Em 2023, plataformas de pirataria na internet tiveram quase 230 bilhões de visitas ao redor do mundo. E, entre programas de TV, os animes foram os mais buscados de forma ilegal: 8 dos 10 títulos mais pirateados no ano passado são desenhos japoneses.

Veja, abaixo, a lista dos programas mais pirateados da TV em 2023 -- os títulos grifados são animes:

  1. "The Last of Us" - Temporada 1
  2. "Jujutsu Kaisen" - Temporada 2
  3. "Vinland Saga" - Temporada 2
  4. "The Eminence in Shadow" - Temporada 1
  5. "Minha Academia de Heróis" - Temporada 6
  6. "Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation" - Temporada 2
  7. "Mashle: Magia e Músculos" - Temporada 1
  8. "The Eminence in Shadow" - Temporada 2
  9. "Frieren e a Jornada para o Além" - Temporada 1
  10. "Silo" - Temporada 1

Os números são do mais recente relatório sobre pirataria feito pela empresa de análise de dados Muso. O documento é usado por empresas detentoras de direitos autorais, escritórios de propriedade intelectual e governos, para acompanhar e desenvolver estratégias contra a pirataria digital.

Puxada por um aumento da popularidade dos animes, o consumo ilegal de programas de TV na internet cresceu 4,2% em 2023, na comparação com o ano anterior. O Brasil ocupa a 13ª posição entre os países com mais visitas a plataformas piratas, representando 2,1% do tráfego mundial.

Em abril deste ano, uma operação das polícias civis de Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo suspendeu sites suspeitos e apreendeu equipamentos ligados à pirataria de desenhos japoneses e coreanos. A pena para quem pratica o crime no país é de dois a quatro anos de reclusão, além de multa.

Problema histórico

Embora tenha contribuído para espalhar os desenhos japoneses ao redor do mundo, a pirataria é considerada um problema histórico para essa indústria. Os índices dispararam durante a pandemia de Covid, à medida que o formato se tornou um dos preferidos da quarentena.

“Com a pandemia, houve uma aceleração no número de consumidores e fãs, que nunca tínhamos visto. Alguns títulos simplesmente entraram no ‘zeitgeist’ cultural”, explica Gita Rebbapragada, diretora de operações da Crunchyroll, principal plataforma on-line para consumo de animes no mundo

No Japão, a Associação de Distribuição de Conteúdo no Exterior diz que o consumo ilegal do entretenimento produzido no país -- incluindo animes, mangás e videogames -- causou um prejuízo de US$ 15 bilhões em 2021. O valor é cinco vezes maior do que o registrado em 2019.

Maiores interessadas em combater o problema, as plataformas de streaming do segmento estão otimizando operações para tentar atrair assinantes pagos, principalmente fora do Japão, onde a pirataria é maior.

No Brasil, a Crunchyroll montou uma equipe em São Paulo, tem investido na tradução de títulos para o português e ampliado a participação em eventos de fãs, como a CCXP, que acontece na capital paulista. “Há muita celebração da cultura japonesa no Brasil, por isso é tão importante para nós nos envolvermos em projetos no país”, explica a diretora de operações.

Quando surgiu, em 2006, a plataforma patinava nos limites da legalidade com conteúdos gerados por usuários, que frequentemente enfrentavam reivindicações de direitos autorais. Só em 2009 a Crunchyroll lançou seu plano de assinatura licenciada. Em 2020, a empresa foi comprada pela Sony por US$ 1,17 bilhão.

"Acho que a pandemia acelerou a popularidade do formato, e então a onipresença do streaming impulsionou a adoção dos animes, principalmente na geração Z [dos nascidos a partir da segunda metade dos anos 1990], que passou a buscar histórias diferentes, de lugares diferentes, algo como portais para outros mundos", avalia Gita Rebbapragada.

Mesmo com a pirataria, a indústria de animes alcançou um valor de mercado de US$ 25,8 bilhões em 2022. Segundo um relatório da consultoria DataHorizzon, a expectativa é que esse número chegue a US$ 62,7 bilhões até 2032.