As eleições municipais em Presidente Kennedy, no Sul do Estado, prometem ser quentes. Não pela concorrência eleitoral, haja vista que a família Quintas (o ex-prefeito Reginaldo e sua sobrinha Amanda, que foi afastada pela Justiça) está impedida de concorrer e, com isso, o pleito passará a ser muito mais um plebiscito para julgar os 18 meses de gestão de Dorlei Fontão (PSD), o vice-prefeito elevado ao comando do Executivo.


Depois do episódio do outdoor agredindo moralmente o prefeito, o procurador geral do município e dois outros políticos estaduais, e que a Justiça mandou tirar, agora é a vez de uma denúncia levada à polícia por uma suposta vítima de assédio sexual que teria ocorrido no gabinete do prefeito há quatro meses e que, somente agora, na véspera do período eleitoral é denunciado.


O prefeito Dorlei Fontão, o Dorlei da Saúde, nega com veemência os fatos denunciados por uma jovem de 24 anos, que foi representada por uma advogada ao registrar a ocorrência no dia 19 deste mês e acusa “golpe eleitoral baixo”. Segundo ele, a moça foi conduzida por vereadores oposicionistas à atual administração.


O prefeito orientou seu advogado a representar criminalmente contra Karina Reis da Cruz. Pediu que ela seja investigada e processada por denunciação caluniosa, para que prove o que disse. Para pessoas próximas ao prefeito, tudo isso estaria acontecendo por desespero dos adversários políticos, que não estariam conseguindo atingir a gestão de Dorlei pelas vias da competência e da probidade administrativa.


O prefeito divulgou uma nota, através de sua assessoria: “O prefeito nega veementemente as acusações e vai representar criminalmente contra a autora da denúncia. Vale ressaltar que causa estranheza que uma acusação infundada e mentirosa como essa aconteça no meio de um período eleitoral, cinco meses depois que ela alega ter sido cortejada, sob o argumento de constrangimento, quando a suposta vítima não se sentiu incomodada divulgando o ocorrido em redes sociais”.


A jovem Karina, de 24 anos, disse, no Boletim de Ocorrência Unificado registrado na Polícia, que teria procurado o gabinete do prefeito após tomar conhecimento que ele estaria recebendo pessoas com pedidos de emprego. Segundo ela, Dorley teria lhe prometido vaga em uma empresa contratada para realizar obras públicas e, no momento da despedida, durante um aperto de mão, o prefeito a teria puxado pelo braço e tentado beijar sua boca”.  


“[…] Que neste momento, o prefeito segurou o queixo da declarante e lhe disse ‘você quer o emprego ou não quer’?; Que a declarante abaixou a cabeça e começou a chorar e disse ao prefeito ‘dessa forma, eu não quero’; Que mesmo chorando o prefeito continuava segurando o seu queixo […]”, diz um trecho das declarações no Boletim de Ocorrência, cuja cópia está espalhada por aplicativos de troca de mensagens de pessoas do município.

Este é apenas mais um episódio político-eleitoral do município mais rico do Espírito Santo, graças aos recursos oriundos dos royalties de petróleo. Com pouco mais de 11 mil habitantes, Presidente Kennedy, último município do litoral Sul capixaba, fazendo divisa com o Rio de Janeiro por meio do rio Itapaboana, tem um orçamento anual em torno de R$ 1,5 bilhão. Ou seja, são quase R$ 150 milhões mensais. O caixa, geralmente, está cheio, o que tornou o “Emirado Capixaba” uma noiva cobiçadíssima no Estado.


Nos últimos 20 anos, Presidente Kennedy tem sido palco de disputas políticas ferrenhas e ações das Polícias Civil e Federal, Ministério Público e da Justiça com o propósito de punir desvios de recursos e tentar inibir a prática da corrupção, que parece ser endêmica nessa parte do território capixaba. Só nos últimos 10 anos, dois prefeitos foram presos e afastados do comando do município do município. Coincidentemente, da mesma família: Reginaldo Quintas e sua sobrinha Amanda Quinta.


Reginaldo cumpre sentença de três anos de inelegibilidade, denunciado pelo Ministério Público Estadual por corrupção apurada no âmbito da chamada Operação Moeda de Troca. Sua sobrinha, Amada Quintas, eleita prefeita em 2012 e reeleita em 2016, foi presa e afastada do comando do município no primeiro semestre de 2019 e, em decisão deste ano, definitivamente mantida fora da prefeitura.


O mandato conquistado em 2016 está sendo concluído pelo seu vice, Dorlei Fontão, do PSD, que é pré-candidato à reeleição. Seu principal concorrente é Aloizio Correa, do Partido Liberal. Ele já foi prefeito por dois mandatos anteriormente e também foi condenado por improbidade administrativa. Amanda não pode concorrer, porque já foi reeleita no atual mandato.