizar o público jovem abaixo de 35 anos e ganhar espaço no eleitorado de centro que busca uma terceira via.

Para tentar ocupar esse espaço, o pré-candidato tem batido em Sergio Moro (Podemos), além de criticar Lula e Bolsonaro. Em publicação nas redes sociais nesta semana, ele disse que o ex-juiz não conhece o Brasil e a história do povo.

A decisão da direção do PDT de lançar a candidatura do pedetista nesta sexta-feira tem também como objetivo mostrar que é para valer e que ele não tem intenção de recuar diante de pressão que tem recebido dentro da própria sigla.

Uma ala da bancada de deputados do partido defende que a sigla retire o nome da disputa pela Presidência e destine as verbas que iriam para a campanha nacional para os candidatos à Câmara.

Foi estipulado informalmente, inclusive, o prazo de março para que a candidatura de Ciro ganhe musculatura e que ele ultrapasse os 15% de intenções de voto. Se isso não ocorrer, parte dos deputados ameaça deixar o partido.

De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada em dezembro do ano passado, Ciro tem 7% das intenções de voto, empatado tecnicamente no terceiro lugar, ao lado de Sergio Moro, que tem 9%.

Segundo o levantamento, Lula lidera a corrida, com 48% dos votos, contra 22% de Bolsonaro.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, diz que não há insurgência da bancada contra Ciro e diz que não há possibilidade de ele retirar a candidatura caso não cresça nas pesquisas.

"Campanha política não é corrida de cavalo. É para defender projetos, ideias e é o que vamos fazer do começo ao fim", afirma Lupi.

Ciro viveu um embate público com a bancada do partido no ano passado quando ameaçou retirar seu nome da briga pelo Palácio do Planalto se os congressistas mantivessem o voto majoritariamente favorável à PEC dos Precatórios, no início de novembro.

O projeto era uma prioridade do governo Bolsonaro e pavimentou a criação do Auxílio Brasil ao criar espaço para financiamento do programa que substituiu o Bolsa Família.

Nos bastidores, Ciro foi criticado por deputados do PDT, segundo os quais ele sabia e havia concordado com a posição da bancada. A maioria dos congressistas cedeu e votou contra a PEC por pressão da cúpula da legenda.

Além de críticas dentro do partido, Ciro também é criticado por parte da esquerda pela postura que adotou no segundo turno das eleições de 2018.

Depois de terminar a corrida pelo Palácio do Planalto em terceiro lugar, ele viajou para Paris no segundo turno do pleito e não anunciou o voto em Fernando Haddad (PT), que acabou derrotado por Bolsonaro.

A convenção desta sexta será realizada na sede do PDT, em Brasília. O evento será esvaziado em razão da pandemia, mas terá a presença do candidato derrotado à Presidência em 2018, Cabo Daciolo, que se filiará ao partido. Também terá a presença de alguns parlamentares do partido.