O presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta quarta-feira, 8, em pronunciamento em rádio e TV, o uso da cloroquina no combate ao novo coronavírus, destacando resultados positivos em pacientes diagnosticados com a covid-19, embora não haja estudos conclusivos sobre a eficácia do medicamento. Na declaração em cadeia nacional – a quinta desde o início da crise envolvendo a pandemia –, o presidente também voltou a criticar medidas de isolamento social, responsabilizando governadores e prefeitos pelas restrições, mas adotou um tom mais ameno ao dizer que “respeita a autonomia” dos chefes dos Executivos locais.

“Após ouvir médicos, pesquisadores e chefes de Estado de outros países, passei a divulgar, nos últimos 40 dias, a possibilidade de tratamento da doença desde sua fase inicial”, afirmou o presidente, citando o caso do médico Roberto Kalil Filho, diretor-geral do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, que se recuperou após ter sido contaminado com o coronavírus. Ele admitiu nesta quarta-feira, 8, ter tomado a cloroquina e disse que recomendaria a seus pacientes. “Essa decisão poderá entrar para a história como tendo salvo milhares de vidas no Brasil. Nossos parabéns ao Dr. Kalil.”

No pronunciamento anterior ao desta quarta, Bolsonaro havia admitido a ausência de vacina ou remédio com eficácia comprovada contra o novo coronavírus.“O vírus é uma realidade, ainda não existe vacina contra ele ou remédio com a eficiência cientificamente comprovada. Apesar da hidroxicloroquina parecer bastante eficaz. O coronavírus veio e, um dia, irá embora”, afirmou. 

Mais cedo, em entrevista ao Datena, o presidente parabenizou Mandetta, por ter se convencido do uso da cloroquina, e disse que indicaria o medicamento até para sua mãe, hoje com 93 anos. “Se um irmão meu ligar, imediatamente, vai levar no médico e começar o tratamento (com cloroquina). Ela não pode esperar um dia a mais, caso contrário vem a óbito.”

Na segunda, 7, Mandetta afirmou ter sido pressionado por dois médicos a editar um protocolo para administração do remédio em pacientes da covid-19, após reunião com Bolsonaro. Ele se recusou alegando ausência de embasamento científico.

Na fala desta quarta, Bolsonaro disse que seus ministros “devem estar sintonizados com ele”.“Tenho a responsabilidade de decidir sobre as questões do País de forma ampla, usando a equipe de ministros que escolhi para conduzir os destinos da nação.”, afirmou o presidente.

O uso amplo da cloroquina também virou uma arma política na batalha entre Bolsonaro e os governadores. Em recente postagem no Twitter, o presidente desafiou o chefe do Comitê contra a covid-19 em São Paulo, Davi Uip, e também o cardiologista Roberto Kalil – que contraíram coronavírus – a dizer se haviam usado cloroquina no tratamento contra a doença.

O governador de São Paulo, João Doria, reagiu. “Peço respeito à medicina e aos médicos. Nossa guerra é contra o coronavírus. O ministro Mandetta vem cumprindo bem sua função como ministro da Saúde. Não faz sentido atacar o médico David Uip, pelo dito gabinete do ódio. E nem o doutor Roberto Kalil. Por favor, respeitem os médicos e a medicina, os enfermeiros, aqueles que estão doando seu conhecimento e dedicação para ajudar as pessoas a manterem sua saúde”, disse Doria. “O governador não precisa querer politizar assunto da cloroquina”, rebateu Mandetta.

Segundo o presidente, o objetivo do governo sempre foi “salvar vidas”. “Ser Presidente da República é olhar o todo, e não apenas as partes”, afirmou. Ele também listou medidas adotadas até agora para ajudar as pessoas afetadas pela crise envolvendo a pandemia, como o auxílio de R$ 600 para trabalhadores informais e a isenção do pagamento da conta de energia elétrica aos beneficiários da tarifa social. “Tenho certeza de que a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar. Esta sempre foi minha orientação a todos os ministros, observadas as normas do Ministério da Saúde.”

Nos bastidores, os auxiliares do presidente afirmavam que ele tinha razão nos seus argumentos, mas ao adotar a virulência e o confronto deixava de ser ouvido.

Na fala desta quarta, o presidente também se solidariza com as famílias das vítimas da covid-19.  “Gostaria, antes de mais nada, de me solidarizar com as famílias que perderam seus entes queridos nesta guerra que estamos enfrentando.”