Absolvido pela Justiça da acusação de estuprar uma adolescente de 17 anos, numa das suítes do Status Motel, na Serra, no dia 4 de janeiro de 2019, o ex-deputado estadual e empresário Luiz Cândido Durão (PDT) concedeu, pela primeira vez, uma entrevista. Em conversa exclusiva com o site Blog do Elimar Côrtes, na manhã desta quinta-feira (17/10), ele falou dos 44 dias em que ficou preso “injustamente”, disse que, por conta de sua fé em Deus, sempre acreditou que seria absolvido, lamentou o fato da Polícia Civil ter feito um indiciamento sem considerar a palavra da própria suposta vítima – que alegou que o ex-parlamentar jamais  a forçou a praticar o ato sexual e nem usou de violência – e afirmou que o deputado Marcelo Santos (PDT) deixou de falar a verdade quando atribuiu a ele (Luiz Durão), por conta do processo do suposto estupro, a desistência de concorrer a uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

A sentença que absolveu Luiz Durão é da juíza Letícia Maia Saúde, da 2ª Vara Criminal da Serra. Na sentença, a magistrada afirma não ter encontrado nos autos provas que pudessem condenar o ex-parlamentar, que na atual legislatura é o primeiro suplente de deputado estadual pelo PDT.

A suposta vítima já havia “praticamente inocentado” Luiz Durão durante o flagrante – forjado por um casal amigo de moça –, em depoimento ao então chefe da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA),  delegado Lorenzo Pazolini, no dia 4 de janeiro de 2019. Hoje, Pazolini é deputado estadual. Ele foi eleito em outubro de 2018.

De acordo com Laudo de Conjunção Carnal produzido pelo Departamento Médico Legal (DML), para exames de Coito Anal e Lesões Corporais, confirmou a adolescente não sofreu violência. Mesmo assim, Luiz Durão foi indiciado pela Polícia Civil e denunciado pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo. No entanto, para o entendimento da Justiça, o ato sexual entre a jovem e o ex-deputado Luiz Durão teria sido consentido pela moça.

Abaixo, a íntegra da entrevista de Luiz Durão.

Absolvição:

Graças a Deus, que iluminou a decisão da Justiça, eu sinto agora um grande alívio. A pior coisa é a gente pagar por aquilo que não fez, embora eu sempre mantivesse a consciência tranquila, mesmo durante os 44 fias em que fiquei preso.

Os dias na prisão:

Foram os piores dias de minha vida. Em todo minha carreira política, nunca respondi a processos. Fui presidente da Assembleia Legislativa e deixei a direção sem qualquer problema. Entreguei o caso da acusação de estupro nas mãos de Deus. Ele sabe das coisas.

Precipitação: Sou suspeito em falar que a Polícia Civil foi precipitada. Senti que o delegado (Lorenzo Pazolini) queria me culpar, mesmo com a moça afirmando, em depoimento na DPCA, que eu não a forcei a nada. Mesmo com o laudo dos exames do DML ter concluído que não houve violência, eu fui indiciado e denunciado. Tudo que a moça disse no Inquérito Policial, ela confirmou em Juízo. E eu fui inocentado.  Isso é que importa agora.

Apoio da família: A minha família e meus amigos sempre me deram apoio. Quem me conhece, sabe que não tenho  índole  de criminoso. Sou casado com a mesma esposa há quase 50 anos. Minhas duas filhas e meu filho e minha esposa sabem do meu caráter. Tenho 72 anos de idade e não seria agora que eu iria virar criminoso.

Família da adolescente: A mãe dessa moça e demais membros da família dela, sempre que precisavam, foram ajudadas por mim. Eles me tinham como amigos e vice-versa. A mim, diretamente, eles nunca me chantagearam. Ocorreu apenas que, certa vez, a mãe da adolescente me pediu dinheiro para bancar uma cirurgia que a menina queria fazer nos seios. Queria fazer uma plástica nos seios. Eu não dei, alegando que, se eu desse dinheiro para a filha dela, outras cerca de 50 mulheres iriam me fazer o mesmo pedido. Quando um político faz um favor para alguém, sobretudo no interior, outras pessoas ficam sabendo e vêm pedir também. Mesmo diante dessa minha recusa, continuamos  amigos. Tanto que, quando a moça fez 15 anos, a mãe me pediu e eu dei dinheiro para pagamento do som da festa. Isso está nos autos. Por isso, não creio em chantagem. Nos autos, que estão em segredo de Justiça, a adolescente repetiu o que disse à Polícia Civil, de que eu não a forcei a nada. Pergunto: quando um homem quer estuprar uma pessoa, ele vai a uma motel?

Cilada de políticos: Não acredito que o que ocorreu tenha sido cilada de políticos e muito menos de meu partido, o PDT, do qual devo ser o filiado mais antigo. Fui, sim, alvo de uma mentira do deputado Marcelo Santos. Ao desistir de concorrer a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas, o Marcelo alegou que preferia permanecer na Assembleia Legislativa para que eu, por conta da acusação injusta de estupro, não assumisse a vaga dele como primeiro suplente. Na verdade, Marcel Santos desistiu de ir para o Tribunal de Contas por causa de um procedimento que ele responde pela acusação de rachid (esquema criminoso em que parlamentares ficam com parte dos salários de seus assessores). Ele poderia ter sido mais honesto e revelado à sociedade o verdadeiro motivo de sua desistência ao cargo de conselheiro. Marcelo Santos deveria ter falado a verdade ou ficado quieto. Por isso, em meio a tantas armações, preferi entregar tudo nas mãos de Deus. Marcelo Santos e condenou antes que a Justiça me absolvesse.

Reparação Judicial: A maior reparação quem pode fazer é Deus. Não penso em entrar na Justiça com processo em desfavor das pessoas que me acusaram sem qualquer prova, embora elas mereçam ser processadas. Parte da imprensa me acusou de ser estuprador. Mas Deus iluminou a juíza, que reconheceu que não há provas nos autos contra a minha pessoa. Foram dias e noites de angústia para mim e minha família. Foram vários momentos de orações.