A adolescente de 17 anos revelou, em depoimento prestado ao delegado Lorenzo Pazolini, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente  (DPCA), que  em momento algum o deputado estadual Luiz Durão (PDT), que está preso pela acusação de estupro, usou de força ou a ameaçou para manter relação sexual.

 

 Durão está preso desde a última sexta-feira (04/01), ao sair do Status Motel, na Serra, com a adolescente. O parlamentar foi autuado em flagrante pelo delegado Pazolini na noite do mesmo dia. O Tribunal de Justiça converteu a prisão em flagrante por prisão preventiva. O delegado Pazolini foi eleito deputado estadual no pleito de outubro de 2018 e assumirá a cadeira em fevereiro.

 

O curioso nessa história em que a legislação proíbe a entrada de menores de 18 anos em motéis. A mesma legislação obriga que hotéis – que não possuem a mesma característica promíscua de motéis – exijam a Carteira de Identidade ou Certidão de Nascimento de menores de idades, mesmo acompanhados dos pais.

 

No caso do Status Motel, o estabelecimento, que serve apenas para encontros de cunho sexual, em momento algum exigiu do deputado, de 71 anos de idade, o documento que identificasse a moça, menor de idade. O deputado Durão ficou na suíte 146, ao custo de R$ 99,00.

 

O Blog do Elimar Côrtes teve acesso ao Auto de Prisão em Flagrante ao Termo de Declaração dos envolvidos. Nesta postagem, a reportagem aborda o depoimento mais importante, que é justamente da suposta vítima do estupro: a menor de 17 anos.

 

Num determinado trecho do depoimento, indagada pela Autoridade Policial se Luiz Durão em algum momento usou de força ou ameaça para fazer o que ele queria (sexo), a adolescente respondeu: “Não, mas eu tive medo por causa da fama dele”.

 

A jovem afirma no depoimento que, desde que saiu por volta das 8h40 de Linhares, na sexta-feira, para Vitória, ele teria sofrido assédio sexual por parte de Luiz Durão. A adolescente revelou que viria a Vitória passear na casa de uma amiga  que iria esperá-la no Shopping Vitória, na Enseada do Suá. A própria mãe da menor pediu ao deputado que desse carona à filha.

 

“Não me lembro em que altura do trajeto, mas foi um pouco antes do pedágio de Linhares, ele enfiou a mão, colocando a mão em cima do meu short, próximo a virilha, mas só tocando na minha coxa. Ele manteve a mão nessa posição por cerca de cinco minutos”, disse a adolescente.

 

A jovem alegou que ficou sem reação, mesmo durante o ato sexual, porque tinha medo “da fama” do deputado Luiz Durão:

 

“Eu estava sem reação, pois todo mundo na minha cidade sabe a fama que o Luiz Durão tem. No período em que ele foi prefeito da cidade, foi o período que teve mais mortes – as pessoas falavam que Luiz mandava matar para ‘limpar a cidade’. Ele tinha fama de ‘matador’. Então, não passava pela minha cabeça que eu iria dizer que não, ou tirar a mão dele e isso ia dar certo, que iria ficar tudo bem”, pontuou a adolescente.

 

A menor acrescentou ter imaginado que Luiz Durão imaginou que ela estivesse concordando com a relação sexual:

 

“Eu me senti muito mal após o ato sexual, porque eu não queria que isso tivesse acontecido. Só queria que tudo tivesse acabado. Não sei dizer se ele entendeu que eu não queria ter relação, porque eu não consegui ter reação. Então, talvez, para ele, ele tenha achado que eu queria”.

 

Abaixo, trechos do depoimento da adolescente

 

Amizade

 

Luiz Durão é amigo de minha família desde a infância dele. A minha mãe já trabalhou para ele quando (Durão) foi prefeito de Linhares. O deputado frequenta minha casa mensalmente; ele conhece meus tios e meus avós, embora a casa que ele mais frequenta seja a minha.

 

Trabalho com o deputado

 

Comecei a trabalhar com ele ontem (quinta-feira, 03/01/2019). O deputado tem um escritório em Linhares e a gente pediu uma colocação de emprego para mim, para que eu possa pagar meus estudos e me preparar para  Enem. Minha função seria a de agendar reuniões de trabalho e organizar o escritório. Mas eu só ia começar em fevereiro, pois eu tinha com combinado para passar uns dias em Vitória, na casa da minha amiga Lara, para passear.

 

Minha mãe sempre pede carona para o deputado, porque ela faz tratamento no Hospital das Clínicas. Mas ele sempre vem com motorista. Ele costuma dar carona para outras pessoas. Então minha mãe ligou para ele, pedindo carona para mim. Ele falou que iria ver. Hoje (sexta-feira, 04/01/2019), por volta das 8h40, ele chegou na minha casa sozinho para me buscar. Minha mãe perguntou a ele sobre o motorista; o deputado respondeu queria buscar o motorista no Centro de Linhares. Eu entrei no carro, mas, em vez de ir para o Centro, ele entrou na BR-101, no sentindo Vitória. Não perguntei nada se ele iria buscar o motorista, porque fiquei com vergonha.

 

Assédio dentro do carro

 

Não me lembro em que altura do trajeto, mas foi um pouco antes do pedágio de Linhares, ele enfiou a mão, colocando a mão em cima do meu short, próximo a virilha, mas só tocando na minha coxa. Ele manteve a mão nessa posição por cerca de cinco minutos.

 

Sem reação

 

Eu não sabia o que fazer, eu nunca tinha passado por isso. Então, eu só apertei a minha bolsa, que estava em cima do meu colo, mas não tirei a mão dele. Ele não chegou a passar a mão em meu órgão genital. Assim que ele tirou a mão, entrei em contato (via WthasApp) com meu amigo Filipe, dizendo que eu achava que estava sofrendo assédio, mas ele não visualizava minha mensagem.

 

Eu estava sentada ao lado do motorista, mas eu não me lembro qual o assunto que a gente estava conversando, mas era alguma coisa de trabalho, eu sou meio avoada, não prestei muita atenção. Ele continuou falando muito. Depois que tirou a mão do meu colo, ele desviou o caminho para entrar em Aracruz, saindo da BR-101, dizendo que iria fugir do trânsito. Eu desbloqueei o celular e avisei aos meus amigos que a gente estava passando por outro caminho, porque eu já estava com medo.

 

Durante a viagem, ele foi me tocando, sendo que teve uma hora que ele chegou  a passar a mão por dentro do meu short. Ele tocava na lateral do meu short, mas não chegou a passar a mão em meu órgão genital e nem no bumbum. Não sei dizer em que momentos ele me tocou, mas era sempre na minha coxa e no meu quadril, no lado que ficava perto da marcha do carro.

 

“Fama de matador

 

Eu estava sem reação, pois todo mundo na minha cidade sabe a fama que o Luiz Durão tem. No período em que ele foi prefeito da cidade, foi o período que teve mais mortes – as pessoas falavam que Luiz mandava matar para ‘limpar a cidade’. Ele tinha fama de ‘matador’. Então, não passava pela minha cabeça que eu iria dizer que não, ou tirar a mão dele e isso ia dar certo, que iria ficar tudo bem.

 

Arma

 

Ele não tinha arma no carro, mas ele já foi armado na minha casa.

 

Toques e reação

 

Ele me tocou várias vezes durante a viagem. A única coisa que fiz foi que  tentei afastar a mão dele com a minha bolsa. Mas eu não tirei a mão dele e nem falei que não queria, pois eu estava com muito medo dele...Durante relacionamento dele com minha família, ele sempre nos tratou muito bem. Antes, numa única vez, durante um evento, ele apertou minha coxa, mas não foi como fez hoje...Hoje, ele fez com malícia.

Como pararam no Motel Status

 

A gente estava na altura do Sesc (Aracruz), quando Lara me ligou. Ela perguntou até que horas eu chegaria a Vitória. Perguntei ao Luiz e ele disse que até o meio-dia a gente estaria na Assembleia Legislativa. Mandei mensagem para Lara, dizendo que estava com medo. Isso era 10h30 e eu sabia que não demoraria uma hora e meia para se chegar à Assembleia. Mandei a minha localização em tempo real, ao que Lara disse que em 40 minutos a gente chegaria. A Lara chegou a sugerir para que pedisse para ficar em Jacaraípe, mas eu fiquei sem graça de pedir a ele para parar ali, pois a minha mãe tinha pedido para ele me deixar só no Shopping Vitória.

 

Motel se omitiu e não pediu identidade da menor 

 

Aí a gente foi seguindo na reta que a gente estava, só que ele manobrou o carro e voltou em direção ao Status Motel. Quando eu levantei a cabeça, ele já estava na portaria do motel e eu achei que iriam me pedir a minha identidade e verificar que eu sou menor de idade, que não daria certo. Só que não pediram a minha identidade, foi quando percebi que eu não tinha o que fazer. Foi nesse momento que eu  mandei a mensagem dizendo ‘olha a minha localização’ (aqui ela chora). Eu não queria preocupar a minha mãe, pois ela está operada. A minha mãe começou a me ligar, mas eu não atendi as ligações porque fiquei com medo. E a minha mãe ligou para ele (Luiz Durão). Quando ele viu que a minha mãe estava ligando, ele me deu a chave do quarto e mandou eu entrar. Ele entrou no quarto em seguida, dizendo ter falado com a minha mãe que a gente estava em Jacaraípe e que estava parado no trânsito.

 

Ação na suíte

 

Logo em seguida, ele começou a tirar a roupa dele. Primeiro, ele falou para eu pegar o celular, desligar e guardar. E eu só pensei em fazer o que ele queria por medo de acontecer alguma coisa pior. Ele já estava sem roupa e veio em direção a mim. Eu estava guardando meu celular na bolsa, e ele já veio puxando o fecho do meu macacão atrás. Foi a hora que eu não sabia o que fazer e fiquei parada. Ele começou a falar que me achava muito gostosa, que eu era muito bonita.

 

Perguntada se de alguma forma gostou, a adolescente respondeu:   Eu estava com muito medo. Eu estava em pé e ele atrás de mim. Ele abriu meu macacão. Aí, nesse momento, eu só pensava que seu eu fizesse o que ele queria, tudo iria acabar bem. E eu só queria que tudo acabasse. Depois que tudo acabou, ele me chamou para tomar banho.

 

Perguntada que tipo de relação teve, ela respondeu: Ele mandou eu deitar na cama e eu deitei. Ele sabia que eu não queria, porque uma lágrima escorreu do meu olho e eu tentei até disfarçar, enxugando, pois eu estava com muito medo. E eu mordi meu lábio. Nessa hora eu não consegui disfarçar e ele percebeu. Daí ele disse para mim: ‘Calma, vai ser rápido’. Eu não participei do ato, eu só estava ali. Eu só não reagi, porque estava com muito medo de ele me machucar, por causa da fama dele na cidade.

 

Sexo com namorado

 

Eu só pensava que  isso só iria ficar para mim, fiquei com medo das pessoas não acreditarem em mim, assim como a minha mãe não sabe que eu já tive relação sexual com meu ex-namorado, daí eu não teria coragem de contar para minha mãe. Ele (Luiz Durão) chegou a penetrar seu pênis em mim. Quando ele percebeu que de fato eu não estava querendo aquilo, o ato encerrou. Ele também fez carinho em meus seios, mas ao perceber que eu também não queria aquilo, ele parou.

 

Polícia

 

Após o ato, ele não falou mais nada. Apenas me chamou para tomar banho com ele e eu fui. Só que eu tomei um banho muito rápido. Depois do banho, eu soube que a Lara tinha chamado a polícia e eu fiquei muito desesperada, pois eu não queria que essas coisas acontecessem. Eu estava com muito medo. Por isso eu tinha pedido para a Lara não chamar a polícia, já que eu estava com medo.

 

Eu me senti muito mal após o ato sexual, porque eu não queria que isso tivesse acontecido. Só queria que tudo tivesse acabado. Não sei dizer se ele entendeu que eu não queria ter relação, porque eu não consegui ter reação. Então, talvez, para ele, ele tenha achado que eu queria. Ele não usou preservativo no ato sexual e nem usou o vaso sanitário. Usou o banheiro apenas para tomar banho.

 

Indagada se Luiz Durão em algum momento usou de força ou ameaça para fazer o que ele queria, a adolescente responde: Não, mas eu tive medo por causa da fama dele...Eu não estou mentido, mas, talvez, para a família dele, eu esteja mentindo. Ele também não ofereceu nada para o ato sexual. O único presente que ganhei dele foi uma ajuda para a minha festa de 15 anos, no valor de R$ 500,00, pago ao DJ da festa. Foi o único presente que ganhei dele. A nossa família é muito próxima.