Leandro Garcia Alfonsi, de 33 anos, e Giovana Lopes, de 23, se conheceram como boa parte dos casais que se formaram durante a quarentena: através das redes sociais.

Enquanto Giovana navegava aleatoriamente atrás de um “carinha que ela tinha ficado semanas atrás numa festa antes da pandemia”, topou com o perfil do Leandro no caminho. Ela diz que não imaginava viver tudo o que viveu até aqui e, principalmente, ter que superar quase 850 quilômetros de distância para manter o relacionamento.

“Aquariana fluída”, como ela mesmo se define, a estudante de psicologia e estagiária do Sistema Único de Saúde (SUS) vive na cidade de Juquiá, no Vale do Ribeira, no interior de São Paulo, e já tinha tido vários “namoricos” antes de conhecer o agrônomo, que vivia, na época, em Florianópolis, em Santa Catarina.

“Achei ele superbonito na foto e resolvi seguir. Quando ele liberou meu acesso, curti várias fotos, dando o sinal de que estava interessada em papear. Mas ele me ignorou solenemente. Alguns dias depois, curti outras fotos e aí ele percebeu e começamos a nos falar todos os dias”, conta a jovem.

“Geralmente, não aceito pessoas estranhas no perfil, mas como ela seguia várias pessoas que eu conhecia lá da República da Unesp em Registro, onde estudei, resolvi aceitar. Quando a gente começou a conversar, foi superintenso. Ela foi fazer um curso de esoterismo e me convidou. Como não podia participar, ela prometeu que logo depois me contaria o que tinha aprendido”, lembra o rapaz.

 

O casal Giovana e Leandro, em Juquiá, no interior de SP.  — Foto: Acervo pessoal
O casal Giovana e Leandro, em Juquiá, no interior de SP. — Foto: Acervo pessoal

“Foi o nosso primeiro papo por videochamada. Terminou o curso, eu liguei pra ele e falamos por seis horas seguidas. Conversamos sobre tudo e sobre várias coisas, mas nenhuma palavra sobre o curso ou esoterismo. Mas algo diferente aconteceu...”, afirma, aos risos, a jovem.

A partir do primeiro papo, se seguiu um mês de muitas conversas entre os dois. Os chats online duravam não menos do que cinco horas, segundo a moça.

 

“Como era abril ou maio, auge do período de medo do coronavírus, quando todo mundo estava trancado em casa, a gente estreitou muito a relação. Em um mês, já sabíamos que estávamos namorando, mesmo sem dizer e se conhecer pessoalmente. Porque o grude era muito forte”, afirma Giovana.

 

“A gente cozinhava juntos pela internet, preparando os mesmos pratos e iniciando juntos. Eu em Floripa, ela em Juquiá. Víamos filmes dando o play ao mesmo tempo para comentar as cenas, fazíamos quase tudo juntos. Até escovar os dentes, cada um na sua casa”, diz Leandro.

“As borboletas no estômago e tudo aquilo que todo mundo fala sobre os casais já estavam presentes entre nós, mesmo com a distância”, lembra o rapaz.

Giovana Lopes e Leandro Garcia: namoro virtual e "distância que fortalece" — Foto: Acervo pessoal
Giovana Lopes e Leandro Garcia: namoro virtual e "distância que fortalece" — Foto: Acervo pessoal

 

1º encontro real

 

Apaixonados virtualmente, o casal queria mais do que nunca materializar esse sentimento e trazê-lo para o mundo real. Mas o vírus letal lá fora, que na ocasião já tinha matado mais de 100 mil pessoas, continuava no caminho.

“Uns quatro meses depois do início da quarentena, minha empresa autorizou fazer home office em São Paulo, onde minha família mora. E decidi que, no caminho, antes de chegar na casa da minha família, iria passar em Juquiá para conhecê-la pessoalmente”, conta.

“A avó dele vivia com a família e tinha quase 90 anos. Nós nos preocupávamos muito com ela. Então, antes desse primeiro encontro, eu me recolhi totalmente em casa uma semana antes, saindo só para situações de urgência. Nem no mercado eu ia”, lembra a estudante.

O encontro foi adiado em uma semana, por causa da morte do avô de Giovana por infarto. O rapaz já estava na casa da família em São Paulo, e a preocupação com o vírus aumentou.

Giovana, então, decidiu transformar uma casa vazia da família na cidade em ponto de encontro dos dois para reduzir ao máximo o contato do casal com outras pessoas e, também, preservar a privacidade de ambos.

“Dirigi até Juquiá superpreocupado com o vírus, em não levar nada pra casa, pra não contaminar ninguém, mas também se ia rolar mesmo entre nós. Porque, por mais que as coisas estivessem boas virtualmente, a química, o encaixe certo do beijo e o toque na pele - que faz a gente arrepiar - ainda era incerto”, relembra Leandro.

“Bastou o primeiro beijo pra gente saber que era tudo real, apesar de ter nascido virtualmente. Foram dois dias isolados, só nós dois, sem tempo de beber água ou fazer as refeições direto. A gente só queria se curtir e se abraçar”, comenta a moça, entusiasmada.

 

O casal Giovana e Leandro, finalmente juntos.  — Foto: Acervo pessoal
O casal Giovana e Leandro, finalmente juntos. — Foto: Acervo pessoal