Um novo capítulo das tratativas entre PT e PSB deve ocorrer na próxima semana. Os dois partidos esbarram em divergências e adiaram a reunião sobre a aliança nos Estados, prevista inicialmente para a quarta-feira, 15, outrora tida como data limite para a solução dos impasses. Dirigentes das duas siglas ouvidos pela Jovem Pan mantêm o otimismo, falam em avanços em algumas regiões, mas reconhecem a dificuldade em locais como São Paulo e Rio de Janeiro, dois dos maiores colégios eleitorais do país.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, por sua vez, afirma que “não houve progresso” nas negociações. “Ainda não tenho nada a dizer a respeito desse tema porque as negociações ainda não foram concluídas. Até este momento não houve progresso. Lamento não ter novidades ou notícia sobre o assunto. As negociações prosseguirão na próxima semana”, disse em mensagem enviada à reportagem.

O caso de São Paulo é o mais complexo. O PT não abre mão da candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o Palácio dos Bandeirantes. Como os levantamentos indicam que a sigla pode chegar ao comando do maior Estado do país, a campanha petista afirma de forma pública e nas reuniões internas com os aliados do PSB que a postulação de Haddad é irreversível.

Há, ainda, um componente estratégico neste raciocínio: se o ex-prefeito da capital paulista for eleito em São Paulo e o Partido dos Trabalhadores vencer o pleito nacional, como as pesquisas divulgadas até o momento indicam, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria um aliado importante à frente do Estado.

Um aliado de Haddad lembrou que tanto no impeachment de Dilma Rousseff quanto nos momentos em que os governadores se colocaram contra as medidas do presidente Jair Bolsonaro (PL) no auge da pandemia de Covid-19, os tucanos estavam à frente do governo e se destacaram na oposição ao governo federal.

Por outro lado, o ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) não tem dado indícios, ao menos publicamente, de que irá retirar a sua candidatura. Em publicações nas redes sociais, França costuma repetir o bordão “foguete não dá ré” e afirmar que reúne as melhores condições de conquistar o voto do eleitorado conservador e de centro para derrotar Rodrigo Garcia (PSDB) e Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) em um eventual segundo turno. Internamente, porém, o PT acredita que França cederá e ficará com a vaga ao Senado.

O Senado, inclusive, é o motivo do impasse no Rio de Janeiro. Com o nome do deputado federal Marcelo Freixo (PSB) consolidado para a disputa pelo Palácio das Laranjeiras, o PT reivindica a vaga para a Casa Alta do Congresso ao deputado estadual André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Na segunda-feira, 13, o partido divulgou uma resolução reiterando o apoio a Ceciliano, “respeitando os acordos que foram feitos entre as direções nacionais do PT e PSB”. O deputado federal Alessandro Molon, por sua vez, pleiteia o cargo e afirma que tem melhor desempenho que o petista nas pesquisas. Levantamento EXAME/IDEIA divulgado na quinta-feira, 16, mostra Molon com 10% das intenções de voto, contra 5% de Ceciliano. Os dois, porém, estão bem atrás de Romário (PL), que lidera com 23% – apenas um postulante será eleito.

Ainda há impasses no Rio Grande do Sul, no Espírito Santo, na Paraíba e em Santa Catarina, mas, segundo relatos feitos à Jovem Pan, as soluções, nestes Estados, estão mais próximas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há a expectativa de que o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) retire sua pré-candidatura em favor do deputado estadual Edegar Pretto (PT).

Na avaliação de dirigentes, o retorno de Eduardo Leite (PSDB) à disputa gaúcha congestiona o campo de centro, o que, em tese, inviabilizaria a candidatura pessebista e abriria espaço para maior crescimento do nome petista, em uma campanha mais à esquerda.

No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) declarou voto e apoio a Lula, o que deve fazer com que o PT recue da ideia de lançar o senador Fabiano Contarato (PT) ao governo do Estado. Em Santa Catarina, por fim, a cúpula do Partido dos Trabalhadores já admite abrir mão da pré-candidatura de Décio Lima, presidente do diretório estadual da sigla, em favor do senador Dario Berger (PSB).