Quase dois meses após a morte de Clarinha, no dia 14 de março, em Vitória, o corpo da paciente não identificada vai ser liberado para velório e enterro, após esgotarem as tentativas de identificação com possíveis familiares. A informação foi confirmada na manhã desta quinta-feira (9), pelo Coronel Jorge Potratz, responsável pelos principais cuidados com a paciente durante os 24 anos em que ela esteve internada.

Doze testes de compatibilidade foram feitos pela Polícia Científica do Estado do Espírito Santo com possíveis familiares nesse período, sendo oito comparações por digitais e quatro exames de DNAs.

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De acordo com o Coronel Potratz, a Polícia Civil já solicitou a decisão judicial que autoriza que o registro do óbito seja feito, e uma funerária vai ser acionada para o velório. Entretanto, o médico aposentado ainda não sabe quando o enterro vai acontecer.

 

"Eu desconheço o passo a passo da Justiça, mas eles estão me orientando sobre essa parte burocrática. Já contatei uma empresa funerária que se propôs ajuda com o velório, mas eles ainda não podem fazer nada, pois dependem da declaração de óbito. Não sei dizer se quando ela vai ser enterrada", disse.

 

Nome da Clarinha no quadro de pacientes da enfermaria do HPM, em Vitória. Ela ficava no apartamento 3, cama 1. Espírito Santo. — Foto: Ricardo Medeiros

O chefe do Departamento Médico Legal (DML), Wanderson Lugão, confirmou que a equipe recebeu o registro civil da Clarinha e fez uma declaração de óbito.

 

"Preenchemos a declaração de óbito com as lacunas já previstas, como, por exemplo, de sobrenome e nome dos pais. O documento vai ser entregue ao Coronel Potratz, que se disponibilizou a ser responsável pela Clarinha. Como o corpo ficou com a gente no DML mais de 15 dias e por ele não ser parente de primeiro grau, ele precisará solicitar a liberação judicialmente, o prazo depende do juiz que receber o pedido", explicou Lugão.

 

O chefe do DML lembrou que, normalmente, o prazo de liberação de um corpo no DML é de 30 dias, mas, como esse era um caso muito específico, ficou estabelecido desde o começo que a liberação precisaria de um período maior. Nesta quinta-feira (9), completam 55 dias da morte de Clarinha.

 

“Esse caso não é comum em nossa rotina. Não me lembro de um outro com nome fictício ou tantas comparações. Geralmente, quando não é um caso de repercussão a nível nacional como esse, e temos um cadáver não identificado, vêm duas ou três famílias em média para exames, e normalmente da Grande Vitória. Infelizmente, não conseguimos identificar uma família compatível, mas que bom que tem gente interessada em dar um encerramento digno para ela", falou.

Se surgirem novos pedidos de exames de compatibilidade, equipe do DML de Vitória vai tentar ajudar.

"Se aparecer um caso no futuro e houver confirmação de compatibilidade ou parentesco, será preciso uma solicitação a um juiz, para a família pegar os restos mortais e sepultar em sua cidade, se essa for a vontade".

 

Corpo congelado no DML

Durante esse período, o corpo de Clarinha ficou refrigerado no DML para manter suas condições até ser liberado para velório e/ou enterro.

"O corpo fica armazenado em uma gaveta única, a uma temperatura muito baixa, de 10 graus negativos, e fica conservado 100%, como se a pessoa tivesse acabado de falecer", disse Lugão.