O presidente da Câmara de Cachoeiro de Itapemirim-ES, Brás Zagotto (PV), na sessão de ontem (26), a contra gosto, cumpriu a determinação do Juiz Robson Louzada Lopes, sendo obrigado a ouvir naquela reunião pelo dia determinado em decisão, o depoimento do secretário de Manutenção e Serviços Urbanos da Prefeitura Municipal, Vander Maciel, no caso do desvio de cimento. A sessão pode ser considerada uma das mais bizarras até então na história do Poder Legislativo.

Achando que poderia descumprir a decisão judicial e que o secretário não compareceria para se explicar, o presidente da Câmara de Vereadores criticou jornalistas críticos à sua gestão de forma atabalhoada, além de ameaçar, veladamente, assessores de vereadores, segundo ele, contra a sua forma de administrar o Legislativo. "Posso exonerar qualquer um cargo comissionado desta Casa. Hoje eu não vou fazer", numa referência a assessores de colegas que, supostamente, o criticam em seus gabinetes e corredores.

Zombador

Por fim, zombou da decisão do juiz com argumento errado, novamente, passando a impressão de analfabetismo funcional. Pensou que o artigo 150 da normatização da Casa lhe permitiria convocar sessão extraordinário com votação absoluta para decidir sobre ouvir o secretário. "Se eu convocar sessão extraordinária e colocar para votar. E ai Juiz Robson Louzada, o que vai fazer?", ironizou com arrogância.

Quando avisado de que o artigo 150 só exige maioria absoluta para prefeito e não para secretários e que o descumprimento da decisão judicial poderia implicar em sanções rígidas, voltou atrás e gaguejou ainda mais para se recompor, pedido minutos de recesso, até chamarem o secretário para prestar depoimento que chegou por volta das 19h00, dando um chá de cadeira nos vereadores.

Desleal

O presidente Brás Zagotto vem se mostrando um tipo de ditador tupiniquim comandando um grupo de desajustados, com raras exceções, transformando o Poder Legislativo em motivo de chacota como quintal do Executivo. Com sete mantados e por três vezes tentou a presidência com apoio de pessoas que hoje ele despreza, o vereador faz ameaças a colegas e se ofende com jornalistas como se fosse incriticável. 

O que o presidente da Câmara não revela é que tem familiar em cargo comissionado, cultivado há muito tempo, e que por isso precisa cumprir um papel ridículo de bajulador. Prefere considerar desleal o Mandado de Segurança do vereador Júnior Correa (PL) a investigar quaisquer atos do Executivo à luz do dia. Atacou o jornalista Alan Fardim por preciosismo ou a pedido, sem nenhuma necessidade.

Depoimento

Os vereadores situacionistas fizeram ridículo em acompanhar o bonde do presidente sob alegação de que delegados não enxergaram indícios de irregularidades no transporte do cimento da Prefeitura de Cachoeiro a uma empresa fornecedora, abdicando das atribuições próprias: O Legislativo Fiscaliza; a Polícia faz Inquérito; O Ministério Público apura; e Justiça julga. Nenhum das instituições dependem da outra para cumprir seu papel. Cada um no seu quadrado. Contudo, a maioria se apoia em muleta de terceiros para não fazer a sua parte.

O depoimento do secretário Vander Maciel foi um desastre. Apoiou-se numa ordem de serviço de saída do cimento como documento oficial comprobatório que nunca chegou ao destino no flagrante do caminhão no translado de 150 sacos de cimento para empresa de material de construção em Presidente Kennedy, cidade vizinha. Se valeu de veículo e funcionários da Prefeitura para fazer o serviço que não soube dizer se o contrato prevê esse tipo de ato administrativo. Pior, disse que não tinha como estocar o produto, mas voltou com ele para a sua origem, no Centro de Manutenção. Sem corar, confessou que o caso é atípica. A história continua mal contada e a suspeita paira sobre o Legislativo e o Executivo. Um depoimento vergonhoso!

Outros Carnavais

O presidente da Câmara de Vereadores, se fosse prudente, diminuiria um pouco sua arrogância. Como homem público, e sempre governista, nunca soube, de verdade o que é ser criticado pela Imprensa. Sua biografia não lhe concede o título de "paladino da honestidade holística". Da sua hospedagem no hotel San Karlo - hoje fechado - , durante o carnaval, ao soco de um dos colegas dentro do plenário contra outro vereador, sendo o agressor galanteador de sua esposa, alcoolizado, dentro de sua própria casa, já o destitui de fazer ameaças a quem quer que seja. Um conselho dentro desse artigo opinativo e assinado: preserve os primeiros amigos e os primeiros momento.

Brás Zagotto, até pouco tempo, tinha a complacência dos companheiros e amigos de sua caminhada política, enquanto aparentava humildade que não se aplica a partir do momento da sua posse de "presidente da budega", um tipo de armazém de cegos e molhados, uma taberna, sim, pode passar por um botequim igual ele quis definir. O parlamentar precisa se recompor urgente, pois o "orgulho precede a ruína". Este homem público administra um orçamento de R$ 17 milhões. Como mesmo disse, não é fácil ser gestor, não!