"Eu queria ter um parto domiciliar no meu território, na minha casa, mas não foi possível porque as parteiras da minha aldeia estão muito anciãs. Minha saída foi procurar o hospital, onde, depois de dois dias em trabalho de parto, precisei passar por uma cesárea. Bem diferente de tudo que sonhei". Esse é o relato da primeira experiência como mãe de Bárbara Tupiniquim, indígena, liderança da aldeia Pau-Brasil, em Aracruz, no Norte do Espírito Santo.

Bárbara também faz parte da articulação de mulheres indígenas do território no estado. Outras indígenas relatam a mesma situação. Desejam manter a tradição ancestral, de ter filhos pelas mãos de parteiras da aldeia, mas têm enfrentado algumas dificuldades.

"Tem a falta de incentivo, parteiras anciãs não atuam mais, e parteiras mais novas não conseguem atuar pela falta de experiência ou são oprimidas por alguns técnicos da área da saúde. Com a chegada das unidades de saúde, muita coisa melhorou, mas também com muitos profissionais despreparados para lidar com conhecimentos tradicionais, acabam amedrontando as gestantes e as conduzindo aos hospitais", relatou.

Nesta sexta-feira, 19 de abril, o Dia dos Povos Indígenas é visto como uma data de reivindicação de direitos por território e proteção da cultura, e não comemoração.

Assim como Bárbara, a indígena Rosanir Martine da Silva, há poucos meses, teve seu primeiro bebê no hospital público da cidade. Ara Poty, como é chamada na aldeia Piraque-Açu, também em Aracruz, disse que esperava ver o filho nascendo pelas mãos da avó, mas o sonho foi frustrado.

A indígena Rosanir Martine da Silva teve seu primeiro bebê no hospital público no Espírito Santo  — Foto: Reprodução/Documentário Travessia "Minha avó fez muitos partos, já até perdeu as contas. Seria muito importante ela fazer o meu também, mas não está mais preparada para fazer. Está com mais de 85 anos, muito idosa para isso. Fui ao hospital e tive Flora lá. Correu tudo bem", contou Ara Poty.

Segundo o Ministério da Saúde, o estado possui 5.106 indígenas, sendo 2.529 mulheres e 2.577 homens, distribuídos em 14 aldeias dentro do território, todos em Aracruz. Nos últimos três anos, foram mais de 360 partos de indígenas. Neste ano, até 17 de abril, foram 17 partos.