O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio foi criado em 2003 pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio em parceria com a Organização Mundial de Saúde, com a finalidade de que os países adotem estratégias de enfrentamento ao assunto. E desde 2014, a Associação Brasileira de psiquiatria (ABP) em parceira com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente o Setembro Amarelo.

 

 

O suicídio é um fenômeno presente ao longo de toda a história, em todas as culturas. É um comportamento com determinantes multifatoriais e resultado de uma complexa interação de fatores psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais. O comportamento suicida envolve os pensamentos, os planos e a tentativa de suicídio.

 

 

No mundo, a cada 30/40 segundos uma pessoa suicida e a cada 03 segundos 01 pessoa atenta contra a própria vida. No Brasil, a cada 40 minutos, um brasileiro comete suicídio! O suicídio é uma grande questão de saúde pública em todos os países e precisamos falar a respeito, cada vez mais, o ano todo.

 

 

Conhecer as principais causas, os fatores de Risco e de Proteção, os sinais de alerta e saber lidar com as pessoas que sofrem transtornos psíquicos ajudam a prevenir o problema. Além de promover, com a campanha, a diminuição do estigma, tabu e preconceitos. Torna-se fundamental a conscientização de todos, pois o conhecimento pode contribuir para a desconstrução deste tabu e desse estigma em torno do comportamento suicida. 

 

 

1 – Quais os principais fatores de risco que levam uma pessoa a ter pensamentos suicidas?

 

 

Praticamente todos os suicidas tinham uma doença mental, muitas vezes não diagnosticada, frequentemente não tratada ou não tratada de forma adequada. Portanto, quase 100 % dos casos de suicídio são potencialmente tratáveis e, consequentemente, evitáveis.

 

 

 

Os 2 principais fatores de risco são:

 

 

Tentativa prévia de suicídio - Pacientes que tentaram suicídio previamente têm de 5 a 6 x mais chances de tentar suicídio novamente. Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado previamente. 

 

 

 

• Doença mental - Os transtornos psiquiátricos mais comuns associados ao suicídio são Depressão, Transtorno Bipolar, Transtorno Relacionado a Drogas (lícitas e ilícitas), Transtornos de Personalidade e Esquizofrenia. Pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado; ou seja, quanto mais diagnósticos, maior o risco. 

 

 

 

Outros fatores de risco incluem: 

 

 

 

• Desesperança, desespero, desamparo e impulsividade - Esses Sentimentos são fortemente associados ao suicídio. É preciso estar atento, principalmente entre jovens e adolescentes. 

 

 

• Idade - O suicídio em jovens aumentou em todo o mundo nas últimas décadas, representando, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a 2ª principal causa de morte de pessoas entre 15 e 29 anos. No Brasil, de 2000 a 2015, os casos aumentaram 65% entre pessoas com idade de 10 a 14 anos e 45% na faixa de 15 a 19 anos. 

 

 

 

  - O suicídio também é elevado entre os idosos, devido a fatores como: perda de parentes, sobretudo do cônjuge; solidão; existência de enfermidades degenerativas e dolorosas; sensação de estar dando muito trabalho à família e ser um peso morto para os outros. As taxas de suicídio entre idosos são de 2 a 4 vezes maiores do que na população geral.

 

 

 

• Gênero - Os óbitos por suicídio são em torno de 03 x maiores entre os homens do que entre mulheres. Inversamente, as tentativas de suicídio são, em média, 03 x mais frequentes entre as mulheres. 

 

 

 

• Doenças clínicas crônicas, não psiquiátricas, como câncer e HIV; 

 

 

 

• História familiar e genética - O risco de suicídio aumenta entre aqueles com história familiar de suicídio ou de tentativa de suicídio. Estima-se que pessoas com pais que se suicidaram têm 04 x mais chances de desenvolver comportamento suicida. 

 

 

 

• Fatores sociais - Aumentam risco de suicídio os Desempregados com problemas financeiros; moradores de ruas; solteiros, divorciados ou viúvos; e os que vivem em isolamento social.

 

 

 

 

2 – Existem fatores de proteção ao comportamento suicida?

 

 

 

Sim, existem. Os Fatores de proteção são características pessoais (como autoestima elevada) ou do meio em que se está inserido (como a relação com amigos e/ou familiares), que nos fortalecem e nos dão suporte para lidarmos com situações ou problemas. Estes fatores não atuam isoladamente, mas interagem para auxiliar na alteração do comportamento, desenvolvendo uma experiência de proteção às situações de risco e auxiliando na solução ou atenuação dos problemas.

 

 

 

Incluem: Ausência de doença mental; Autoestima elevada; Capacidade de Resolução de Problemas; Resiliência; Bom Suporte Familiar; Senso de Responsabilidade com a Família; Laços Sociais bem estabelecidos; Estar empregado num ambiente saudável; Relação Terapêutica Positiva; Religiosidade com prática de oração, aumento e alimento da fé; ter crianças em casa; Hábitos Saudáveis (Atividade física, prática de uma higiene do sono, boa alimentação em qualidade); e Ter Acesso a Serviços de Saúde Mental.

 

 

 

Estudos demonstraram que quem tinha frequência religiosa semanal morreu sete vezes menos por suicídio (seguiu 89.000 mulheres por 14 anos), que o suporte social diminui em 30% as tentativas de suicídio, que quem era casado morreu 5 vezes menos de suicídio e que ter filhos diminui o risco de morte por suicídio.

 

 

 

 

3 – É possível perceber sinais de que um amigo(a) ou familiar está com tendência ao suicídio?

 

 

 

Alguns comportamentos podem indicar que uma possível tentativa de suicídio pode acontecer. São eles: Dizer frequentemente que vai se matar; Fazer um testamento; Começar a tratar de assuntos pendentes de repente; Ir visitar amigos ou familiares que já não via há muito tempo; Comprar uma arma, mangueira, corda ou comprimidos, por exemplo; Escrever uma nota de despedida ou de suicídio; Ficar muito triste ou muito contente de repente; Perda de interesse em atividades que gostava. Outros sintomas que também podem indicar que o indivíduo tenciona se suicidar são os relacionados aos transtornado psiquiátricos existentes.

 

 

 

4 – De que forma podemos ajudar alguém que está propenso ao suicídio?

 

 

 

Dentre os fatores que impedem a prevenção do suicídio, o estigma e o tabu são os mais importantes e que resultam em um processo que as pessoas são levadas a se sentirem envergonhadas, excluídas e discriminadas.

 

 

 

 

A melhor forma de ajudar é com EMPATIA E AMOR. Com acolhimento, carinho, paciência na escuta, manejo, encaminhamento e tratamento adequados. Não julgue ou dê conselhos.

 

 

 

 

O comportamento suicida está associado a algum transtorno mental.  Portanto, o tratamento adequado minimiza riscos de suicídio. É muito importante ressaltar a importância da psicoterapia nesse tratamento e na prevenção do suicídio. Psicólogos são fundamentais e altamente necessários nesse processo.  

 

 

 

Além disso, todos que falam sobre suicídio têm riscos em potencial e merecem atenção especial. São fundamentais a escuta e o bom julgamento. Não é verdade que "quem fala que vai se matar, não se mata". A abordagem verbal pode ser tão ou mais importante que a medicação, pois faz com que a pessoa se sinta aliviado, acolhido e valorizado. A família, portanto, tem papel fundamental nesse processo, visto que é, na maioria das vezes, o primeiro ponto de apoio ao suicida. Acolher, ser carinhoso, amoroso, saber ouvir e estar sempre próximos são muito importantes para diminuir esse comportamento e sofrimento. 

 

 

 

Já é comprovado por inúmeros estudos e artigos, que falar sobre suicídio não estimula a pessoa a se suicidar. Pelo contrário, ela se sente aliviada, confortada, com redução do sofrimento e diminuição dos pensamentos suicidas. Falar sempre é a melhor solução.

 

 

 

 

5 – Por que é importante sabermos sobre suicídio?

 

 

• É responsável por aprox. 10 a 15 mortes a cada 100 mil pessoas por ano;

 

 

• Para cada morte por suicídio existe 40 tentativas;

 

 

 

• Aumentou 60% nos últimos 45 anos;

 

 

• Cada suicídio gera um sério impacto na vida de pelo menos outras seis pessoas;

 

 

• A idade média das pessoas que cometem suicídio está cada vez menor;

 

 

• A cada ano, o número de suicídios é maior que soma de todas as mortes causadas por homicídios, acidentes de transporte, guerras e conflitos civis!

 

 

 

 

 

 


 Pedro paulo 2


Thiago Tahan é médico psiquiatra, com Título de Especialista emitido pela Associação Brasileira de Psiquiatria