Para evitar o colapso na rede hospitalar por conta do avanço da covid-19, o governo do Estado anuncia com frequência a expansão de leitos de UTI. Mas essa abertura de leitos de terapia intensiva não é um processo simples de ser realizado, especialmente durante uma pandemia marcada por curva de crescimento acelerada.

O processo exige a aquisição de muitos aparelhos, alguns deles complexos, além de recursos humanos, com atuação de equipe formada por vários profissionais especializados na área (veja abaixo a lista completa).

Na última segunda-feira (26), a Secretaria de Estado da Saúde anunciou a abertura de mais 150 leitos de UTI.

“Neste final de semana, o governador Renato Casagrande acompanhou o recebimento de 230 novos ventiladores, que serão utilizados para a abertura de 150 leitos de UTI na rede estatal. São unidades permanentes, que vão continuar mesmo após a pandemia. Aproximadamente 30 ventiladores são para reserva e os demais serão utilizados em outros tipos de leito”, informou o secretário estadual de saúde, Nésio Fernandes.

Para cada leito de UTI aberto, são necessários pelo menos 11 profissionais trabalhando

Uma conta que chama a atenção. A lista de profissionais empenhados para o trabalho nos leitos de terapia intensiva é extensa, e vai do médico intensivista ao assistente social.

No Estado, cada médico intensivista, por exemplo, acompanha em média 10 pacientes. De acordo com o painel de ocupação de leitos hospitalares da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), a rede pública de Saúde do Estado conta hoje com 2.143 leitos para tratamento exclusivo da doença.

Desses mais de 2 mil leitos disponibilizados em todo o Espírito Santo, 1.067 são de UTI. Para que todos funcionem corretamente, são necessários 11.737 profissionais como estes listados abaixo:

– Médico;

– Médico intensivista;

– Fisioterapeuta;

– Enfermeiro;

– Técnico de enfermagem;

– Fonoaudiólogo;

– Administrativo;

– Assistente social;

– Farmacêutico bioquímico;

– Nutricionista;

– Terapeuta ocupacional.

Além de recursos humanos, UTIs dependem de 43 equipamentos para funcionarem

A chegada dos novos ventiladores, segundo o secretário Nésio Fernandes, possibilitou a abertura de novos leitos de terapia intensiva no Estado. No entanto, a lista de equipamentos necessários é extensa.

A Sesa informou quais são os aparelhos necessários para abertura de um leito de UTI. Veja na lista abaixo:

– Aparelho de Bipap/Cpap (com monitor);

– Aparelho de cuffômetro;

– Aparelho de desfibrilação com cardioversão;

– Aparelho para glicemia capilar;

– Aspirador cirúrgico portátil 3L;

– Biombo;

– Bomba de infusão;

– Cadeira de banho;

– Cadeira de banho para obeso;

– Cadeira de rodas adulto e adulto obeso;

– Cama fawler elétrica e cama fawler elétrica obeso;

– Carro curativo;

– Carro de emergência completo com tábua de PCR;

– Central de monitorização para 10 leitos;

– Cilindro de oxigênio para transporte.

– Eletrocardiografo portáril;

– Elevador de paciente móvel;

– Esfiginomanômetro adulto e adulto obeso;

– Estetoscópio;

– Foco auxiliar de painel;

– Geladeira com controle de temperatura interna;

– Hamper ou conternner roupa suja;

– Lanterna clínica;

– Lixeira de 10L e lixeira de 50L com pedal;

– Maca de transporte com elevação;

– Maleta de transporte para material médico;

– Marca-passo cardíaco externo com gerador;

– Máscara facial venturi com diferentes concentrações;

– Monitor multiparamétrico básico;

– Monitores multiparâmetros básico pré congigurado e modular;

– Negatoscópio 02 corpos;

– Oftalmoscópio;

– Otoscópio;

– Oxímetro de pulso portátil;

– Poltrona reclinável;

– Raio-X portátil;

– Termômetro;

– Ventilador portátil para transporte;

– Ventilador micro processado;

– Ventilômetro;

– Cabo de laringoscópio adulto com lâminas curvas e reta completo (conjunto);

– Mesinhas de cabeceira;

– Mesa mayo.

Investimento diário de mais de 2 mil reais

Diante da necessidade de um grande número de equipamentos e profissionais, o custo da abertura de um leito também é alto. Segundo a Sesa, a diária de um leito de UTI exclusivos para tratamento de pacientes com o novo Coronavírus custa R$ 2.100. Já para leitos de enfermarias, o custo diário é de R$ 715.

Os pacientes com quadros mais graves da doença, são tratados nas unidades de terapia intensiva. Atualmente, cerca de 86% desses leitos estão ocupados. Na prática, isso significa que dos 1.076 leitos de UTI disponibilizados pelo Estado, 919 estão ocupados.

 

Em uma conta rápida, é possível estimar que cada dia de internação desses 924 pacientes em UTIs custa, para o Estado, aproximadamente 2 milhões de reais

A maior taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva, 88%, é a da região Metropolitana. Dos 656 leitos disponíveis, 578 estão ocupados.

Polêmica da abertura de leitos

Diante da abertura de novos leitos, o Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) afirmou, em entrevista exclusiva ao Folha Vitória, que irá acionar o Ministério Público do Espírito Santo. Segundo o CRM, os profissionais têm feito denúncias relacionadas à sobrecarga de trabalho nas unidades de tratamento intensivo (UTIs) nas redes pública e privada.

Para o presidente da entidade, Fabrício Gaburro, a portaria da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), publicada no dia 29 de março e que redimensiona o número de profissionais responsáveis por leitos de UTI, está provocando desgaste na categoria. Pela portaria, o médico deverá cuidar de até 12 e não 10 pacientes. Podendo chegar a 13 assistidos.

Na ocasião, o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, disse que foi surpreendido por uma mudança de postura da entidade no que se refere ao número de pacientes atendidos por médicos em UTIs.

Ele afirmou que a portaria publicada que redimensionou o atendimento de 10 para 12 pacientes e, em casos excepcionais, se o responsável técnico aceitar, 13 pacientes, foi uma pactuação realizada junto ao Ministério Público Estadual e o próprio CRM.