No "Clube da Luta", clássico do cinema de 1999 estrelado por Brad Pitt e Edward Norton, a primeira regra é bem clara: "Você não fala sobre o clube da luta". Em Belo Horizonte, um "clube" semelhante surgiu no bairro Paulo VI, na região Nordeste da capital, mas, diferentemente do filme, esta regra não existe, já que os vídeos das lutas são, inclusive, divulgados nas redes sociais e vem causando repercussão. 

Na verdade, o chamado "UFC Beira Linha", que leva o nome da comunidade onde as lutas acontecem, se difere em muitos pontos do filme norte-americano. O evento não foi criado para promover a violência gratuita, pelo contrário, já que proíbe a participações de brigões ou oponentes com rixas anteriores, visando apenas oferecer aos moradores uma opção de lazer. Além disso, as lutas também buscam apresentar aos jovens da região o boxe como uma boa opção de prática esportiva e saudável.

O idealizador das lutas Wemerson Souza, jovem de 21 anos que trabalha como gari, conta que nunca praticou nenhuma arte marcial, apesar de já ter sonhado com isso um tempo atrás. "A ideia surgiu conversando com amigos aqui na rua do bairro onde nasci e fui criado. A partir daí criamos a página e começamos com as lutas como entretenimento mesmo", conta.

Assista alguns trechos das lutas:

Segundo ele, até hoje só um evento aconteceu, mas, em breve, será promovida a segunda edição. "A gente deixa bem claro que é sem violência, sem rixa. Se eu vejo que alguém está querendo brigar para machucar, ou porque já tem problema com o outro, eu não deixo entrar. É tudo pelo esporte mesmo, até para tirar os jovens e adolescentes das ruas, das drogas", continua o rapaz.

Nos dias de evento, qualquer pessoa pode se candidatar para lutar. A escolha do oponente leva em conta o tamanho e o porte físico da pessoa, "A gente tem uma pessoa profissional lá, um professor de boxe, que explica onde pode e onde não pode bater. Eles usam os equipamentos de segurança, tudo certinho para não ter problema. Os golpes são apenas acima da cintura, e não pode bater na nuca", explica o organizador do evento.

O próximo evento contará não somente com o ringue improvisado para as lutas, mas, também, com diversão e cortes de cabelo para as crianças da região. "A ideia é fazer também uma 'Rua de Lazer', até para atender um público maior. Quem quiser brincar de lutar, beleza, vai ter luta. Mas também vai ter brincadeira pras crianças, algodão doce. Meus amigos cabeleireiros vão oferecer corte de cabelo pra eles de graça", concluiu o jovem.

 

A data da segunda edição do "UFC Beira Linha" ainda não foi definida. Acompanhe pelo Instagram do evento.

Primeiro dia de lutas foi interrompido pela PM

A primeira e única série de lutas já promovida aconteceu no final de março, e foi acompanhada por cerca de 300 pessoas da comunidade. Porém, por conta da aglomeração, a Polícia Militar (PM) acabou sendo acionada até o local e deu um fim à "competição". Procurada, a corporação não conseguiu localizar nenhuma ocorrência registrada no dia.

Segundo o organizador do UFC Beira Linha, apesar do "problema" com a polícia, a comunidade está apoiando as lutas. "Os meninos poderiam estar em outro lugar, fazendo coisa errada, roubando, matando, mas não, estão ali, brincando com os amigos. O que importa é tirar as pessoas de perto dos pontos de droga, da violência", ponderou Wemerson.