Caminhões viajam mais de 500km pela rodovia BR 116, entre a região de Brumado, na Bahia, e o porto de Aratu, próximo a Salvador, para conseguir exportar o minério produzido na região, porque o monopólio exercido pela VLI, concessionária da Ferrovia Centro-Atlântica, torna o valor do frete proibitivo para as mineradoras. 


Os dados são da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e foram publicados pelo portal Correio 24 horas, da Bahia. Para o presidente da Mineração Caraíba, Manoel Valério, a revitalização da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) é fundamental para reduzir os custos de transporte da empresa. 


“Antigamente, o nosso concentrado de cobre era escoado pela ferrovia. Mas o custo ficou simplesmente inviável em relação ao transporte rodoviário. O que é um contrassenso, já que a ferrovia poderia transportar não só produtos de mineradoras da região, como Ferbasa, fábricas de cimento, mas também produtos agropecuários e combustíveis”, diz Valério. 


POTENCIAL


Conhecida como a Capital do Minério na Bahia, Brumado, na região sudoeste do estado, tem a terceira maior mina de magnesita a céu aberto do mundo e a segunda maior mina de talco do Brasil. É também uma importante produtora de granito. Em comum, as três substâncias minerais são medidas na ordem das milhares de toneladas ao ano. Só em 2020, a produção mineral comercializada no município passou de 1,2 milhões de toneladas.   


Próxima a Brumado está Maracás, onde fica a única mina de vanádio da América Latina. A produção do mineral no ano passado ficou acima das 400 milhões de toneladas. Num cenário ideal, os minérios destes municípios estariam sendo transportados pela Ferrovia Centro-Atlântica, que passa por ambos e vai até o porto de Aratu, próximo a Salvador.  


Mas as mineradoras baianas situadas próximas à ferrovia alegam que o frete cobrado pela concessionária VLI é proibitivo e têm preferido escoar suas cargas de caminhão. É a mesma situação que ocorre no norte do estado, com as produções de cobre, em Juazeiro e Jaguarari, e cimento em Campo Formoso, dentre outras. 


Segundo levantamento feito pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) na base de dados de da Agência Nacional de Mineração, mais de 6 milhões de toneladas de minérios foram produzidos a menos de 50km da ferrovia em 2020. Gnaisse (gesso), calcário (cimento), magnesita (refratários), quartzo e granito (construção civil) são os cinco maiores volumes de carga, numa lista que também conta com cromo e vanádio (ligas de aço) e cobre (fios e cabos).  


RENOVAÇÃO


Administrada pela VLI desde 1996, a FCA está no radar dos baianos no início de fevereiro deste ano por conta de uma consulta pública realizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), sobre a renovação da concessão por mais 30 anos. Uma das vozes dissonantes foi a do presidente da CBPM. Para Antonio Carlos Tramm, a concessionária não trouxe benefícios para a Bahia e a concessão não pode ser aprovada sem que haja garantias de investimento e reativação da malha no estado. 


Desde então, se uniram à CBPM as federações baianas do Comércio (Fecomércio), Indústrias (FIEB) e da Agricultura e Pecuária (FAEB). As entidades enviaram ofícios à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em que defendem ser necessária uma discussão mais aprofundada sobre a situação atual da linha férrea, considerando não apenas a demanda atual de carga ferroviária como o seu potencial futuro. 


Duas situações urgem como prioritárias: uma é a construção da variante de 22 quilômetros ligando o Polo Industrial de Camaçari ao porto de Aratu; a outra é o contorno das cidades de Cachoeira e São Felix, com 17 quilômetros de extensão, para evitar o tráfego pela Ponte D. Pedro II, que há 150 anos liga a área central das duas cidades. 


Por outro lado, a VLI alega que fará investimentos significativos na malha baiana durante a vigência da outorga, mas não detalhou quando nem como serão feitos os investimentos. O que foi proposto pela empresa à ANTT é que o valor oriundo da outorga antecipada seja usado na construção de trechos da EF-118, entre o Rio de Janeiro e Vitória.

VITÓRIA A MINAS

A VLI Multimodal S.A. (antigo acrônimo para Valor da Logística Integrada) é uma empresa de logística do Brasil que controla as concessionárias de transporte ferroviário de cargas Ferrovia Centro-Atlântica S.A. (FCA S.A.) e Ferrovia Norte-Sul S.A. (FNS S.A.), no trecho entre Açailândia e Palmas, totalizando 7.940 quilômetros de extensão.[5][6] Opera também nas ferrovias sob concessão da Vale: Estrada de Ferro Carajás e Estrada de Ferro Vitória a Minas.

História


Criada a partir da diretoria de logística de cargas gerais da Vale, a VLI incorporou a ferrovia FCA S.A. adquirida pela Vale na privatização da RFFSA, mais a FNS S.A., adquirida pela Vale em 2007[8] pelo valor de R$ 1,478 bilhão, além de terminais de transbordo de grãos e terminais portuários no Maranhão, São Paulo, Espírito Santo e Sergipe[.

Em abril 2014 a Vale concluiu a venda de 20% e 15,9% respectivamente para Mitsui e Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). Em agosto foi a vez da Brookfield Asset Management arrematar 26,5% da empresa tirando a Vale do controle da mesma . Deste ponto em diante a empresa passou a criar cultura própria e seu próprio sistema de governança.

PORTO DE TUBARÃO

A VLI opera terminais de transbordo de grãos, como o Terminal Integrador de Araguari (TIA), e o Terminal Integrador de Palmeirante (TIPA). Opera também terminais no Porto do Itaqui, em São Luís; no Porto de Tubarão, em Vitória; no Porto da Barra dos Coqueiros, Terminal Marítimo Inácio Barbosa; e o Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita (TIPLAM), em Santos.